Tricolores de sangue grená, haveria assunto para não acabar mais nessa coluna, caso eu quisesse tratar de tudo o que aconteceu desde a última vez que escrevi para este espaço e o que ainda vai acontecer. Eu poderia falar, por exemplo, da patética atuação coletiva da equipe de Odair Hellmann em dois jogos seguidos, ambos gerando derrotas e o nosso despencar na tabela, já flertando perigosamente com o Z-4, que está a meros três pontos de distância; poderia tratar da semana decisiva que teremos pela frente, em que enfrentaremos um combalido Corinthians nesse domingo, sendo esta uma preciosa chance de recuperação no Brasileiro, e também a partida de ida da Copa do Brasil contra o mesmo Atlético-GO que nem Odair, nem Vasco, nem X conseguiram vencer; poderia discorrer a respeito da venda de Evanílson, que, já sabíamos, seria estapafúrdia, como provavelmente será a de Marcelo Pitaluga, sendo esta ainda mais grave, posto que temos contrato com o atleta; e, é claro, poderia abordar o absurdo veiculado em rede nacional pelo vice de finanças do Flu, que ainda se mantém no cargo por algum motivo que me escapa.
Mas, em vez disso, vou deslindar um assunto muito, mas muito mais relevante, do que tudo isso junto: a omissão completa do presidente do clube em sua última coletiva. Entre tentativas de “lavar as mãos” para tudo o que está acontecendo, no melhor estilo Pôncio Pilatos e elaborações de histórias maravilhosamente pitorescas no estilo Forrest Gump, em que atravessamos uma negociação com o Cruzeiro de um lateral esquerdo que, em condições normais de temperatura e pressão, jogaria em um time da Série B mesmo, nada do que a torcida precisava ouvir foi falado. Patrocínio Master prometido no final de 2019? Sem previsão. Reposição à altura para a perda de Evanílson? Não está garantida. Nenhuma linha sobre o desempenho do time de futebol em campo, mesmo que ele acumule a função de vice de futebol há meses; nenhuma palavra sobre o questionamento da torcida a Odair Hellmann, nada. E o pior de tudo: a completa falta de respeito com a torcida ao não se desculpar publicamente pelas palavras de seu vice de finanças, tampouco obrigá-lo a fazê-lo.
Ao que parece, os slogans “seja sócio” e “é pelo flu” só servem na hora do bônus, que é recolher o dinheiro da torcida para engordar a conta bancária de barangas como Caio Paulista, o “artilheiro dos zero gols”. Na hora do ônus, da cobrança quando os resultados não vêm, não é a torcida que assina os cheques do clube. Este comportamento “criança mimada” não é novo. Peter já o apresentava, mas em menor escala. A fala mansa, bonita, educada e meticulosamente planejada do competente advogado que administra hoje o clube acaba por convencer a muitos de que está tudo bem o Fluminense ser um Fullham. Não há criatividade, só o conformismo. Na hora de chegarmos junto durante a paralisação dos jogos, comprando ingressos virtuais que não nos deram porríssima nenhuma em termos de vantagem, engrossando o coro de uma campanha de associação em massa, a torcida era o maior patrimônio do clube. Quando vai ao clube pedir a saída de Odair, Angioni e de quem mais ela quiser, são um bando de vagabundos.
Sr. Bittencourt, quero crer que o senhor é uma pessoa inteligente. Ou, ao menos, é o que sempre me pareceu. É difícil acreditar que queira mesmo comprar uma briga com a torcida, permitindo erros em sequência do departamento de futebol, declarações impensadas de outros departamentos e omissão completa sobre assuntos de relevância, como vimos em sua coletiva. Sinto-me muito à vontade para criticá-lo porque já o elogiei diversas vezes aqui mesmo neste espaço quando fez por merecer. Mas, aparentemente, foi só o futebol retornar para que a sua imagem desmoronasse junto com o rendimento da equipe. Se tem mesmo algum amor pelo Fluminense, afaste-se imediatamente do departamento de futebol e traga um vice de futebol que saiba o que está fazendo. O último realmente competente que me lembro foi Alcides Antunes, e isso já tem quase dez anos. Não é no vestiário que precisamos da sua presença, e sim na sua cadeira presidencial, resolvendo os problemas do Fluminense. Se conseguir isso, já estará mais do que bom.
Curtas:
– Odair não dá mais, já o teria demitido antes dessa partida contra o Corinthians pra tentar garantir as nossas chances na Copa do Brasil. Só nos restou isso, e espero que não estejam esperando que Odair também arruine nossa classificação para mandá-lo embora.
– Se não for para trazer ninguém de fora para o lugar dele, ou se for considerado muito arriscado, que se promova o bom e velho Marcão, que certamente vai fazer um feijão com arroz gostoso e botar esse time pra jogar. Vamos passar raiva algumas vezes, mas acho que não será pior do que aturar mais uma rodada de invencionices do Odair.
– A falta completa de competitividade da equipe no jogo do meio de semana contra os impronunciáveis cegou boa parte da torcida para mais uma garfada da arbitragem contra nós: o pênalti claríssimo em Wellington Silva ainda no primeiro tempo. Revendo o lance, fica muito claro que o atacante do Flu toca na bola e o zagueiro adversário coloca o pé pra ele tropeçar. Adivinha se teve VAR? Nem replay da Globo teve. E é aí que a gente sabe que teve sacanagem. Tanto é que o segundo possível pênalti, que pra mim não foi nada, foi repetido à exaustão só para concluírem que nada foi. Obviamente, tudo para mascarar o lance ignorado no primeiro tempo. Mudaria o panorama do jogo? Não sei. Só sei que não podemos mais ficar quietos. Ouviu, Sr. Bittencourt?
– Nenê de falso 9 não dá. Fred está com COVID-19, não vai jogar. Ou esquecem essas competições sub-20 e sobem ou John Kennedy ou Samuel, ou esperam a janela abrir e trazem um centroavante sul-americano ou, se for pra contratar alguém da Série B, pelo menos tragam o artilheiro de lá, que até o início dessa rodada era Léo Gamalho, do CRB. O que não dá é achar que um desconhecido qualquer, que joga num time que está na zona de rebaixamento da segunda divisão é a solução para o nosso comando de ataque. No mínimo, deve ser mais um do Uram.
– Aliás, Eduardo Uram é um case de sucesso. De persona non grata a principal parceiro do clube quando convém (dependendo de quem é o gestor no futebol, é claro), acabou de receber uma bolada que o Fluminense devia a ele há mais de 10 anos. Isso, é claro, na mesma semana da venda do Evanílson para o Porto. Pura coincidência, leia-se.
– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 0 x 0 Corinthians; Fluminense 1 x 0 Atlético-GO.
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