Os olhos marejavam, como não podia ser diferente. Maldade. Nos pênaltis. Seis deles, no final das contas. Talvez tenham doído menos os quatro convertidos pelo adversário na fatídica e derradeira disputa de penais. Os dois que foram sem nunca terem sido, estes formam a imagem da perda do ente por motivo torpe. A quarta-feira ainda dói.
E por isso mesmo, o pranto escorre e passeia pelos semblantes consternados. Ruborizam de emoção o rosto apaixonado de quem vive as três cores. Rubores que faltam a tantos outros que sopram impunes as armas contra nós. Juraremos uma vingança – pois sim, leitor, somos desses que vociferam contra as gerações de árbitros e condenamo-los até que a curta memória nos ponha diante de outra faceta na verde relva da batalha – e de nada adiantará.
Cai o Fluminense na Copa do Brasil como um guerreiro que buscou seu destino até o final. Digno, merecedor das elégias e loas tecidas em missa campal. Percebeu-se aquele furor comedido da grande imprensa, o sorriso que lhes salta o canto da boca toda vez que perdemos… A imprensa, que adora fazer de Arandir (com licença, Nelson) o Tricolor, mesmo que seja ele agora o atropelado no asfalto.
O choro que nos escorre a face é o mesmo que verte na fronte dos guerreiros. Lágrimas que se misturam ao suor de quem se recusou a desistir. Talvez fosse cedo para suspirar após o gol, ainda devia haver mais algum combustível que nos levasse ao tento salvador.
Não acredito em ídolos, já afirmei por demais isso. Mas, reconheço heroísmos. E nosso capitão será lembrado por aquela noite. Ferido, liderou como faria o General da Grande Área. A eliminação teria sido evitada exatamente em um disparo seu, o último, o derradeiro. Triste ironia. Fred não merecia perder aquele gol. Fosse outro, vá lá, é do jogo. Nos pés de quem foi a campo para sacrificar-se por nós foi crueldade dos deuses do futebol. Se bem que eles nunca gostaram mesmo dessa coisa de justiça.
Contudo, toda a luta e dedicação – embora tenham sido em vão para os idiotas da objetividade – deixam suas marcas. Precisamos saber como viveremos nosso luto a partir de amanhã. Qual será o preto que vestirá o tricolor? Será daqueles cabisbaixos, que culpam a si mesmos e internalizam em si as falhas e, portanto, negam-se a continuar na estrada? Devemos estar alerta para evitar que isso ocorra. Ainda nos faltam pontos essenciais e o ano não acabou.
Que o luto vire luta. Que se faça agora o próximo pagar o pato. Que expulsemos a tristeza de nossos corações. Até porque o Vasco nos anda sendo sinônimo de tristeza. Um fantasma que vem nos assombrando há algum tempo. É hora de exorcizar o passado e premiar os guerreiros. Os deuses do futebol nos devem isso. Além de que, de fato podemos. E não resolvemos ainda nosso estar na tabela do campeonato. Por nossa grandeza, não podemos nos conformar com o pouco, nunca devemos deixar de sonhar.
Que a tristeza vire força. Que sejamos felizes no domingo.
Fica, ao final, a nota trágica. A tristeza não passará por termos perdido um guerreiro em plena arquibancada. Chegará o dia em que teremos nos estádios, nas ruas e praças a valorização da vida humana. Até lá, lamentemos a negligente caminhada de nossa modernidade.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
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Hola Cestari
Belíssimo texto, muito lúcido e sem ilusões cegas. E é isso mesmo, que venha o Vasco, já é passada a hora de calar a boca deles.
ST