Quando o clássico não tinha fel (por Paulo-Roberto Andel)

Depois de quase meio século vendo jogos entre Fluminense e Vasco, incluindo grandes decisões nacionais e regionais, não tenho dúvidas: para mim, o jogo dos jogos entre os dois clubes foi em fevereiro de 1989 pela Copa União. A segunda partida das quartas de final foi eletrizante, emocionante, com golaços e muita vibração. É um dos meus jogos inesquecíveis, e simbolizava um Fluminense em reconstrução. Deu Flu, foi uma noite esplêndida.

Outro jogo muito importante para mim é o do Rio x São Paulo de 1999. No primeiro clássico do ano mais difícil da história tricolor, Eurico Miranda bostejava a valer, mas o Fluminense meteu 4 a 2, com dois gols de falta marcados por França. Uma noite de chuva onde a torcida tricolor teve a certeza de que nem a terceira divisão nos destruiria.

Rivalidade e porrada sempre teve. Na final de 1993, a Força Jovem Junior veio quebrando um 434 todo do Maracanã até Botafogo, hostilizando todo mundo. A farra acabou quando o veículo foi parado na esquina de Real Grandeza com São Clemente, pela turma do antigo 2° Batalhão da PM. Todo mundo foi em cana, o motorista agradeceu a Deus. Enfim, os tempos já não eram fáceis mas tudo podia piorar e piorou: a sede sem limites de Eurico Miranda para fazer do Vasco único protagonista no campo e na mídia, desprezando a importância do Fla x Flu, foi um desastre. Nas quatro linhas, o sucesso foi inegável com vários títulos, mas o jeito de fazer a coisa não apenas destruiu a civilidade do clássico Flu x Vasco como transformou o Cruz-maltino um dos clubes mais detestados do país.

Eurico morreu mas o fel prevaleceu. Não há partida calma entre os dois clubes, ainda mais no Engenhão. Uma rivalidade sadia de quase um século está em risco por causa de pessoas primitivas e estúpidas.

É o caso deste sábado. O Flu saindo da ressaca na Copa do Brasil, frente a um agosto cheio de desafios e precisando vencer para finalmente deixar o Z4. Claudicante, o Vasco avançou na Copa. Nos últimos anos, é nosso adversário mais difícil, independentemente de suas crises e fraquezas – nos venceu até em anos onde acabou rebaixado.

O Fluminense precisa de calma e serenidade para manter a boa sequência no Brasileirão e, claro, se desligar de vez da eliminação para o Juventude. O foco principal é deixar a zona maldita. Apesar de certa apatia na quarta, acho que o Flu pode prevalecer no clássico. Agora, não haverá facilidades. O momento exige seriedade suprema.

Tomara que seja um sábado sem violência, com menos ódio do que nas últimas edições do clássico. É difícil, bem difícil, mas a gente torce.

Seria bom ter meu pai para debater o clássico, e meu amigo Xuru para encher o saco do outro lado. A vida não quis assim, os dois já se foram há muito tempo, assim como os clássicos imortais do velho Maracanã. O tempo sempre vence. Vamos em frente.

##########

Se foi sem querer (improvável) ou não, o fato é que chega a ser ridículo que Keno coloque a mão no ouvido à espera do grito da torcida por causa do gol de quarta. Ninguém estava ganhando título algum, pelo contrário: apesar do belo gol, o Fluminense estava sendo eliminado pelo Juventude no Maracanã. Perdeu uma excelente oportunidade de não aparecer como pateta, e não foi à toa que foi advertido por um jovem de 18 anos na ocasião.

Nos últimos anos, por conta de suas gestões estapafúrdias, vimos inúmeros jogadores tricolores provocando a torcida, debochando e até mesmo sugerindo porrada. Nem nos times campeões se aceitaria essas idiotices, quanto mais no momento atual. Está na hora dessa palhaçada acabar.

Em tempo: veterano muito bem assalariado, Keno basicamente vive do belo passe de cabeça para o golaço de John Kennedy, que decidiu a Libertadores. Em troca disso, já ganhou alguns milhões de reais por atuações medíocres. Se não estivesse no Flu, já estaria na descendente da carreira, jogando por equipes de menor investimento.

Melhor tirar a mão do ouvido, calar a boca e trabalhar sério.

##########

Em 2023, o Fluminense teve a maior arrecadação de sua história.

Afundando num mar de tenebrosas transações, o Tricolor continuou duro que nem um côco, mesmo com seu balanço superavitário de faz de conta.

Aí estipula os direitos federativos de um atleta por 50 milhões de euros, mas o negocia por 1 milhão, 1/50, podendo chegar com muito esforço a 2 milhões.

A pergunta é inevitável: até quando a direção do Fluminense vai tratar seus torcedores como idiotas?