Pirro (por Walace Cestari)

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Tarde de domingo. Sol. Parecia verão. Dois dias depois de uma viagem, novamente o campo de batalha. Novamente a pressão pela vitória. O Fluminense disputava uma vaga nas finais do Carioquinha. O Botafogo jogava a decisão do título mais a seu alcance no ano inteiro. E foi com esse preâmbulo que a bola rolou.

O início do jogo mostrou que a contenda seria duríssima. Fazendo jus à alcunha de guerreiros, os jogadores partiram para cima do adversário. Vontade, gana e força de ambos os lados. Por pouco a partida não se transformou em uma verdadeira batalha. Até o primeiro quarto do jogo, o que se viu foram entradas duras, agarrões e muita confusão.

Depois de arrefecidos os ânimos, o jogo efetivamente começou. E o Flu era melhor, tomando a inciativa do jogo e criando boas chances. Entretanto, a finalização do ataque tricolor ficou a desejar. Houvesse um pouco mais de capricho e teríamos marcado. Abel resolveu poupar Sobis, puxando Wellington Nem para a posição, o que não rendeu bons frutos. Nem não anda muito bem nesses últimos jogos e fazer o papel do centroavante não é sua característica. Combinadas as duas coisas, tivemos mais uma partida apagada de nossa joia.

Pressionar e criar chances não significou, contudo, que o Botafogo estivesse acuado. Pelo contrário, com toques rápidos e mostrando excelente entrosamento, o alvinegro levava perigo ao gol tricolor. E foi em uma bola afastada, despretensiosamente chutada a cinquenta metros de distância que o imponderável ocorreu: a bola sobrou nos pés de Rafael Marques que concluiu sem chances para Cavalieri.

Foi um primeiro tempo de um bom jogo, corrido e disputado. Não faltou vontade, nem aplicação tática. Qualquer um dos times poderia ter saído com a vantagem. Mas o gol foi determinante. O intervalo foi determinante para o que o Flu tentaria dizer para todos no estádio. Estava claro que o time entrou com o espírito para vencer. Tivesse feito seu gol, alcançasse uma vantagem ou mantivesse o placar de empate, o segundo tempo seria diferente. Mas descemos com o peso de uma enorme desvantagem.

Era possível virar? Sim, era. Mas nosso estrategista anteviu os resultados. A história se repetiria em forma de farsa. Os séculos lhe sopraram nos ouvidos as histórias de outras épicas batalhas. O Botafogo já dera mostras que não abdicaria da vantagem. Que lutaria com todas as forças pela taça que estava à distância de quarenta e cinco minutos. Dobrá-los era possível. Mas a que preço? A História bateu às portas de nossos vestiários. Disse-lhes Abel: “Vamos evitar uma vitória de Pirro”(1).

Decerto seria pírrica. Como havia sido no ano anterior. Não que tenhamos facilitado as coisas para o Botafogo em seu justíssimo caminho rumo ao título. Mas não poderíamos arriscar o preço do jogo que teremos na quarta-feira. Tentamos tocar a bola, achar uma jogada. Fizéssemos um gol no início, tentaríamos algo mais agudo. O Botafogo continuou mostrando que estava disposto a tudo. Naquele segundo tempo, nós não mais estávamos.

Michael não precisaria se poupar, mas praticamente não viu a bola. Nem Samuel, que seguiu pelo mesmo caminho. Felipe poderia ter caprichado mais em um ou dois passes, mas nada disso mudaria o resultado. O Botafogo estava 100% focado no jogo. Como esteve dedicado durante o campeonato inteiro e por isso fez merecida sua conquista. O Flu, entre algumas lesões e problemas com o calendário, teve vida mais dura que previra na Libertadores e retirou o foco do regional. Flamengo e Vasco foram algozes de si mesmos, um pela reestruturação por que passa, outro pelo desmonte que sofre.

Ferimentos leves. O importante é que ninguém se contundiu ou mesmo se viu abalado com uma derrota que – no fundo, no fundo – sabíamos que era provável. O foco está na quarta, quando esperamos assistir a um jogo inteiro com tanta vontade quanto aquela com que hoje o time nos brindou no primeiro tempo. Estaremos mais focados. Teremos o apoio dos quinze mil talibãs do bem (nossa, desde quando o futebol tornou-se tão chato pelo politicamente correto?). Preferimos a tristeza do hoje ao Pirro de outrora. Aprendemos. Crescemos. Amadurecemos. Na verdade, “armadurecemos”. E lutaremos até o fim pela nossa classificação na batalha libertadora. Avante!

(1) Sei que não precisamos de tantas explicações históricas, mas alguns amigos de clubes menos ilustrados por vezes aparecem por aqui, então um pouquinho mais sobre Pirro:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vitória_pírrica

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

2 Comments

  1. Realmente vi um time aguerrido no 1o tempo com vontade de vencer…tomamos um gol no momento em que éramos melhores em campo, o gol nos matou

    no 2o tempo ficamos nitidamente sem perna.

    com certeza ferimentos leves…QUARTA É GUERRA ACREDITO COMO NUNCA

    ST

  2. Wallace, meu amigo, você viu outro jogo! Vontade e gana, só do lado alvinegro! Eu nunca vi um Fluminense tão blasé numa final como ontem! O prenúncio do fracasso já se anunciara quando a comissão técnica resolve poupar jogadores pra uma final! Incrível!

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