Sonho em chamas (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, num final de semana sem futebol, sem as ansiosamente esperadas semifinais da Taça Guanabara, o que nos resta é falar sobre as razões que nos levaram a essa abstinência. Sendo assim, nada de futebol por aqui hoje.

É evidente que tenho que me solidarizar com todos os rubro-negros pela terrível tragédia que se abateu sobre o ninho do urubu. Acho até que tenho que me solidarizar com todos, rubro-negros ou não, porque a dor não tem camisa. Estamos todos chocados, tristes e frustrados.

Não estamos falando de jovens jogadores do Flamengo, mas de adolescentes que perderam a vida de forma estúpida num ambiente onde, junto com seus corpos, habitavam seus sonhos.

A gente sabe que a vida quase nunca obedece a uma lógica. Tem muito de improviso em nossas trajetórias. O inusitado está na próxima esquina a espreitar o nosso escândalo. As coisas acontecem e não conseguimos explicar, mas é preciso explicar aquilo que é possível, aquilo que está aquém da metafísica e ao alcance do nosso vão conhecimento.

Eu posso lembrar da tragédia de Brumadinho e de tantas outras nesse início de ano. O que há de comum em tudo isso? O desprezo pelo ser humano. Eu não me aprofundei no noticiário porque o estômago está sensível, mas do pouco que a gente vê dá para perceber que houve negligência na tragédia do Ninho do Urubu.

O que mais estaria por trás de tudo isso que o desprezo pela vida humana, a falta de cuidado com as pessoas? Como um clube como o Flamengo, que hoje tem um dos maiores faturamentos do Brasil, não consegue oferecer instalações dignas ao seu futuro?

Aliás, como não encontraram nada para falar de Xerém, a distração virou o CT profissional, onde ninguém mora, come ou dorme. Ou seja, a canalhice não tem limites. Porque o mais importante é produzir aparências.

Eu não estou aqui para acusar ninguém, porque já tem gente demais apontando o dedo para muita gente. A única coisa que eu quero é que coisas assim não aconteçam mais. Eu queria que as pessoas aprendessem que quando todos cuidam de todos é possível construir uma sociedade melhor, ao contrário desse estado de coisas onde o principal traço cultural é o egoísmo.

Quando será que nos livraremos de tanto ódio, tanta mentira, tanta irresponsabilidade, tanta injustiça? Eu tenho dito que o Brasil acabou, que eu não tenho mais esperança. Aí vem alguém e me cobra por que, como cristão, eu sou incapaz de enxergar um horizonte florido nesse mar de lama. Dizem que eu tenho que acreditar em Deus, mas é justamente por acreditar em Deus que eu não tenho esperança.

As pessoas querem fazer tudo errado e achar que depois é só erguer as mãos aos céus que Deus vai descer com sua varinha mágica e consertar tudo. É uma visão tão infantil, ao mesmo tempo que hipócrita e egoísta. É justamente por acreditar em Deus que eu tenho vivido desolado, flertando com o egoísmo e a indiferença como única forma de sobreviver nesse Brasil criado pelo ódio, pela ganância e pela mentira. Mas parece que o pessoal lê a Bíblia e só consegue entender o que vem via tecla SAP.

As pessoas precisam entender que isso aqui tem uma lei, que você precisa conhecer e seguir. Jesus veio aqui e mostrou tudo direitinho, mas ninguém entendeu. A gente precisa ter amor ao próximo, cuidar uns dos outros, aprender a compartilhar e sentir dor com o sofrimento alheio. Não precisa ninguém morrer, tem muita gente morta em vida, entregue ao sofrimento, mas a gente só pensa no que vai comprar para tirar onda, em se dar bem, competir e vencer aqueles com quem deveríamos nos aliar.

Eu acho que vou ser repetitivo e parvo se cobrar que os responsáveis sejam punidos. Não porque eu tenha paixão ou predileção por punições, mas é porque a sociedade precisa se organizar para fazer com que as regras que protegem a vida e a dignidade humana sejam cumpridas. Direitos humanos não é para bandidos, é para humanos, bandidos ou não. É a garantia de que ninguém seja deixado para trás, que ninguém seja violado em sua dignidade, e isso inclui punição, porque a sociedade política é um contrato, e não há contratos que não incluam sanções a quem os descumprir.

Infelizmente, nós somos fruto da heresia disseminada, da mentira, da falta de amor ao próximo, da corrupção. Nada do que acontece hoje no Brasil é por acaso. Tudo isso foi construído e a lei que rege o universo é implacável. A dor que sentimos nesse momento é fruto daquilo que nos tornamos com nosso egoísmo, ganância e crueldade.

O que eu posso fazer é lamentar por essas crianças que morreram e por seus familiares, que certamente morreram um pouco juntos, como morre o Brasil a cada minuto, a cada tragédia, a cada sopro de estupidez.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

1 Comments

  1. Com relação ao post anterior, permita-me discordar:sem ser “fredete”…

    Em 2013, Fred (depois de quebrar uma costela jogando pelo Flu no Paraguai e ficar em campo ate o final; se destacar na Copa das Confederações) teve uma grave lesão que o impediu praticamente de jogar todo o segundo semestre; Em 2014 foi artilheiro do carioca e no Brasileiro, marcando 22 gols nesse. No jogo contra o America RN ele saiu quando o jogo estava 2×1 para o Flu (que vencera por 3×0 fora o primeiro jogo),…

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