Só num gesto de absoluta ignorância alguém desprezaria a importância histórica de Fred para o Fluminense.
Principal ídolo do clube no século XXI – ainda que não constitua unanimidade -, artilheiro consagrado na história tricolor – ainda que beneficiado por longa duração de contrato e titularidade com a camisa 9, a maior desde a saída de Waldo nos anos 1960, além de dezenas de cobranças de pênaltis a mais do que outros atacantes tricolores, inclusive com muitas perdas -, o veterano ídolo é uma referência para muitos torcedores do Fluminense, de todas as faixas etárias mas especialmente as crianças de 2009 a 2014. E terá seu nome eternamente vinculado à superação de 2009, assim como o grande título brasileiro de 2012. São fatos indiscutíveis.
Não deveria jamais ter saído do clube da maneira como saiu em 2016, ainda que estivesse em baixa. Infelizmente foi repetida uma velha tradição de desapreço do clube por seus ídolos. Hoje, é muito simples enaltecer Romerito com todo o merecimento, mas poucos sabem que foi desprezado injustamente em 1989. E a lista de ídolos dispensados com indiferença é muito longa, passando por nomes até inacreditáveis como os de Castilho e Rivellino, mais Samarone, Flávio, Washington, Pintinho, Edinho e tome páginas mais páginas a respeito.
Não foi santo, aliás, esteve sempre muito longe disso, como é sabido tanto por quem conhece os bastidores tricolores quanto pela torcida em geral, inclusive generalizando críticas severas a torcedores e ameaçando impedir o próprio time de entrar em campo, algo impensável para qualquer outro ídolo da história tricolor. Mas passou.
Quatro anos depois, num gesto que pareceu mais ligado ao marketing a respeito do que propriamente pela reserva técnica, Fred voltou. Muitos, mas nem todos, vibraram. Teve festa, ação social, trocentos quilômetros de bicicleta, muitos papagaios de pirata na fita e, claro, um estímulo à associação dos torcedores ao clube.
No entanto, um único detalhe, pequeno porém de enorme relevância, foi desprezado em tudo que cercou a volta de Fred: o fato de que o tempo passou. A paixão, às vezes turbinada por caneladas de supostos influenciadores e formadores de opinião, levou muita gente a sonhar com os gols salvadores de 2009 e os decisivos de 2012. Acontece que estamos em 2020, e quase uma década de diferença pesa para qualquer jogador de futebol, mesmo dotado de força física, velocidade e categoria admiráveis – e Fred, um senhor jogador, não atende a duas dessas três categorias.
Em julho passado, publiquei UMA COLUNA AQUI NO PANORAMA que sintetizava meus escritos ao longo desta temporada. De certa forma ela é um acréscimo a “35 DIAS”, meu mais novo livro em parceria com Mauro Jácome, Felipe Fleury, Marcelo Savioli e Rodrigo Mattar, onde mapeamos diariamente a trajetória do Fluminense na reta final do Brasileirão do ano passado. Eis alguns prints:
Não contem comigo para a autopromoção ou valorização exacerbada do que escrevi. Deixo isso para as picocelebridades das redes antissociais. Trata-se apenas de pequenos pedaços redigidos por um permanente observador do Fluminense que não rifa suas opiniões a troco de likes. E só. Porém, a feitura de “35 DIAS” num momento de (mais um) desespero contra o rebaixamento me obrigou a acompanhar todos os dez últimos jogos do Cruzeiro no ano passado, porque tive certeza de que só a debacle cruzeirense nos salvaria. Deu no que deu. E mesmo Fred, o craque e artilheiro Fred, foi uma peça praticamente nula no final celeste.
Posto isso, qualquer pessoa que acompanhe o futebol brasileiro e pretenda ser encarada com mínima seriedade a respeito de suas opiniões sobre o tema, sabe que a contratação de Fred poderia suprir diversas lacunas no sentimento tricolor, tais como a recondução de um ídolo, a renovação do fetiche, o respeito dos adversários, mas não a ponto de fazer um time mal montado voar em campo.
É preciso respeitar o passado de Fred, sua história, seus gols e títulos. É preciso preservar a história do grande artilheiro, que já faz parte das façanhas do Fluminense. E é preciso fazer com que esse contrato, feito com prazo extremamente alongado, não resulte em nova rescisão desastrada e mancha no currículo. Porém, isso não pode significar titularidade a fórceps, por exemplo. Fred ainda pode ser útil: tem experiência e categoria de sobras. Uma mudança de posição (sempre foi um excelente pivô) e/ou a entrada em campo em partidas e tempos selecionados podem ser muito úteis nisso mas, para isso, é preciso usar a convergência de inteligências: a do veterano craque, da comissão técnica e da diretoria. Talvez esse seja o maior desafio.
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É de se esperar que as pessoas possam evoluir e aprender com seus erros. É preciso acreditar no ser humano, ainda que alguns insistam em desafiar definições.
O presidente tricolor, que vinha tão bem nas questões envolvendo a pandemia, acertou um verdadeiro petardo na arquibancada sobre o assunto do Estádio das Laranjeiras, imediatamente replicado pelo grupo (apartidário) Laranjeiras XXI. Não que sua posição constitua surpresa, de maneira alguma, exceto para os desavisados, mas há uma clara contradição entre o discurso eleitoral e a fala recente sobre o tema.
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Sobre a história de só poder opinar “quem é do ramo”, trata-se apenas de uma bobagem. Algo tão anêmico quanto, por exemplo, um clube de futebol quase falido, com uma dívida quase bilionária e campeão mundial de acionamentos na Justiça, ter que obrigatoriamente ser dirigido por um economista em vez de um advogado. Ou que para ser dirigente, blogueiro amigo ou tuiteiro, fosse necessário saber jogar futebol bem: 99,74% dessa turma só sabe o que é bola via televisão…
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Aos que insistem com essa velha ladainha politiqueira sobre os rebaixamentos nos anos 1990, nunca é demais lembrar: os responsáveis pela década atual – quase incrivelmente perdida, apesar de 2012 – carregam dezenas e dezenas de derrotas nas costas, humilhações, eliminações e cinco lutas contra o rebaixamento em sete anos, até aqui.
O campeonato brasileiro atual tem muito mais jogos do que os daquele tempo.
E até mesmo o hoje desprestigiado campeonato carioca dá o tom: foi justamente na década de 1990 e agora, na de 2010, que o Fluminense só conseguiu um único título estadual na era profissional.
A torcida tricolor está farta do sujo falando do mal lavado, muitas vezes por meio de sites sem assinatura/identificação. E de mentiras vendidas como verdade e qualidade.
O tempo passa para todos: craques, torcedores, dirigentes, escritores, blogueiros, sócios do clube e também para os verdadeiros cânceres do Fluminense que circulam pela internet, todos esses últimos com vocação de deep web.
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Em setembro teremos as vendas físicas de “35 DIAS”, mais os livros sobre o gol de barriga em celebração dos 25 anos de 1995. Todos terão tiragens muito limitadas e a venda acontecerá no Sebo X. Assim que chegarem, darei mais detalhes.
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Neste sábado às 17 horas, o Programa Panorama Tricolor recebe Alan Pires, da Web Flu, para conversamos sobre o nosso time.
Transmissão live em nossa página no Facebook.
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