Acabei de chegar no Vieira para tomar uma rápida cerveja com Léo. Ivan, o melhor garçom do Rio, trouxe uma péssima notícia: a morte do Robertão.

Meu coração se transformou nos escombros do antigo Maracanã.

Robertão era um rubro-negro típico: dois passes de um perna-de-pau transformavam-no em um novo Adílio ou Zico. Qualquer migalha era o melhor do mundo.  Assim, disputamos muitos e muitos Fla-Flus da retórica pelas mesas do septuagenário bar da Cruz Vermelha. Depois de muitas discussões, todas inúteis, brindávamos e ríamos a valer. Mas o Fluminense sempre era superior, havia sentido.

Ano passado, uma situação engraçadíssima: Atlético Mineiro e Flamengo, o empate era otimo para nós. Torcemos a valer – nem tanto – para a Gávea no bar. Passarinho e Robertão vociferavam: “Canalhas! Secam o ano inteiro e agora fingem que torcem pra gente”. Deu certo e o Flu foi um grande tetracampeão.

Muito antes de eu nascer e lá estava o Robertão disputando Fla-Flus imaginários pelas décadas: morou setenta anos no edifício Moraes, acima do velho Vieira. O tricolor e o rubro-negro disputando cada conversa, cada flerte, cada pequeno naco de memória. Eu falava de Cristóvão e Paulo Goulart, ele lembrava de Dida e Evaristo. E Bartholomeu contra Baena? Uau, cem anos!

Um câncer rápido e rasteiro silenciou uma das figuras mais engraçadas que já conheci num bar. Abate em pleno voo. A vida não é justa.

Por quem os sinos dobram?

Houve um silêncio num Fla-Flu. Um gosto de logo mais, até breve ou nunca.

Houve luto.

O Robertão era o outro lado da arquibancada, aquele mesmo que nos bateu há dois domingos. Adversário necessário, confronto inevitável.

Mas acima de tudo era um amigo querido, um camarada engraçado, um correto irmão.

Adversários no futebol não precisam ser inimigos.

Quantas vezes eu ri e vivi num Fla-Flu? Hoje, somente hoje, o que me resta é saudade e lágrimas, do tricolor ao vermelho-e-preto.

Meu amigo fanfarrão foi-se embora.

Os sinos dobram por causa de meu coração partido.

Futuramente haverá um Fla-Flu e pensarei em Robertão. Quando as torcidas entoarem seu cânticos, eu pensarei em Robertão. Mesmo quando o grande Maracanã se apagar, eu pensarei em Robertão.

E serei feliz por um minuto ao pensar numa rivalidade colorida, charmosa e interminável.

É que futebol não existe sem o outro.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @PauloAndel

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216