Nasci em 1968 e meu pai dizia que eu era pé quente quando pequeno.
Além do Brasileiro de 1970, o Fluminense ganhou os campeonatos cariocas de 1969, 1971, 1973, 1975, 1976 e 1980; então, com 12 anos de idade, eu já tinha sete grandes títulos.
Aos 17 anos de idade, passei para 11 grandes títulos: 1983, 1984 e 1985, além do Campeonato Brasileiro de 1984. De lá para cá, por diversos fatores, a coisa mudou e foi pontual.
Batemos na trave na Copa do Brasil até a conquistarmos em 2007. O novo Brasileiro demorou bastante, mas chegou em 2010. Antes disso, tivemos a tristeza pela Libertadores de 2008.
O futebol mudou, as coisas mudaram, o Brasil mudou, tudo mudou com o tempo. As competições locais passaram a contar com certo desprezo de uma parte dos torcedores em função das conquistas continentais. A maior prova do que acontece hoje em dia é que muitos times não jogam o Brasileiro para vencê-lo e sim para ter a vaga na Libertadores. Com todo respeito a esses, comigo não: eu jogo qualquer competição para vencê-la. Fui criado assim.
Muitos dizem que o Campeonato Carioca já não vale nada, mas imagine se o Fluminense tivesse sido eliminado neste domingo pela Portuguesa: o caos já teria dominado as Laranjeiras às vésperas de uma partida importante pela Libertadores. Importante, porém não assustadora, é bom que se diga. E se o Carioca não vale nada mesmo, por que nosso rival tem feito tudo para ganhá-la neste século XXI, independentemente de outras competições que almeje?
A performance do Fluminense diante de seus adversários na competição continental mostra que há grandes possibilidades de conquistar, no mínimo, a segunda vaga do grupo, senão a primeira.
A simples menção sobre a decisão do Campeonato Carioca já causa urticária em alguns, porque o Fluminense deve desprezar o campeonatinho, porque deve colocá-lo em segundo plano, deve tratá-lo como uma insignificância porque o grande objetivo é passar de fase na Libertadores. Mas por que não se pode fazer as duas coisas? Quem criou esse paradigma?
Nas duas últimas semanas tivemos sufoco: a complicação dos deslocamentos Colômbia/Equador trouxe natural cansaço para o Fluminense, que já deve ter sido parcialmente compensado pela escalação diante da Portuguesa, pois passamos bem. Nas próximas semanas, não faremos qualquer viagem. O Fluminense jogará quatro partidas no Maracanã.
Vai decidir o título estadual diante de seu maior rival em dois jogos.
E provavelmente confirmar sua vaga a fase final da Libertadores, sem depender da última partida diante do River Plate, na Argentina.
O argumento de se poupar jogadores veteranos, que devem ser utilizados com máxima inteligência, ainda se compreende.
Que se tome cuidados com a questão da questão física para impedir contos problemas no decorrer da temporada, entende-se.
Agora, a gente não está jogando a final da Copinha Narumbleiguer, mas sim disputando a que o Fluminense mais venceu em sua história de quase 120 anos, contra o seu maior rival e que certamente não vai entrar com pé mole na decisão.
Quero que Fluminense tome todas as precauções para se classificar na Libertadores, ela é uma parte muito importante da atual conjuntura tricolor, mas ela não é o Fluminense. Ela não é a vida do Fluminense. Ela é uma parte importante que precisa ser conquistada.
Eu não quero largar a Libertadores nem a Copa do Brasil, nem o começo do Brasileirão. Todas as frentes são importantes. Todas. Quero escrever livros sobre tudo isso. Mas sinceramente eu gostaria de ver, em certos setores da nossa torcida, menos esnobismo oco e maior valorização da nossa história.
Para alguns, parece que virou um palavrão ser campeão em cima do Flamengo. Eu apenas quero ser campeão carioca. Dá licença, por favor?
Tenho direito de querer isso, eu e muita, mas muita gente. Torço por um clube grande, acostumado a títulos, mas que nos últimos anos tem a segunda maior seca de sua era profissional. A primeira foi aquela entre 1986 e 1994. Você se lembra? Pois é, tempos difíceis mas que foram disputados com muita luta e chegada a decisões.
Sinceramente conto com a lucidez de Roger para cuidar das escalações dos próximos jogos. Não há a menor dúvida de que o Fluminense tem que valorizar o máximo os jogos da Libertadores, mas deixar de lado a decisão do Carioca seria uma sandice sem tamanho, por questões históricas, comerciais e emotivas: pela primeira vez na temporada 2021 seremos transmitidos em rede nacional por duas partidas consecutivas. Estão em jogo quase 110 anos de disputa.
Sinceramente, eu não quero entregar paçoca para o Flamengo, nem naquele campeonato de golzinho que as crianças fazem com uma bolinha de papel e os dedos na hora do recreio. Nem em campeonato de futebol de preguinho na mesa, com a moedinha servindo de bola. Nem em totó, jogo de botão amador e game, quanto mais no futebol profissional.
Outro fator em jogo: depois de muitos anos sem disputa direta entre os dois clubes voltamos enfrentar o rival numa decisão em 2017 e 2020. Perdemos a primeira com arbitragem extremamente muito duvidosa e a segunda de forma inapelável (houve quem celebrasse que fizemos jogo duro, só que o título é para quem vence). O Fluminense tem a obrigação de lutar pelo título carioca e impedir três derrotas consecutivas em finais para o Flamengo, o que jamais aconteceu em 119 anos. Conta para história do clube, para a história do clássico, para a tradição secular do Fluminense jogar como time grande, e ser time grande significa lutar por títulos, não apenas fazer campanhas dignas.
Mesmo com o Campeonato Carioca sendo tratado de maneira mequetrefe em termos de transmissão e, consequentemente, baixa audiência, ele acabou sendo o mais acessado nas redes sociais neste ano de 2021. É a mostra do interesse das pessoas pela competição, mesmo mal feita, desorganizada, deficitária e quase clandestina na mídia. Imagine se fosse organizada, com drafts, reabilitando equipes tradicionais…
Mas o que me interessa é que eu quero ser campeão carioca. Dá licença, por favor?
Qualquer equipe que resolva disputar competições em alto nível no futebol brasileiro vai vivenciar maratona de jogos. Ė impossível isso não acontecer. Jamais tivemos uma temporada folgada nesse sentido. Que bom: é sinal de que estamos na disputa. O problema se resolve com um bom elenco revezando peças mas mantendo o nível, sem compromissos com barangas de empresários.
O equilíbrio dos times que são escalados a cada quarta e domingo cabe a cada treinador. No Fluminense também é assim ou, ao menos, deveria ser.
Isso não pode significar que o equilíbrio é colocar o time reserva numa decisão local e o outro, titular, em outra, porque se acontecer do Fluminense não avançar longamente na Libertadores – tudo o que NÃO queremos, mas estaremos numa disputa de mata-mata -, poderia ser perdido do mesmo jeito à frente e jogando fora a chance de brigar pelo Carioca.
Qualquer título é importante para o Fluminense, qualquer um, mas principalmente se disputado contra uma grande equipe. E muito mais se for contra o grande rival.
Só a Libertadores importa? Porra nenhuma! Quero ganhar o que tiver pela frente. Foi assim que eu vivi o Fluminense nos últimos quase 45 anos (mesmo nos últimos oito) e assim eu vejo. Quem não quiser, tudo bem, mas não conte comigo para pantominas e saiba que a história do clube é muito maior do que a Libertadores, que eu também quero ganhar e agora em 2021. A quem não conhece o tamanho da história do Fluminense, nunca é tarde para aprender.
Caros amigos, perdoem o desabafo. Eu apenas quero ser campeão carioca. Dá licença, por favor?
É meu direito querer que adolescentes e crianças tricolores tenham ao menos uma parte da felicidade que eu tive. Os garotos de 12 anos da nossa torcida só conhecem títulos pela internet; os de 17 tiveram os dois Brasileiros e o Carioca 2012, já distantes, e mais cinco lutas contra o rebaixamento. Agora que o momento tricolor parece ser outro, de bonança, não cabe desprezo a nenhum troféu – TODOS merecem luta.
Chega de esnobismo oco.
Todos os esforços das próximas horas devem ser voltados para o importante jogo contra o Santa Fé. Imediatamente a seguir, tem Fla x Flu, coisa séria demais. Muito séria. Já escrevi bastante a respeito, vocês sabem.
O ANDEL TÁ CERTO E TRATA – SE DE GANHAR TUDO E SE NÃO POSSIVEL TUDO AO MENOS QUASE TUDO…IMPERDOÁVEIS SÃO INTERREGNOS LONGOS E A FAZER UM TIPO DE ÓRFÃO SEM HISTÓRIA E SEM PERCEPÇÃO DO ATO DE PERTENCER, INTEIRO E A ENTENDER A IMPORTÂNCIA DOS TROFÉUS E ADEMAIS MAIS RELEVANTES..É!…
Revivi os três atos. Fantástico!