ATENÇÃO: COLUNA IMPRÓPRIA PARA MENORES DE 18 ANOS
OS PERSONAGENS
Filhão: o maior tricolor da era moderna, branco, de bem, casado, dotado de enorme disponibilidade de tempo para picardias estudantis. Respeitável. Militante incansável da politicagem situacionista do clube. Conhecido no Baixo Álvaro Chaves como “Lovergirl” e “Homem-Sauna”. Completamente apaixonado pelo lutador careca das Laranjeiras, a quem vê como um Apolo em fúria. Deprimido por conta do armário no qual vive.
Teté de Montserrat: se Filhão fosse o Batman, ele seria o Robin. Uma espécie de menino prodígio do prócer das Laranjeiras. Vaidoso a ponto de tingir as sobrancelhas e apará-las a navalha, foi transformista na França e peregrinou pelo Bois de Bologne. Agora, é um assessor de cama e mesa da campanha do clube, não necessariamente nesta ordem
Miguxa Fiofó: uma decadente jornalista cinquentona e excêntrica, fã de cantoras da MPB: Simone, Joanna, Ângela Rô-Rô, Marina, Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Martinália e Leci Brandão. Possui uma voz peculiar, tida por alguns humoristas como a da “mulher fumante com pigarro”. Obcecada por choques de ordem, faz o estilo sargentão. Você já entendeu, né? Sapatão rubro-negro.
Charles De Lausanne: um liberal em todos os sentidos, bem nascido e formado, delicado e discreto, poliglota e danadinho. Velho conhecido da Pecadópolis das Laranjeiras, chamada sauna da sede. Sonhando com o grande poder do clube. Fã de Jimmy Somerville e David Hodo, o eterno operário do Village People, a seminal banda do movimento gay disco dos anos 1970. Completamente obcecado por Miguxa, o sapatão flamenguista.
O LOCAL
Bar Corujinha, esquina de Hilário de Gouveia com Domingos Ferreira, Copacabana dark side. Um ambiente sem preconceitos, conhecido pela frequência LGBT.
POR QUE DIABOS ESTAS PESSOAS ESTÃO JUNTAS?
Acredite se quiser, foi coincidência. Filhão e Teté estão sempre juntos como se fossem Charles Moeller e Cláudio Botelho. Miguxa foi ao Corujinha tomar um chope e procurar emoções diferentes. E Charles, embora não more em Copacabana, gosta muito de um dos pratos especiais da casa: peito de peru assado com ovos apimentados e pepino recheado. Queria apenas jantar. Os quatro fantásticos em três mesas diferentes, mas um fator fulminante os reuniria de vez para sempre.
QUE FATOR?
Irritado porque Esmeralda havia demorado duas horas no banho depois de voltar da academia, Chico Bicha resolveu mudar o rumo. Antes, o exótico casal sairia para jantar na Marisqueira, um tradicional restaurante português da Rua Barata Ribeiro. Numa de suas vingancinhas, resolveu levar a gorda (ou ex, nunca se sabe ao certo nesta trilha muitchoooooo louca) ao quartel-general da noite homo de Copa, o Corujinha.
Depois de prontos, tomaram o táxi rumo à Praça Serzedelo Corrêa, vulgarmente cinhecida no passado como a “Praça dos Paraíbas”. O Corujinha é o primeiro imóvel da Rua Domingos Ferreira, bem perto da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. Chegaram rapidamente. Ao entrarem no gay bar, aí tudo começou.
FORÇAS ESPECIAIS REUNIDAS EM PROL DA LIBERAÇÃO
Recepcionado por Pedro, o garçom esquisitão do Corujinha, Chiquinho deu um sorriso de canto de boca, lembrando do grito de guerra do cantor Edson Cordeiro em seu álbum de gravações da era disco: “Eu vou botar ordem nesse puteiro”. Ressalte-se que a casa é por demais respeitável.
Mal chegou, foi imediatamente saudado por Charles, que estava sozinho no meio do ambiente. Quando os dois se cumprimentaram, aí Miguxa percebeu a presença do fã e do bardo da sauna. Gritou “Ei, dupla dinâmica!” e imediatamente manjou Esmeralda. Quando o trio se abraçou, do fundo do bar erigiram Fifi e Teté:
“Genteeeeeeeeeeee, vem pra cáááá! Pedroca, senta na minha paçoca, rararararara! Junta a mesa pra gente?”
Estava firmado o bonde da sacanagem LGBT. Esmeralda observava os movimentos com elegância e frieza. Formou-se uma mesa feliz e danadinha.
Naturalmente, a mesa reunia cavalheiros de diversas correntes politicas do Fluminense, mas o amor que não ousa dizer seu nome fala sempre mais alto do que qualquer jogo do poder. A política passa, a suruba fica para sempre.
GOSTOSO VAIVÉM DE PAPO FURADO
O casal Zanzibar de frente para a frenética dupla da situação, com Charles na lateral direita e Miguxa na esquerda. Uma perna roçando no joelho do Macunaíma Gay e a outra em Teté. Clima de emoções diferentes padrão Agnaldo Timóteo. Falavam sobre tudo, especialmente de musicais da Broadway. Uma mesa de coleguinhas.
Aos poucos, percebendo certo clima de gente que se entende, Miguxa chegou um pouco mais perto de Esmeralda. No som do bar, “You make me feel” com Sylvester e “It’s raining men” com The Weather Girls. Risos, drinques e olhares lânguidos, sugestivos. Muita caipirinha. Pediram os pratos para a janta.
Num encontro de politiqueiros tricolores, era inevitável falar das eleições no Fluminense. Perguntado por Filhão Fifi sobre a possibilidade de uma grande união em nome da paz e, claro, assegurando dinheiro e poder nos cargos, Chiquinho foi direto ao assunto:
“Fi, na vida é dando que se recebe. Quem quer rir tem que fazer rir. O que é bom para todos não fica a dever para ninguém.”
Certas coisas são óbvias demais.
Debaixo da mesa, joelhinhos em tom de romance privado e respeitoso. Mais ousada, Miguxa pôs a mão direita na coxa de Esmeralda. Não houve rejeição ao ato.
DISCO NIGHTS
Alguns drinques depois, os risos estavam soltos, os beijinhos no rosto também. Então Charles deu a senha: “Pessoal, eu tava a fim de dançar, mas não queria ir para uma boate. O que vocês acham de irmos todos juntos? Tenho uma ideia.”
“Qual?”
“A gente pode ir pro Vip’s (famoso motel da Avenida Niemeyer) e alugar uma suíte por lá. Fazemos uma festinha particular. Não é mais gostoso?”
Ajeitando as sobrancelhas delineadas, Teté imediatamente interveio: “Pedroca, fecha a conta na minha pipoca? Rararararara! Brincadeirinha, colega!”
“Uau! It’s a good idea, guys!”
O garçom esquisitão tomou as providências.
Sem o menor pudor, Miguxa sapatão já alisava a frente da calcinha de Esmeralda por baixo do vestido. A acariciada não demonstrava, mas já reagia com liquidez ao carinho.
Conta fechada, Uber solicitado para dois carros, o sexteto estava pronto para uma nova aventura. Indícios claros de que os acordos de poder nas Laranjeiras iam sem costurados na cama. Ou no chão.
Deram tchau para Pedro e partiram para o Vip’s.
DE FRENTE PRO CRIME
Ao adentrarem a enorme suíte do motel, ligaram o som e começaram a dançar muito, exceto Miguxa e Esmeralda que foram para um canto. Fifi e Teté soltavam a franga escutando trance e pulando feito loucas. Abraçados, Chiquinho e Charles entreolhavam-se com afeto. A suruba estava pronta.
Em certo momento, a música e a dança ficaram menos importantes do que a delicada retirada de peças de roupa, tudo livre, leve e solto. Uns e outros, até que todos estivessem nus e disponíveis para o sexo grupal.
A enorme janela de frente para o Oceano Atlântico e seus mistérios da alma.
TODOS POR UM
Da vida nada se leva, o importante é gozar, ninguém era dono de ninguém.
Esmeralda tremendo de tesão no chão enquanto Miguxa chupava sua buceta e resmungava com voz de pigarro. Fifi e Teté de pegação debaixo do chuveiro. Charles e Chiquinho namorando suas intimidades com as mãos.
“Quer ser meu presidente?”
“Eu sou teu súdito, senhor e rei. O trono é meu e teu. É nosso. Consolidemos esta linda amizade.”
Beijaram-se.
“Vem, meu presidente!”
Perto dali, o berro da sapatão:
“ELA É PURO ÊXTASE, IIIIIIHHHHHH!”
VALE TUDO
Os seis se encontraram na grande cama da suíte e fizeram de suas carnes uma celebração à vida. Trocaram secreções, líquidos e desejos. Fuderam muito.
Pela primeira vez, Chiquinho estava livre de seu armário na frente de Esmeralda. E ela se permitiu a masturbar o ânus de Miguxa, que gritava “Fode o cu do Mengão, sua puta! Fode gostoso! Isso aqui é Flamengo, caralho!”
O marido voyeur imediatamente gritou: “Aiiiiiiiiii Fluzão, come gostoso o cu do Mengão!”
A dupla dinâmica olhava e ria. Um disse para o outro: “Bateu saudade daquele bofe vascaíno. Ele tinha atitude, mandava na gente, bem reaça do jeito que eu gosto!”
Chiquinho chegou por trás de Charles, começou a acariciá-lo e os dois foram para a banheira estilo dolce far niente. Havia chegado a hora do delicado bom moço ser mulher do escroque tricolor. Mas nada que exigisse pressa: o domingo sem futebol estava livre para o mar de sacanagens da suruba Fla-Flu.
A véspera do feriado da Independência promete. Enquanto isso…
“ÃO, ÃO, ÃO, NA BUNDINHA DO FILHÃO!”
NA LONA
Todos deitados de manhã depois do prazer cumprido. Chiquinho, ligado, sacou do bolso um papelote, foi para a grande janela com um prato, abriu o pacote, separou as carreiras e desceu o nariz no talco do demônio, enquanto ficava com os olhos arregalados ao procurar o sentido da vida em frente, mergulhada nos mistérios do Atlântico Sul. Depois olhou para trás e sentiu certo alívio ao perceber que Esmeralda estava desmaiada de sono e tesão, ao lado de pênis amolecidos e de uma buceta reacionária.
Finalmente fazia o papel de um homem de verdade, a seu modo bastante peculiar.
“Foda-se tudo: o que importa é o poder”.
Panorama Tricolor
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