Em futebol, tudo pode acontecer.
Verificando a história, é possível se deparar com as maiores contradições possíveis, desde jovens craques que não vingaram até jogadores de carreira modesta que explodiram já veteranos – o imortal, monstruoso e genial Assis é um desses, caso que acontece uma vez a cada século. Bom, melhor Assis ficar de lado: um herói como ele não cabe no que vem nas linhas abaixo.
E no Fluminense tudo, mas tudo mesmo, pode acontecer.
Contudo, confesso que, mesmo aos quase 40 anos de arquibancada e tendo visto praticamente tudo o que possa se imaginar de céus e infernos, desde ontem estou surpreso.
Não pela demissão de Cristóvão, que era certa há semanas, com razão. Ou meses. No entanto, sua renovação de contrato há pouco mostra que o chamado planejamento é bem mais visível nas declarações do que nas ações efetivas.
Não por determinadas ações da direção, que apoiei a princípio, ainda vejo algumas qualidades, mas todas sendo abafadas por um verdadeiro e devastador Febeapá nos últimos meses.
A contratação do novo treinador me surpreendeu.
Negativamente, é claro.
Que fique claro: nada tenho contra a pessoa do Sr. Ricardo Drubscky, que pode até ser um gênio da tática endeusado por alguns, ainda que seus resultados não sejam conhecidos nos cenários internacional, nacional, regional, local e nem em tchunarumbleiguer, aka o genial MC Magalhães. Não conheço seu trabalho; aliás, pelo que pude apurar, poucos são os que sabiam de quem se tratava.
O que contesto é sua falta de curriculum em grandes equipes do futebol brasileiro de modo a assumir um cargo como o de treinador do Flu, excetuando-se sua passagem pelo Atlético Mineiro entre 1999 e 2001, há 14 anos portanto.
Recentemente, deixou o Vitória após um amargo empate com a Juazeirense. Juazeirense.
Ano passado, sua grande façanha foi o 12º lugar do Goiás no Brasileiro.
Nas últimas cinco temporadas, trabalhou no Caxias, Ipatinga, Monte Azul, Tupi, Volta Redonda, Atlético Paranaense, Joinville, Criciúma, Paraná, o alviverde goiano e o rubro-negro baiano. Não se sabe da excelência de resultados obtidos pelo treinador em nenhuma dessas equipes (ninguém há de considerar que o título da série D do Tupi seja credencial para dirigir o Fluminense).
Num momento como esse, de pouco dinheiro, teria sido mais razoável apostar num nome que conhecesse o Fluminense e suas dolências. Qualquer um dos ex-jogadores que hoje militam como treinadores seria uma aposta mais consistente. Duílio, Marcão, Mário, Deco, tantos outros.
Aposta é aposta, mas até para fazê-la é preciso ter critérios.
Pelo visto, se houve algum critério nesta contratação, não foi o de uma revelação à beira do gramado, nem de conquista de resultados importantes, nem de curriculum. E este mesmo critério precisa ser revelado desde já, ou a direção do Fluminense sofrerá de falta de credibilidade irreversível.
Como tricolor, só me resta desejar boa sorte ao Drub (permita-me a intimidade de torcedor).
Sorte mesmo, e muita, a julgar por seu histórico na profissão.
Espero, pela primeira vez desde 1978, ver no Fluminense um treinador desconhecido, com 19 anos de carreira, que finalmente se consagre como grande campeão e montando um time marcante. Afinal, torço para um time grande e não posso ver como meta no segundo semestre um 12º lugar no campeonato nacional.
Será um prazer voltar aqui e escrever: “Eu quebrei a cara: esse treinador é genial”. Só os idiotas têm vergonha de voltar atrás em equívocos, o que está longe de ser meu caso. Não tenho compromisso com não rever meus conceitos e não admitir erros. Mas nessa, eu já saio com dois gols de vantagem.
Para finalizar, gostaria que toda a condução desse processo tivesse sido marcada por transparência desde o começo, com o clube assumindo a contratação em vez das irritantes evasivas. Mas termino por aqui. Pelo visto, pedir isso nas Laranjeiras hoje é um exagero.
Abel, Vanderlei, Dorival, Renato, Cristóvão, Drub. Seis nomes em menos de dois anos. Planejamento.
O ano de 2013 não acaba para o Flu. Diabos!
@pauloandel