“Por incompetência, leniência e soberba perdemos o Maracanã”. Essa é a frase que não quero falar no futuro e coloco como título desse artigo para fins de reflexão.
 
Ao fim desse mês, teremos audiência pública para discutir os termos de referência que envolvem a concessão do Maracanã, e não precisa ser expert, analista político ou advogado para afirmar que não há hipótese do Flamengo não estar liderando o consórcio que irá vencer o Maracanã.
 
Ao contrário das licitações passadas, onde se teria um grupo operador que requeria ter carta compromisso de dois clubes, nesse caso os clubes estão sendo permitidos administrar o Maracanã e, logicamente a experiência adquirida no contrato recente, que tem sido renovado, já é atendida por Flamengo e Fluminense.
 
O fato é que temos de ser pragmáticos, pois ou nos articulamos com o Flamengo ou literalmente estaremos fora, e não podemos ter uma visão diferente: é algo voltado à inteligência competitiva, pois sem o Maracanã, o Fluminense não só se apequenará, assim como caminhará para o seu fim em médio prazo, e fará com que o Flamengo cada vez mais se afaste e o Maracanã se transforme num templo rubro-negro. Uma visão inclusive equivocada na gestão do futebol, que é a “espanholização”.
 
Achar que construiremos o nosso próprio estádio, quando não conseguimos gerenciar as nossas dívidas e o elevado passivo, criando um gasto de investimento (CAPEX), ou que Laranjeiras virará um grande “alçapão”, é uma visão curta por razões óbvias. O projeto de revitalização de Laranjeiras é muito positivo, e uma ação que apoio, mas o fato é que dificilmente conseguiremos ter algo superior a quatorze ou quinze mil ocupantes pelos reflexos que existirão na população do entorno, como limitações na área de escape. Isso impede inclusive que tenhamos aderência mínima na campanha para sócios-torcedores, que é uma fonte também alegada de receita, ou seja, poderemos ser um clube de 15 mil torcedores, enquanto usaríamos eventualmente o Maracanã por aluguel, dentro da frágil cláusula de oferta por parte do futuro operador que será o Flamengo.
 
Não há também dúvidas que, no Maracanã, assim que for concedido permanentemente, uma série de enxugamentos de custos poderão ser feitos, que hoje estão amarrados em contratos temporários, não só na questão da vigilância, gradeamento, mas uma série de outras atividades que, com o mínimo de gestão independente e não vinculada a interesses públicos, podem ser feitos, e serão feitos.
 
O fato é que, enquanto o Flamengo tem uma equipe extremamente profissional, muitos executivos com vida financeira equacionada e vindos de experiências prévias empresariais, a equipe de gestão no Fluminense é extremamente limitada. Sem entrar em qualquer outro mérito, quando se estabelece a comparação, infelizmente temos que afirmar que a gestão deles está em outro patamar.
 
O Maracanã é mais que um templo do futebol mundial, é também o local onde o Fluminense conseguiu suas grandes conquistas, e onde nos consolidamos como torcedores do Fluminense, desde o campeonato mundial de 1952 aos campeonatos nacionais que conquistamos, e até nas épicas participações não vencedoras em campeonatos sul-americanos, o Maracanã foi nosso templo. As vitórias históricas sobre os “mulambos” aqui também aconteceram e, portanto, não podemos nos entregar e deixar que isso aconteça.
 
É o momento de nos despir de vaidade, termos uma atitude profissional e até deixarmos de lado as disputas históricas com o time da regata para buscarmos uma solução conjunta, pois obviamente as condições estabelecidas poderão e serão desenvolvidas por eles sem a nossa participação, e não podemos aguardar que isso aconteça por mero otimismo, esperando por um resultado diferente.
 
Perder o Maracanã seria, sem dúvida alguma nossa maior derrota histórica, muito pior do que a perda da Libertadores no Maracanã e as eventuais quedas que aconteceram. O Maracanã não é só um templo do futebol, é um patrimônio imaterial que pertence ao Fluminense.

Faço um apelo público à atual direção do Fluminense, em especial, ao Presidente Mário Bittencourt, que essa questão certamente pode ser inclusive superada pela inexistência da CND, diante da formação de uma sociedade de propósito especial, se coloque como prioridade número um.
 
Destarte, é importante que a direção do Fluminense imediatamente busque o entendimento com a direção do Flamengo, isso não é em uma postura subserviência e sim de inteligência. Ao mesmo tempo, deve procurar o Governo do Estado, e não só participar da audiência pública bradando, mas com uma ação muito integradora em prol do futebol do Rio de Janeiro, e não tenho a mínima dúvida que mesmo com reações iniciais, poderá ter uma acolhida pela outra parte, até porque, infelizmente pegará mal a entrega desse estádio ao Flamengo, porém, será esquecida na semanas seguinte e até celebrada pela maioria dos torcedores existentes e eleitores, para que não se tenha uma divisão equilibrada do futebol carioca.
 
A própria Federação de Futebol do Rio de Janeiro – FERJ, deveria buscar também esse entendimento, até porque o fortalecimento praticamente concentrado no Flamengo faz com que a Federação seja uma mera entidade figurativa, aliás como aconteceu recentemente na quase intervenção na confederação, onde o representante de São Paulo era a Federação e o do Rio de Janeiro era o Flamengo.

“Por incompetência, leniência e soberba perdemos o Maracanã”. Espero que minha primeira frase desta coluna não aconteça e que não seja a frase de um pessimista, mas que o tempo mostre que houve uma postura de superação e importante da direção do Fluminense.

Isso é o que todos nós, tricolores, esperamos.

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