Quero ser feliz agora (por Jorge Dantas)

 

O momento que a torcida tricolor está vivendo se encaixa bem nos versos da música do Osvaldo Montenegro chamada “Eu quero é ser feliz agora”.

Em certo trecho da letra o autor diz que “se alguém disser que a segurança exige medo, não acredite, grite, sem demora: eu quero ser feliz agora!”.

A forma como o Flu está jogando este ano dá a impressão de que nossos craques estão negando a capacidade de desempenhar bem suas funções em campo. Sim, porque o time tem potencial para jogar muito mais e obter melhores resultados do que vem acontecendo. Então, talvez o problema seja de fato psicológico, algo do tipo “você não tem capacidade, portanto limite-se a se defender e evite o risco”. Em outras palavras, não ouse!

Sabemos que o nosso complexo mental cria sistemas de defesa para manter o equilíbrio emocional e evitar frustrações baseados nas experiências do cotidiano e na cultura a que nos é transferida.

Pois é isso que parece estar acontecendo com o nosso time, como se “alguém” tenha colocando na cabeça dos atletas que futebol exige prudência, medo para garantir resultados, ao contrário do que aprendi nas peladas de várzea. Futebol não é esporte para covardes.

Penso que uma partida de futebol se resuma essencialmente na busca da vitória. Ou alguém joga pra perder? A vitória é o prêmio dos que ousam, dos que enfrentam desafios e se expõem. Assim fazia o famoso time do Santos de Pelé da década de 1960. Ia pra frente com toda a sua força ofensiva, tomava lá seus gols, é verdade, mas fazia mais do que o adversário.  Essa é a essência do futebol: fazer gols e não (apenas) evitá-lo. O objetivo do jogo pode ser resumido em um princípio simples de matemática: se A faz mais gols que B, então A é o vencedor.

No ano passado fomos eliminados pelo Boca porque não construímos um placar elástico no Rio. Em 2008 e 2009 perdemos as finais da Libertadores e da Sul Americana porque fizemos menos gols que o adversário. Parece óbvio, mas nem todo mundo consegue simplificar o futebol dessa forma. Muitos dedicam mais tempo em formular táticas defensivas, medianas, esquecendo-se de que devem construir estratégias para marcar gols antes de evitá-los.

O futebol está cheio de lições, mas poucos compreendem e praticam a arte da vitória. Futebol é espetáculo e praticar futebol arte é tão essencial quanto vencer e talvez um seja consequência do outro. Eu, quando vou a estádio, quero que o meu dinheiro e meu tempo sejam recompensados por um grande espetáculo, assim como quando vou assistir a uma peça de teatro, um balé ou uma sessão de circo. Quero ver gols, lances de classe, jogadas bonitas. Ver preguiçosos em campo, retranca e falta de compromisso com a torcida é muito frustrante, desanimador.

Não quero esperar apenas pelo resultado final, como no jogo de domingo passado, quando ganhamos (resultado), mas não convencemos (espetáculo). E é mais ou menos isso que o Fluminense vem oferecendo aos seus torcedores e aos que assistem seus jogos: futebol pobre, resultados apenas razoáveis tendendo para ruins e baixa expectativa de melhora. Os times que foram surpreendidos pelo modo de jogar do Fluminense no ano passado já assimilaram esse modelo, criaram antídotos, investiram em reforços e os principais concorrentes passaram a praticar um futebol de melhor nível que o nosso. Isso reduz drasticamente as chances de sucesso do Flu na Libertadores e no brasileiro de 2013. Este é o diagnóstico de momento, que, naturalmente, pode mudar, caso aconteça uma improvável mudança na filosofia de jogo adotada pelo Abel Braga. O sucesso do ano passado não vai garantir o ano de 2013. Pelo contrário, impõe uma revisão da forma de encarar os jogos e os adversários e a adoção de uma postura diferente do time, mais agressiva e dominadora. Precisa continuar surpreendendo.

Eu quero é ser feliz agora!

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

1 Comments

  1. Jorge, concordo com você, os times aprenderam a jogar com o Fluminense, algo tem que mudar, mas aí, parafraseando Machado de Assis, é hora de “Mudar o time, mudar o técnico ou mudarmos nós de esperança?” STT, Waldir e Waléria Barbosa

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