O problema de envelhecer é cada vez mais desejar o impossível. Quem me dera estar em 1980 para o Fluminense versus Botafogo. Quem me dera. Lá se foram 45 anos. Só de estar com meu pai na arquibancada, vendo o mar de pó de arroz e depois aquelas feras, já valeria a pena. Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens Galaxe; Deley, Gilberto e Mário; Robertinho, Cláudio Adão e Zezé. Era um sonho, pelo menos tem muita coisa no YouTube.
Começada a temporada chocha de 2025, pelo menos nesta quarta tem um grande desafio. Sete jogos sem vencer o Botafogo. Nunca tínhamos visto isso. Precisava do Super Ézio ou do Adão para resolver a coisa. Tudo bem, o Botafogo não tem mais Mendonça, nem Maurício e nem o Luiz Henrique, que jogou muito, foi campeão e se mandou.
Clássico é equilíbrio, os dois times não andam nada bem no momento, mas já viu. O imponderável sempre tem chance de acontecer.
Uma vez eles nos deram uma cacetada na decisão de 1957. A vingança foi apenas em 2012. Está bom.
E o 7 a 1 de 1994? Meu Deus, eu estava na porta e não entrei! Como pude fazer isso? Segue o jogo. Quase ninguém foi, sexta-feira chuvosa. Momento histórico.
O Botafogo sempre esteve perto de mim por muitos motivos: o grande rival, amigos, fogatas maravilhosas. Não esqueci de nada. Meu primeiro clássico de futebol de botão. Então me dá uma saudade de jogar com o Fernando Guilhon no Edifício Keats, ao lado do túnel da Tonelero. Tinha o Marcus Dionísio na escola, a irmã dele era linda, Márcia. Do Luizinho na Siqueira Campos, nunca vou saber.
Se o mundo fosse como deveria ser, depois de jogar por cem anos não poderia haver ódio, apenas rivalidade leve. Ok, certas coisas nunca vão mudar.
Olhei pra trás e encontrei um vale de lágrimas, são muitas lições. Tesouros da juventude. Vai ser no Engenhão, mas lembra o velho Maracanã. Eu não tenho mais pai nem amigo pra ir comigo. Vou ficar em casa, torcendo por um 2 a 0 loucamente. Eu, meus amores, minha tristeza e um longo ano pela frente. Vai, Flu!