Somos Fluminense, não Fulham! (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, hoje temos uma divisão clara no que diz a respeito de como se enxerga o Fluminense. Existem duas correntes de pensamento, a saber: a que defende um Fluminense grande, gigante, sempre, e a que aceita sua realidade atual, como clube médio, praticamente um Fulham (opa, olha esse exemplo repetido aí de novo, rs). Longe de dizer que certas páginas ou grupos são chapa branca (embora alguns de fato o sejam), mas o que vou tratar é do imaginário coletivo mesmo. Os quase dez anos sem conquistas relevantes estão provocando esta divisão no perfil do torcedor médio, e não sei dizer se ela é temporária ou definitiva. Mas é possível percebê-la facilmente por aí. Tomemos por exemplo o curioso caso de Odair Hellmann. Ele é basicamente um anti-Diniz 2019: cabeça branca, Papito, substituições estapafúrdias, escalações tenebrosas, resultados razoáveis no Brasileirão, em detrimento das competições de mata-mata, onde passamos vergonha. E conseguiu colocar um time em frangalhos no G6 faltando duas rodadas para terminar o turno. É isso mesmo?

Odair levou o Fluminense a sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas no campeonato. Dos empates, Ceará, Atlético-GO e Botafogo eram jogos ganháveis. Perdemos, só nisso aí, seis pontos. Das derrotas, Bragantino e Sport foram revezes que poderiam facilmente ter sido vitórias. Mais seis pontos perdidos aí. Agora, vamos às vitórias? Vitória sobre o Internacional em jogo de dois pênaltis. Fator sorte ajudou. Corinthians, como vimos nessa rodada, já era cachorro morto há algum tempo. Coritiba, mesma coisa. Vitória obrigatória. Goiás, idem. Bahia também é fraco e, embora o resultado tenha sido até mentiroso (deveria ter sido 2 a 0), não nadamos de braçada e por pouco a vitória não fez água. Nas outras ocasiões em que vencemos (Vasco e Athletico-PR), aí sim, mérito total de Odair, embora os supracitados times estejam francamente em declínio. Dessas vitórias, acho que talvez tenhamos conseguido dois pontos extras sobre o Inter, que hoje está brigando nas cabeças.

E onde quero chegar com isso? É simples… Odair “ganhou” dois pontos contra o Inter e talvez um ponto contra o Galo, e perdeu DOZE pontos por conta de suas limitações, o que nos deixa com um saldo negativo de 9. Nossa pontuação poderia ser, facilmente, 35 pontos, se fosse, sei lá, o Marcão na beira do campo. O que nos daria, surpreendentemente, a liderança do campeonato nesse momento, embora com um jogo a menos que o Galo. E por que estou batendo tanto nessa tecla? Porque, mesmo com a percepção de que Odair tem dado muita sorte com essa tática insana de recuar toda vez que abre o placar, tática que nos tirou já das duas competições de mata-mata que tínhamos alguma chance de vencer, muitos tricolores estão incensando o treinador, defendendo-o com unhas e dentes porque, depois de anos lutando contra o rebaixamento, finalmente o Fluminense está brigando por uma vaga na Libertadores. Na pré-Libertadores. A carência do torcedor menos exigente transformou Odair em José Mourinho.

Aqui não se trata de ver o copo meio cheio ou meio vazio. Trata-se de ver o Fluminense como ele é ou como queremos aceitar que ele seja hoje, muito por conta da “mitologia Fullham” (ops, de novo isso!) criada pelos gestores atuais. Política de clube não é muito diferente da política de Estado. Os gestores sempre dizem que estão fazendo muito com pouco, operando milagres, yadayadayada. Quem está de fora vê, claramente, que dava pra fazer melhor. Muitas vezes, os problemas não são os recursos disponíveis. A falta deles atrapalha, mas a tomada de decisões equivocadas é o que realmente mina qualquer trabalho sério. E os motivos são diversos, e não me cabe colocá-los aqui. Às vezes incompetência pura e simples, às vezes conflitos de interesses, transformando aquelas decisões aparentemente sem pé nem cabeça (como insistir com Felippe Cardoso tendo Lucca no banco) em algo motivado por situações que não conseguimos enxergar, e que vão beneficiar A, B ou C, mas não o Fluminense. E essa agenda implícita é o que mais nos atrapalha, hoje, a alçar voos maiores. Há, aparentemente, uma conveniência em manter o status quo no clube. Para quem a defende, ganhar títulos não é prioridade do Fullham (puxa, desculpem, leitores!), quiçá do Fluminense!

Vencer, mesmo sem fazer esforço para isso, é bom. Mas esporte é sobre competir, não sobre vencer. A base do esporte é essa: dos competidores, aquele que estiver no melhor nível, vencerá. E é sobre essas fundações que o Fluminense Football Club sempre se apoiou. Sim, o futebol é apaixonante porque nem sempre dá a lógica, e por vezes o mais fraco consegue superar o mais forte… mas quando foi que passamos a nos contentar em sermos os mais fracos dentro de campo? Falem mal de Diniz, mas o time competia. Dava muito azar nos resultados, muito por conta da ineficácia de quase todos os atacantes do elenco na época, já que o time criava muito, mas desperdiçava na mesma medida, e o VAR nos operava bem mais do que tem feito esse ano, embora eu tenha passado raiva em alguns jogos. Mas… “futebol é resultado”, né? Diniz caiu, as lambanças começaram, fomos eliminados de uma Copa Sul-Americana em que tínhamos amplas chances de ganhar, e o resto vocês já sabem. A pergunta que fica é: vamos passar o returno inteiro sendo azarões mais uma vez?

Vêm por aí Santos no Maracanã e Fortaleza fora. Jogos ganháveis, pra variar, embora o Fortaleza seja mais difícil. Acho que quatro pontos nessas duas partidas são aceitáveis, o que nos levaria a 30 pontos ao fim do primeiro turno. E aí é que a coisa aperta. A sequência inicial é com Grêmio em casa, Palmeiras fora e Internacional fora. Grêmio tá mambembe e Palmeiras vem mal pra burro, mas são times grandes e que podem endurecer. Ganhar do Internacional de hoje, embalado, com Thiago Galhardo metendo gol todo jogo, é um baita feito. Acho que só fazemos dois pontos aí. Depois, duas “obrigações”, Bragantino e CAP em casa, antes de um clássico contra um Vasco que aparentemente será tetrarrebaixado, se o baile seguir assim. Aposto em sete pontos nessa sequência. A seguir, Atlético-GO fora, São Paulo em casa, esgoto da Gávea e Corinthians fora. Cinco pontos prováveis. E aí vem Sport em casa, Coritiba fora, Clássico Vovô, Goiás em casa e Bahia fora. Uns onze pontos talvez. Galo em casa, Ceará fora, Santos fora e Fortaleza em casa fecham o campeonato. Seis pontos é o que prevejo. Total? 61 pontos.

A menos que Odair mude muito seu jeito de montar o time e de substituir, 61 pontos é o máximo que acho que podemos alcançar. E enquanto esta seria uma ótima pontuação levando-se em consideração os últimos cinco campeonatos do Fluminense, os nove pontos perdidos elevariam essa conta a 70, o que, talvez, nos daria o título. Mesmo com o elenco em frangalhos, salários atrasados, dificuldades mil, jogadores da base sendo vendidos por mixaria pra pagar dívidas, vários ex-jogadores processando o Flu na justiça, além dos escândalos que talvez agora adentrem as páginas policiais, dava pra fazer melhor do que isso sim. Não se deixe enganar, torcedor do Flu. Os mais antigos relembram frequentemente os times das décadas de 1960, 70 e 80 por uma razão: ali, o Fluminense tinha o tamanho que sempre teve nas mentes de todos os torcedores, e até mesmo nossos detratores reconheciam isso. Tentaram, por anos a fio, nos diminuir, mas não conseguiram. Mas se convencerem você, torcedor tricolor, de que isso é verdade, acabou. O colosso que Oscar Cox e outros dezenove iluminados erigiram pode ruir de uma só vez. Não permita que isso aconteça. Mantenha o Fluminense gigante no seu coração, nas suas palavras e nas suas atitudes. Só assim, como disse Nelson Rodrigues, ele continuará tendo vocação para a eternidade.

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– Essa coluna já ficou imensa, então vou só de palpite pro próximo jogo: Santos 1 x 2 Fluminense.

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