Tudo é Fluminense. Neste momento, todos estão celebrando a homenagem a Cartola feita na terceira camisa. A repercussão é nacional. O Fluminense está banhado de verde e rosa. Enquanto isso, os tricolores torcem para que este outubro seja o mais rápido da história. Lá fora, longe do nosso amor e dos sonhos, o mundo sangra sem parar.
No sábado chuvoso e triste, a amiga TV apresenta “Coração do samba”, documentário de 2011 (72 minutos) dirigido por Theresa Jessouroun, centrado na bateria da Mangueira e tendo como principal narrador Elmo dos Santos, filho do fundador da bateria da escola, Tinguinha, e também presidente da Mangueira em 1995 – ano imortal para os tricolores.
Mesclando passado e presente, o filme mostra os ensaios da bateria ruas, na quadra e no Sambódromo, focando nos instrumentos mas principalmente nas tradições da escola quanto ao desempenho. Um verdadeiro espetáculo de cores e sons.
O final do documentário faz pensar muito sobre a Mangueira e, de certa forma, imediatamente cria uma conexão com o Fluminense e também as reflexões tricolores, especialmente nos últimos dias. Ao mesmo tempo em que a homenagem a Cartola traz euforia e confiança, por outro lado se repetem bobagens como desrespeitar o passado tricolor para se louvar os possíveis campeões da Libertadores, assim como a disputa estúpida para se saber quem é “mais” tricolor porque vai ao estádio, compra camisa, produtos oficiais etc.
Voltando ao que presta. No fim do filme, Elmo conta uma passagem definitiva de sua vida: ao assumir o posto de presidente da Mangueira, escutou as palavras de ninguém menos do que Nelson Sargento, outro monstro sagrado da Estação Primeira. Nelson disse a Elmo basicamente o seguinte:
“Olha, filhote de Tinguinha, a Mangueira é uma grande árvore frondosa que tem raízes, tronco, galhos e dá frutos saborosos, e por mais que os galhos cresçam, o tronco sempre será maior. Você, nesta árvore, é apenas um galho.”
A seguir, Elmo diz que nunca mais se esqueceu daquele dito. Vindo de quem veio e com a intensidade que foi dito, não haveria mesmo como esquecer. A Mangueira não é gigantesca à toa, percebe-se. Nelson Sargento, um dos maiores nomes do samba de todos os tempos, tinha humildade para se ver como um dos galhos da Mangueira, nada mais.
A fala de Nelson pode ser perfeitamente adaptada ao Fluminense. Todos nós, mesmo os que se consideram distintos e especiais, somos todos pequenos galhos, pequenos frutos dessa gigantesca árvore em três cores que vem oferecendo sua sombra ao Brasil desde 1902. Todos nós, todos, incluindo jogadores, comissão técnica e especialmente dirigentes.
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O Fluminense precisa conquistar a Copa Libertadores. Não há dúvidas.
Entretanto, e é bom que se diga, a Libertadores também precisa conquistar o Fluminense.
Estamos todos ávidos pela chance de ganhar o único troféu que nos falta.
Agora, não custa lembrar que a Libertadores também precisa ter o Fluminense em sua galeria de campeões. O motivo é simples: trata-se do clube que fincou as estacas do futebol brasileiro, da Seleção Brasileira espalhou a febre do futebol pelo continente.
Quantos garotos Brasil afora e América do Sul não passaram a gostar de futebol por causa do Fluminense? Quantos não tentaram a carreira de jogadores por isso? Quantos outros não fundaram times de bairro e até profissionais inspirados no Fluminense de alguma forma?
O Fluminense precisa muito desse título.
A CONMEBOL também precisa do Fluminense em sua lista vencedora.
É uma lacuna de mais de 60 anos.
Precisamos ganhar. Queremos ganhar. Não ganhamos nada e nem esperamos qualquer facilidade. Será difícil.
Agora, o rol de campeões da Libertadores hoje tem times que são menores do que o Fluminense. Mesmo badalados, mesmo midiaticamente incendiados, menores.
Não se trata de clubismo ou paixonite. É fato. A história mostra isso.