Editorial: SAF ou traição ao Flu?

Muitos ainda não se atentaram, por desinformação ou ingenuidade, mas o Fluminense neste momento vive uma das situações cruciais de sua história.

Há pouco mais de três anos, a sigla SAF se tornou a salvação do futebol brasileiro. Na prática, você cria uma empresa que fica com a contabilidade “saudável” do clube e joga a “doente” para debaixo do tapete. A receita ideal para maquiar gestões propositalmente perdulárias. Mas não cabe aqui discutir benefícios ou malefícios de uma SAF, e sim sobre o esgoto político a céu aberto que está correndo no meio do clube, à vista de todos e com fedor impactante.

Há meses, num ocultismo digno de inspiração da Sociedade Alternativa, manchetes pipocam sobre a SAF. O clube não exibe a menor transparência nos supostos estudos realizados, não chama a sociedade tricolor para nenhum debate – pelo contrário, trata os sócios como otários desprezíveis, inclusive os que elegeram a atual gestão, e tudo se resume a notas publicadas por Lauro “Botox” Jardim, amigo íntimo de dirigentes do clube e sua vassalagem.

Enquanto isso, o Fluminense vai desperdiçando dezenas de milhões de reais como se fossem um filetezinho de água da torneira, se endividando mais e mais, mantendo quase ou mais do que uma centena de jogadores sob contrato e quase sempre fazendo contratações tidas por muitos como controversas. Um verdadeiro rombão, sugerindo que o objetivo seja realmente o caos econômico para consagrar a SAF como a única saída para o Fluminense. Mas o mais incrível dessa história é que a mesma SAF em tese só poderá se consagrar caso o Venerável Inquestionável Impoluto Serelepe Imperador presidente do clube seja o CEO da empresa. É algo que ultrapassa as fronteiras do surrealismo: uma empresa ou equivalente é deficitária em quase um bilhão, pode ser comprada e aí os novos donos vão colocar para coordená-la justamente o sujeito que há mais de meia década mantém a empresa perdulária. Ou, como se o Venerável fosse dono do Fluminense, a ponto de seu Conselho vassalo atender a todos os seus desejos, dando-lhe tudo que quer, inclusive a própria instituição.

Todas as pessoas que estão apoiando esse modelo como ele vem sendo conduzido são traidoras da história e memória do Fluminense, sem exceção. Todas! Se são ignorantes e desconhecem que, no fundo, tudo parece desenhado para que o atual presidente do Fluminense se mantenha com poder de decisão mesmo sem um novo mandato, impossível pelo estatuto, mesmo assim elas chancelam uma barbaridade.

O atual presidente do Fluminense, notadamente um dirigente perdulário e realizador de dezenas de transações infelizes de jogadores no clube, jamais poderia ser o CEO do “Novo Flu” no caso de uma SAF. Sua reconhecida formação jurídica com ênfase em contratos e acordos é admirável, mas insuficiente para um cargo desse tamanho. E sua expertise gerencial é bastante duvidosa, a julgar pelos números contábeis de seus mandatos no Fluminense. Nem é necessário falar sobre conflito de interesses e posturas anti éticas na questão, imorais até e que humilham o princípio do desporto.

Milhares e milhares de sócios espalhados por todo o Rio de Janeiro e Brasil – muitos alijados do voto pela promessa não cumprida de campanha – precisam agir antes que seja tarde. Não é possível nem tolerável que a voz de milhares de tricolores seja desprezada num tema tão importante. Quem aceita ou aplaude isso isso é, reiteradamente, um traidor do Fluminense, de sua grandeza e sua história.

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