Por que vocês torcem para o Fluminense? (por Aloísio Senra)

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Tricolores de sangue grená, a vantagem de não alugar minhas opiniões e não ter o objetivo de atrair likes, tampouco puxa-saquismo de qualquer sorte é poder expor o que penso, sem meias palavras, sem querer agradar a todos, e entendendo que haverá sempre aqueles que discordarão e não receberão bem o que quer que eu escreva aqui. Ao menos, vocês podem sempre contar com a minha visão da realidade e com a minha opinião honesta sobre não apenas os assuntos que cercam o Fluminense, mas também acerca da nossa sociedade. Então, inicio essa coluna, que será acima de tudo uma reflexão, com uma pergunta: por que vocês torcem para o Fluminense? Certamente haverá uma miríade de respostas, posto que a identidade tricolor não é de fato de simples compreensão, mas, para aquele tricolor fanático pelo clube, por seus valores e por sua história, o componente “títulos e ídolos” é como a cereja de um bolo cuja massa é bem mais densa e misturada com a própria história do mundo.

Se me perguntarem por que eu torço pro Fluminense, é fácil listar muitos títulos importantes e ídolos eternos, e é por isso que eu prefiro falar do exemplo que o Fluminense Football Club sempre foi para a sociedade desde a sua fundação, dos valores que me ensinou ao devolver o título do Torneio Início porque detectou a escalação de um jogador irregular, da magnitude que alcançou ao doar um avião para as forças armadas brasileiras durante a Segunda Guerra e, pouco depois, ter sido a única agremiação de futebol no planeta a receber o Prêmio Nobel do Esporte, a Taça Olímpica, por representar, segundo Jules Rimet, a perfeição. O Fluminense me ensinou que dá para ser vitorioso, glorioso e gigante sendo limpo, sem abdicar de seus valores, reconhecendo a importância do esporte e fomentando-o para que ele saia das quatro linhas e realmente agregue valor para o mundo. O Fluminense não fazia um futebol de entretenimento, e sim de arte, de cultura, de princípios. Foi por ele, principalmente, que me apaixonei.

E é por isso, talvez, que seja hoje o Fluminense o clube que mais sofra em meio à realidade negacionista em que vivemos. Há trinta e cinco anos, o nosso querido clube vem sendo atacado quase que diariamente em várias frentes que, pouco a pouco, começaram a querer destruir seu patrimônio vitorioso e a negar sua importância na história do futebol. Desde a pecha do “time de elite”, passando pela história mal contada do pó-de-arroz para associar o clube a um viés racista, e culminando nos episódios de virada de mesa dos quais não participamos diretamente em momento algum, esses agentes nefastos, com a colaboração de dirigentes ineptos, é bom que se diga, acabaram abafando a nossa história, esquecendo-a nos baús do esporte e relembrando-a apenas de modo efêmero quando lhes era conveniente, enquanto os ataques continuaram quase que diariamente. E vieram papeletas amarelas, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana tomadas no apito, rebaixamentos com arbitragens venais, além de muitos, muitos títulos cariocas tirados de nós na mão grande.

Ainda hoje, depois de termos sido campeões brasileiros por duas vezes na última década e jamais termos sido rebaixados nos pontos corridos, precisamos ouvir gracinhas de pseudojornalistas, ou aturar a continuidade da máfia estadual a nos tirar pontos até contra times pequenos. Mas… como eu disse antes, para que todo esse processo ainda não tenha sido encerrado, é necessário haver uma conivência dos dirigentes do clube. Afinal, se você não fica quieto, se você enche o saco, se você pede direito de resposta, ocupa o espaço destinado a você para contar a sua versão, para repetir dezenas, centenas, milhares de vezes a sua história, ao menos você dificulta a vida dos que querem lhe derrubar. E, hoje, o Fluminense não tem alguém para fazer isso. No máximo, temos notinhas oficiais ou o mandatário tricolor falando em tom pacato no programa chapa branca do qual participa. É pouco, muito pouco, para reverter um nefasto estouro de champanhe reverberado por décadas.

Mais do que nunca, precisamos não apenas falar a verdade, mas reforçá-la em todos os espaços possíveis. No Brasil do negacionismo, que se recusa a enxergar o estado de calamidade da saúde pública em que vivemos, sustentar o que é correto é essencial acima de tudo, mas não apenas da cadeira de seus escritórios, mas agindo. Se não dá pra ser você, presidente, nomeie alguém para fazê-lo. Nós, dos sites e blogs tricolores, principalmente aqui do PANORAMA, somos defensores ferrenhos do Fluminense Football Club há anos, mas não temos o mesmo impacto que representantes oficiais do clube. É preciso que a defesa institucional, prometida na campanha, não seja um dos estelionatos eleitorais que se avizinham. Se quer deixar um legado maior do que títulos, Mário, poderá ser esse. E um bom começo será não cedendo ao jogo dos protegidos e mantendo a mesma postura que vimos no início da pandemia, onde cansei de elogiá-lo. O Fluminense precisa de representantes dignos, que repercutam os seus valores em suas palavras, ações e posturas, se queremos que nosso Tricolor seja aquele que Nelson Rodrigues, em seu tempo, chamou de enorme.

Curtas:

– Quero ser campeão? Óbvio. Trocaria o título por uma ação afirmativa que nos fizesse conseguir o respeito que merecemos? Sim. Deixo claro que respeito quem pensa de modo distinto. Jogar o Carioca inteiro com reservas e sub-23, apesar de ser uma decisão impopular e que parte da torcida reclamará – talvez até com razão – pode ser a única resposta possível a três décadas e meia de perseguição da FERJ. Já que não podemos vetar os árbitros e bandeirinhas que nos prejudiquem, não podemos anular a partida e não podemos recuperar esses pontos, que podem nos fazer falta lá na frente, o que nos resta é poupar nossos principais jogadores para competições em que, pelo menos, não exista complô armado para que não ganhemos títulos. Até a cota de TV que podemos acabar perdendo por essa atitude é irrisória. A relação custo-benefício, dessa vez, existe. Acompanhemos os acontecimentos.

– Vamos ver se terá marmelada no jogo contra a Portuguesa também. Desta vez, se houver, o melhor seria tirar o time de campo.

– No geral, a molecada foi bem. Falta uma solidez defensiva maior. Não entendi a titularidade de Frazan, sendo que Luan e Higor eram a dupla de zaga do sub-23 e tinham mais entrosamento. Acertando isso, acho que dá para o time ir longe.

– Samuel Xavier, Wellington e Rafael Ribeiro foram apresentados. O primeiro será muito útil, principalmente se liberar o Calegari para compor o meio com o Martinelli. O ganho será real. Já Wellington chega para ser reserva, e espero que não tentem empurrá-lo goela abaixo como titular. Já o tal Rafael Mulambeiro chegou para repor a saída de Digão ainda no ano passado, e com Frazan causando péssima impressão, vai acabar figurando no banco de reservas até mesmo na Libertadores…

– Vamos descobrir nesse domingo se começaremos a acompanhar o Flu 2021 principal na semana que vem ou só em abril. Que seja só daqui a um mês e meio mesmo.

– Dar palpites para os jogos viciados do Carioca é muito difícil. Acho que vão acabar segurando a onda no próximo jogo e temos boas chances de ganhar, mas se o protegido tropeçar nessa rodada, podemos esperar novas sacanagens no clássico. A conferir.