Neste sábado, estive em Saquarema com o Rodo, nosso colega de PANORAMA, para entrevistar Serguei, o ícone dos primórdios do rock no Brasil.
O homem que teve Janis Joplin a seus pés. E Jimi Hendrix em conversas camaradas. Jim Morrison também.
Uma conversa de horas e horas que ainda vai dar repercussão.
Falamos um pouco de tudo: o Brasil, os Estados Unidos, Sergio Murilo, Raul Seixas, Ademilde Fonseca, Emílinha Borba, Rádio Nacional, as nuances da noite de Copacabana.
O louco que de louco não tem nada. O libertário. O hippie que vive numa casa-tributo quase sem dinheiro e um milhão de histórias que nenhum dinheiro compra. O roqueiro errante, de discos esparsos e controvérsias, afora o inegável talento. Do ídolo que canta na varanda de casa e os carros param imediatamente para vê-lo.
O grande vocalista que, aos 82 anos, continua afinado, bluesy e mostrando em francês como ensinou uma versão para ninguém menos do que Elizeth Cardoso, a única cantora do Brasil para quem Elis Regina pode ter batido continência – embora tenham discutido em público.
Tudo isso e muito mais, a virar livro e filme.
Num dado momento, falar de setenta anos de arte ficou pequeno. Ao presentear Serguei com uma bandeira do Fluminense, o mundo ficou de lado e foi trocado por aquele Maracanã que não mais existe. O roqueiro voltou a ser um garoto torcedor apaixonado.
Cobriu-se com a bandeira. Falou de mil admirações por Castilho, que nele provoca ainda mil sensações e uma empolgação. De seu sonho em ser rico para cobrir a arquibancada inteira de pó de arroz – jogado de helicópteros – e espantar os urubus. De Fred, ídolo dos mais jovens. A bandeira linda, que a todo custo ele já queria colocar na entrada do Templo do Rock. De querer uma camisa do Fluminense e de poder voltar às Laranjeiras para ver os jogadores – ele irá! Nós iremos!
O homem que fez milhares de pessoas cantarem, rirem e chorarem no Rock in Rio de 1991 era, num súbito, uma criança apaixonada por seu time do coração, criada numa família completamente tricolor.
Já tive a honra de entrevistar torcedores ilustres do nosso time, dezenas deles. Gilberto Gil, Maria Bethânia e Ivan Lins são alguns deles. Mas neste sábado em Saquarema tive um dos dias mais especiais de minha vida.
Serguei é tricolor demais. Daqueles que se comovem com a chegada de uma das nossas bandeiras, voltando dos 80 aos 8 anos de idade. Em tempos em que se discute quem é “mais” tricolor do que outros, só uma definição roqueira o traduz: ele é tricolor pra caralho, baby! É Rock Flu.
Antes de nos despedirmos, cantou “Bridge over troubled water”, o hino de Simon & Garfunkel. Uma canção que fala de uma amizade indestrutível, de fraternidade, de fidalguia. Nada pode ser mais Fluminense do que isso.
Um verdadeiro antídoto contra a empáfia dos que querem ser mais importantes do que realmente são.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: rock