No último final de semana, na partida contra o Bagantino pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, tivemos a infelicidade de assistir o que entendo ter sido o ápice do movimento de perseguição ao Martinelli pela torcida do Fluminense.
Creio que seja óbvio, mas não custa deixar claro que não tenho nenhuma intenção de definir qual jogador merece aplausos ou vaias do torcedor. Dito isso, nosso desempenho no segundo tempo da partida foi horroroso e Martinelli nem era o pior jogador em campo. Existem outros jogadores no elenco do Fluminense que repetidamente têm desempenho ruim e que cometem erros capitais, porém nenhum desses recebeu vaias nesta ou em qualquer outra partida.
Martinelli chegou a ser vaiado depois do gol salvador e mostrou todo seu caráter diferenciado ao comemorar com seus companheiros sem fazer qualquer sinal ou provocação com a torcida. Segundo a ferramenta SofaScore, Martinelli esteve entre os melhores jogadores em campo com nota 7.5.
Essa perseguição tem todas as características de coisa organizada. Começou pequena na arquibancada e cresceu com a ajuda de perfis grandes nas redes sociais que, por razões que prefiro não especular, resolveram eleger o jovem jogador como o único ou maior responsável por qualquer partida ruim do Fluminense. Até mesmo quando Martinelli não joga é possível ver esses perfis no X, antigo Twitter, reclamando do jogador.
Martinelli não apenas tem sido titular do Fluminense com todos os últimos técnicos, muitas vezes sendo o único jogador da base em campo, mas também chamou a atenção de Guardiola no Mundial em 2023 e há sabido interesse por ele de times como Palmeiras e Flamengo. Enquanto isso, o rapaz é flagrado em lágrimas no vestiário, entristecido pelo tratamento injusto e desumano que recebe.
A falta de defesa deste jogador e de outros que passaram por isso no passado, como Marlon Freitas, pelo Fluminense é algo inaceitável e que ilustra que tipo de cuidado a diretoria do clube tem com a sua base. Caberia à diretoria do Fluminense vir em entrevista coletiva pedir para a torcida parar com essa perseguição. Mas o que esperar da mesma diretoria que espontaneamente queima publicamente a carreira de jovem jogadores da base por uma festinha na concentração?
Clubes como o Palmeiras têm muito mais competência em cuidar dos seus jovens. Recentemente vazou que jogadores destacados da sua base também foram flagrados em festinhas, mas não apenas os detalhes foram mantidos em segredo como os jogadores envolvidos foram repreendidos reservadamente. No Fluminense os indisciplinados jogadores acabaram desvalorizados e saindo do clube por valores muito abaixo dos bagunceiros do Palmeiras.
Foi um sopro de esperança ter ouvido Renato Gaúcho falando, na entrevista coletiva depois do jogo contra o Bragantino, que é preciso que a torcida tenha mais paciência com os jovens. Espero muito que, nesse período que Renato estiver à frente da nossa comissão técnica, nossa base tenha a atenção e priorização necessários e que ele possa influenciar positivamente a diretoria, que tem infelizmente priorizado a utilização de jogadores contratados no elenco.
Martinelli é só mais uma vítima desse vil sistema hoje em operação no Fluminense, que há muito tempo trata muito mal nosso principal ativo, a base de Xerém. Espero que a próxima gestão que assumirá o clube em 2026 tenha um comportamento diametralmente oposto ao da gestão atual na gestão da nossa base.