Veja bem a imagem deste senhor, sentado calmamente na arquibancada de Los Larios, olhando para seu amor em campo chamado Fluminense diante do America, enquanto recebe o afago de seu chapéu.
Sua bengala tricolor o denuncia ao mundo da poesia: ali está um torcedor que é um dos nossos escudos de carne e osso por aí, todos facilmente identificáveis a quilômetros de distância.
O Fluminense das vestes despojadas, do chinelo libertador e dos indefectíveis olhos de criança, quem sabe procurando um Castilho, um Telê, até um Romeu em campo, quem sabe?
O olhar atento, fixo, é de quem já viu tudo. Leu e escutou tudo. Por onde este coração tricolor, deitado em berço esplêndido de Xerém, já navegou? Mares e mares, caros amigos.
O nosso time em campo com uma nova camisa linda, oferecendo esperanças de melhorar seu futebol, lutando contra a condição de permanente visitante neste 2016. Os sonhos, as perdas e os ganhos.
Não há como enganar este senhor. Ele sabe de onde o Fluminense veio. Manchetes confusas não o melindrarão, politicagens não poluem seus sonhos. Nenhuma ganância ou arrogância. Com sua simplicidade numa arquibancada que parece de antigamente, ele é um lorde, um sujeito de estirpe, dos tempos dos Cartolas – o nosso mascote e o Rei do Samba.
Ali estão os olhos fixos de criança a namorar o futebol, a carinhar o Fluminense, a manter a eterna chama acesa da paixão em campo, num gramado de lembranças e esperanças.
Tudo se encaixou: o modelo do espírito tricolor em close, bem capturado pela minha amiga Gloria, que escreveu este poema fotográfico sobre o nosso Fluminense e gentilmente me ofereceu.
A bengalinha não carrega apenas as três cores, mas uma história que vem de longe e que pode ser percebida num simples instante. Reveja a foto, reveja e reveja.
Procurando o espírito do Fluminense, me deparei com a foto deste senhor. E nela encontrei o avô que não tive, o pai que foi embora cedo, o irmão que me desaprendeu. Na verdade, este senhor é também um irmão, um correto irmão que passa ao largo da minha e o admiro à distância sem conhecê-lo pessoalmente, tal como Rubem Braga fez em uma grande crônica sobre um homem no mar e sua dedicação ao nadar.
Este homem tricolor, humilde, com seus olhos fixos no horizonte de grama à espera do melhor para o Fluminense, é tão importante quanto um grande lance ou um belo gol. Ele é a certeza de que estamos vivos, vivos demais e não nos deixaremos seduzir pela retórica oca dos pernósticos rancorosos, envenenados pela feiura.
Um senhor simples com sua bengala tricolor numa arquibancada que remonta ao antigamente. No Fluminense, o passado e o presente são irmãos siameses, dedicados, atentos, à espreita do grande amor às nossas cores em qualquer parada. Nós viemos de longe, há muitas gerais.
Agora chove na Guanabara, é a noite de domingo e a imagem deste senhor, com sua bengala, o chapeuzinho, a simplicidade e o olhar em busca do Fluminense de Madredeus, faz-se uma bandeira da nossa tradição: a elite da elegância.
Gloria Motta, com sua incrível foto, é a coautora moral desta coluna.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: gm
Parabéns à vc pelo texto ! Parabéns à fotógrafa pela Poesia em um click ! Se chegar lá vou querer uma bengala assim. ST.
Maravilha!!!!!!!
O Fluminense emociona a gente de todos os jeitos.
Parabéns pelo texto!
ST
A foto em si já é uma poesia.
Linda crônica Paulo! Parabéns!!!
Parabens pela bela cronica
Vou querer a minha bengala assim.
ST