Roger Machado aproveitou a oportunidade, mas… (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, Roger pareceu ter aproveitado bem a sua última chance e resolveu mudar o time e a maneira de jogar para tornar o meio-de-campo mais compacto e dar aos pontas uma maior responsabilidade por manter essa compactação durante a partida, diminuindo o impacto dos ataques e dos contra-ataques dos adversários e aliviando um pouco a barra de volantes, zagueiros e do goleiro. Resultado? Batemos o River Plate na Argentina em noite monumental, o que nos valeu a classificação em primeiro lugar do grupo D e, nesse sábado, não fosse a displicência de Nenê, teríamos saído do Morumbi com os três pontos, para desespero dos especialistas esportivos de plantão. O esquema do Roger finalmente encaixou, e o time titular realmente consegue jogar de maneira reativa. Mesmo tendo menos posse de bola, é mais perigoso e tende a ter muitas finalizações. Contra o São Paulo foram 11, quatro a mais que o time paulista, mesmo com 28% só de posse de bola. A eficiência nos passes é o ponto a ser corrigido. Aumentando, o time ficará bem mais letal, mas estamos num bom caminho.

O problema começa, na verdade, com os elos fracos da equipe principal: Nenê e Egídio. O lateral-esquerdo é o de sempre: interessante no apoio, tem presença ofensiva, mas está sempre a um passo de entregar o ouro. Dessa vez, nem o VAR viu o pênalti que ele cometeu no finzinho do jogo, o que configuraria mais uma derrota na conta dele. Já o vovô vive de brilharecos. Faz um gol aqui, outro ali, bate uma falta… e às vezes faz o que fez no Morumbi: perde um pênalti por pura displicência depois de protagonizar uma palhaçada por quase três minutos e atira dois pontos no lixo. Infelizmente, ainda não apareceu um jogador para barrá-lo, se é que vai aparecer, mas é muito complicado ter um jogador que rende mais ou menos durante 45 minutos, depois some (pois cansa), e o time joga com 10 até que ele seja substituído. Nessa última partida, Roger só o tirou aos 80 minutos de partida. Jogamos 35 minutos no segundo tempo com um jogador a menos. O que aconteceu? O time inteiro cansou muito mais rapidamente, o que obrigou Roger a substituir os carregadores de piano. O que nos leva a outro problema: não temos reservas à altura dos titulares para o esquema proposto.

É triste constatar que a solução encontrada por Roger acabou gerando esse problema. Caio Paulista, Gabriel Teixeira, Samuel Xavier, Martinelli, Yago, Nino, Luccas Claro… até então, não enxergo reposição à altura para esses jogadores (o que é preocupante em relação a Yago, já que parece ter se machucado). Luiz Henrique não rende na ponta, apesar da insistência de Roger. Se ainda quiser muito contar com o jogador, deveria testá-lo na função de Nenê. Mas não sei se o jovem de Xerém realmente quer jogar na equipe. Parece sempre com a cabeça na lua. Já Kayky não consegue ter a mesma disciplina tática do Biel, nem aguentar o jogo todo, mas ainda me parece uma opção razoável. Vai cair o nível de compactação sempre que ele entrar, mas não há muito o que fazer. A má fase de Calegari torna difícil confiar nele num primeiro momento tanto para ser reserva do Samuel Xavier quanto de um dos volantes. E para o outro volante, temos o possante Wellington, que está longe de ser uma unanimidade. Manoel e David Braz são os possíveis substitutos dos zagueiros, e descobriremos em breve qual deles será, já que ficaremos sem Nino, melhor zagueiro do Brasil no momento, por algum tempo.

Por mais que não possa parecer à primeira vista, boa parte dessa culpa é do próprio Roger. Afinal, Pacheco, que poderia se encaixar como uma luva nesse esquema que exige disposição e intensidade, hoje está no Juventude. Michel Araújo, outra peça que poderia ser de muita serventia em quase qualquer das posições da frente, foi levado por Odair. E aí temos o que sempre falo, as opções que não existem porque não foram criadas: Higor para a zaga, Metinho para a volância, Jefté para a lateral-esquerda (ele se encaixaria bem nesse esquema também), Matheus Martins para a meia, só para citar alguns. Sem eles, a reposição é limitada e o esquema não se mantém pelo jogo inteiro, enfraquecendo na parte final, algo que vimos tanto contra o River (quando sofremos um gol) quanto contra o São Paulo (os últimos minutos foram de sufoco do time paulista). Infelizmente, isso também ficará manjado, e treinadores adversários começarão a guardar certas substituições para quando o esquema for desmontado, visando tentar ganhar o jogo no final das partidas.

Enfim, como diz o ditado, cada escolha é uma desistência. Ao escolher não poupar o time titular para essa partida, por exemplo, Roger trouxe um ponto do Morumbi, mas perdeu Yago para a partida contra o Bragantino na quarta e, talvez, para bem mais partidas na sequência. A posição da volância é complicada, e talvez seja o momento de voltar a testar o André. Cazares e Nino desfalcarão a equipe durante um certo tempo, e embora tenhamos Ganso para suprir a ausência do gringo, Manoel ainda não se mostrou firme o suficiente. Viveremos algumas incertezas durante as próximas rodadas do Brasileiro e da Copa do Brasil, o que é uma pena, porque o time havia se acertado. O desafio de Roger agora será provar que o Fluminense tem mesmo elenco, e que suas escolhas em relação aos jogadores que integrariam o elenco e teriam chances se provaram mesmo acertadas, e que eles podem suprir as carências que teremos no restante do ano. Disso dependerão nossas aspirações, nosso semestre e nossa temporada.

Curtas:

– É incrível como o time hoje depende do Caio Paulista. Quando ele sai, o time cai bastante. Só o futebol consegue nos proporcionar surpresas como essa. Que continue sendo importante para a equipe e metendo seus golzinhos de vez em quando.

– Com a convocação de Cazares, a grande chance de Ganso será agora. Nenê está longe de ser unanimidade, e se Paulo resolver ser decisivo, terá a torcida ao seu lado exigindo sua titularidade. É o momento de provar que ainda tem lenha pra queimar.

– Temos duas partidas à frente em que a vitória é obrigação. Se contra o São Paulo fora um empate pode ser considerado um bom resultado, já que segue a cartilha do Brasileirão (vencer todos em casa e empatar fora contra os grandes), mata-mata é outra história. O Bragantino, que foi uma pedra no nosso sapato em 2020, seguiu em frente na Copa Sul-americana e tem um bom time, mas temos que mostrar a nossa força. Somos os favoritos para o confronto e temos que confirmá-lo com uma boa vitória que nos dê vantagem para o jogo da volta.

– Já o outro duelo é contra o Cuiabá, que acabou de demitir seu técnico após um empate na primeira rodada. A vitória já seria normalmente mandatória, mas nesse cenário é ainda mais exigida, e qualquer outro resultado diferente será uma vergonha.

– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 2 x 0 RB Bragantino; Fluminense 3 x 1 Cuiabá.