R10, Fred e o boletim (por Ernesto Xavier)

ronaldinho gaúcho alexandre vidal 07 2015

Estudei em um colégio na Zona Oeste do Rio de Janeiro chamado “Cunha Mello”, entre 1995 e 2000. Foram anos maravilhosos onde formei amigos que são próximos até hoje. As séries eram dividas em dois: 501 e 502, 601 e 602, assim por diante. Os critérios para a escolha dos alunos que ficariam em cada turma eram aleatórios. Na maioria das vezes eram crianças que já estudavam juntos desde muito novos e assim seguiam ano a ano.

Em 1995, quando frequentei a 5° série, conheci meus novos colegas de classe. Eu era um novato ali. Tinha apenas a companhia de meu amigo Carlos Alberto, que estudava comigo desde o maternal, no extinto Jardim Escola Nova Vida. Éramos amigos inseparáveis.

Com o tempo fui formando novos laços, algumas desavenças. Para alguns o desprezo, para outros a euforia do encontro. Cada um forma seu grupo. O meu era bem eclético. Tinha nerd, relaxado, humorista, craque em matemática, português, gente que só tirava nota baixa e também havia quem chorasse com uma nota 9,0.

Veio o 2° ano do segundo grau e a escola resolveu mudar alguns critérios. Quando chegamos para estudar em 2000, a listagem dos alunos de cada turma mudou. De um lado os que tiravam boas notas, do outro os mais bagunceiros e com notas mais baixas. Ficava claro que eles queriam investir nos melhores alunos para melhorarem nos rankings dos vestibulares. O ENEM era apenas um bebê, mas os índices do MEC influenciavam no sucesso ou derrocada das escolas.

Eu fui para a turma dos “nerds” e fiquei separado de amigos importantes. Nos restava a hora do recreio para o contato. Durante a aula o foco seria apenas o estudo. Nada de “más influências”, era o que queriam os pedagogos. Não sei dizer se esse tipo de segregação é correto, mas no final nosso desempenho acadêmico foi melhor. Por incrível que pareça, o da outra turma também melhorou. Novas amizades se formaram, já que agora éramos obrigados a ter contato com pessoas que antes víamos apenas durante os 30 minutos do intervalo.

Mesmo depois de formado, a escola segue me ensinando. Baseado na experiência escolar: separem os bons meninos dos bad boys. Deixem aqueles que querem se dedicar e focar suas energias no melhor desempenho mostrar do que são capazes. Aqueles que estão em outra sintonia devem ficar de fora, separados, para que repensem seus caminhos e possam, se assim desejarem, tentar o retorno ao grupo titular.

A vitalidade de garotos como Gustavo Scarpa e Marcos Junior não pode ser ofuscada pela falta de vontade de um Ronaldinho Gaúcho. Não podemos deixar a grave deficiência técnica de um Gum estragar a habilidade e segurança de um Marlon.

O futebol foi feito para que os melhores sejam valorizados. Jogadas de marketing servem para vender camisa e ingresso. Para ganhar títulos, conquistar vaga na Libertadores e arrancar vitórias são necessários jogadores comprometidos com a equipe.

Já critiquei o Fred no passado, mas hoje o vejo como a melhor influência para os jovens do grupo. Ele consegue extrair o “impossível” de cada um deles. Todos têm prazer de correr um pouco mais para que ele esteja em condições de marcar um gol. Fred, hoje, é aquele professor gente boa que faz a turma estudar sem reclamar.

Alunos malcriados merecem punições, suspensões, recados na agenda para que os pais assinem, prova final, recuperação. Não serão excluídos, mas saberão que para voltar ao time não será através do nome ou salário alto, mas sim pelo que demonstram dentro de campo.

Para passar de ano o Fluminense precisará dos bons alunos. Foi através deles que chegamos próximos da liderança.

Ainda dá tempo de tirar 10.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @nestoxavier

Imagem: alexandre Bruno

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