O Flu melhorou, mas Roger ainda tem o que fazer (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, as últimas três partidas indicam que, de fato, o trabalho de Roger começou a dar frutos. Antes tarde do que nunca. Só uma pena que não pôde iniciar essa sequência virtuosa na final do Carioca, não é mesmo? Os números contra o Bragantino foram muito similares aos que vimos nos últimos jogos, indicando domínio tricolor mesmo com menos posse de bola, ainda que esta também tenha aumentado (47% contra 53% do Braga). Em finalizações certas e escanteios também fomos superiores (7 contra 1 em ambos), fizemos o mesmo número de faltas (12), indicando equilíbrio nessa estatística. Porém, o que chama mesmo a atenção são os desarmes: 29 contra 10. Não sou muito afeito a trazer números de forma desnecessária a uma coluna, mas é impossível ignorar essa diferença, pois ela traduz a superioridade que nos permitiu finalizar mais e ter mais escanteios. O jogo reativo perfeito é esse, o de uma boa marcação, que permita retomar a bola e não deixar que seu adversário te amasse. Tendo a bola e contando com jogadores de qualidade do meio pra frente, resolve-se o jogo.

Claro que a qualidade do adversário será determinante nesse embate de forças. É mais fácil dar certo contra o Bragantino que contra o São Paulo, ainda que tenhamos tido a bola do jogo no Morumbi, a qual Nenê desperdiçou. Todavia, é muito flagrante a evolução da equipe. O time titular está muito mais consistente, e se aprimora a cada jogo. Com os blocos finalmente subindo e descendo em sincronia, acabaram os buracos no campo, o que faz com que os volantes joguem o que sabem. Martinelli e Yago melhoraram muito, porque não precisam mais correr que nem loucos pra tapar as lacunas deixadas pelo avanço desordenado da equipe. Caio Paulista e Gabriel Teixeira conseguem jogar em elipse, circulando entre o meio de campo e a entrada da área adversária, caindo para o meio e voltando para o corredor, de modo a sempre oferecer uma opção de jogo aos volantes e aos laterais. Isso fez com que o futebol de Samuel Xavier e de Egídio também crescessem. Ainda que tenhamos problemas com o lateral esquerdo titular na questão defensiva, já foi muito pior antes. Com o time mais compacto, a cobertura fica mais eficaz.

Só que infelizmente ainda há alguns problemas para Roger resolver. Nenê pode ser decisivo em determinadas partidas, mas quando não é, pouco produz (e muitas vezes atrapalha). Podemos destacar de positivo o passe dele para Yago na jogada coletiva do segundo gol, que culminou com bela finalização de Abel Hernández. Aliás, Abel foi a contratação que mais deu certo (ao lado de Samuel Xavier), e tem números realmente impressionantes. Além da questão do veterano camisa 77, que começa a se comportar como criança birrenta quando não passam a bola pra ele, CP70 e Biel normalmente não aguentam o jogo inteiro, pois sua função no campo lhes desgasta por demais. E aí quem entra não consegue justificar ser a primeira opção. A culpa não me parece ser dos meninos, mas é notório que Kayky está em má fase. Antes ele levava terror às defesas adversárias, agora é só uma inconveniência. E, é claro, não consegue manter a pegada na marcação de quem substitui. Luiz Henrique é um caso à parte. Foi uma tentativa de Roger adaptar um meia à função de ponta, parecia que ia rolar, mas não rolou. E aí, como resolver esses problemas? Testando.

Roger terá uma boa sequência no Campeonato Brasileiro e pode pensar em fazer alguns testes pelo menos nessa partida contra o Cuiabá. De saída, eu começaria a tentar dar alguma rodagem para a dupla de volantes reserva que, nesse momento, seriam André e Calegari. Têm características parecidas com as de Martinelli e Yago e algum vigor para executar bem seus papéis no esquema do Roger. Jefté, então, não preciso nem falar. Hora também de promover a estreia de David Braz e dar um descanso para Luccas Claro. No lugar de Nenê, que eu também daria uma “poupada”, colocaria ou Ganso ou Luiz Henrique. Bobadilla iniciaria no lugar de Fred, com a opção de João Neto no segundo tempo. E eu colocaria Abel e Kayky (já que ainda não temos o John Kennedy) nos lugares de Caio Paulista e Gabriel Teixeira, com a liberdade para trocarem de lado conforme a necessidade. Assim, teríamos alguma intensidade na marcação e qualidade no ataque. Se Matheus Martins não estivesse com a seleção pré-olímpica, talvez pudesse ser uma destas peças também.

Não adianta torcermos o nariz. O elenco é esse aí. Claro que poderia ser melhor se tivéssemos Metinho, Wallace, Artur, entre outros já citados, mas provavelmente é com esse plantel que Roger vai encarar as competições que restam, a menos inicialmente. E ele precisa encontrar soluções para as reposições necessárias em algumas posições (como as que ele sempre faz por exemplo), além das eventuais que precisar fazer por problemas como lesão, cartões ou convocações. Essa equipe do Cuiabá tem nível muito próximo de alguns pequenos do Carioca, e ainda acabaram de perder o técnico. É plenamente possível conseguir uma vitória com um time misto. Até a quinta rodada, pegaremos o time do Centro-Oeste em casa, depois o Bragantino (que acabamos de derrotar) fora, depois o Santos em casa fedendo a peixe (trocadilho necessário) e o Fortaleza (fora). A sequência é boa, e não é nada absurdo falar de quatro vitórias. O momento de testar é agora, Roger. Não haverá tempo para treinar e, caso não o faça, não poderá reclamar da sorte no futuro.

Curtas:

– Marcos Felipe, Samuel Xavier, Manoel, David Braz e Jefté; André, Calegari e Ganso (Luiz Henrique); Abel, Kayky e Bobadilla (João Neto). Esse é o time que eu levaria a campo contra o Cuiabá, para testar se há como o esquema funcionar com outras peças. Conforme a necessidade, iria repondo com os titulares.

– Januário de Oliveira merecia muito mais que uma coluna, muito mais que um mero comentário, mas nada do que eu disser realmente fará justiça à lenda que ele foi e continuará sendo. Quiçá tivéssemos outros tão gigantes, geniais e únicos como você, Januário. A vida é cruel, muito cruel mesmo. Jamais te esqueceremos!

– Temos excelentes chances de classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil, bastando manter em Bragança Paulista a concentração e consistência apresentadas no Maracanã. A menos que o Bragantino tire um coelho da cartola, acho que é questão de tempo para que carimbemos a vaga.

– Esse imbróglio do “fica-não-fica” do Ganso já passou do razoável. Acabou que ele entrou contra o Bragantino e não poderá jogar a Copa do Brasil pelo Santos se for emprestado. Essa divisão de 50 a 50 no salário também não me parece vantajosa para o Fluminense. Com a ausência temporária de Cazares, o natural é que Ganso tenha mais oportunidades. Vamos ver o que vai acontecer, afinal.

– Palpites para os próximos jogos: Fluminense 3 x 1 Cuiabá (repetindo o da última coluna), RB Bragantino 0 x 1 Fluminense.