Aniversário da fera hoje.
Chegou ao Fluminense mansamente, já com alguma rodagem (Brasília, Espírito Santo). Era reserva. No ano de 1982, revezou no gol com Paulo Goulart, grande campeão de 1980. Num dia de 1983, pegou a titularidade absoluta, só a deixando cinco anos depois.
Entre aquele ano até 1988, não era mentira dizer que o Fluminense jogava com 12 atletas em campo. Paulo Victor parecia ser uma dupla de goleiros debaixo das traves, tamanha a sua capacidade de fazer defesas inacreditáveis. Quando tomava gol, é porque o chute havia quebrado a barreira do real – e ainda assim, tocava na bola de raspão antes que ela entrasse. Números fantásticos, irretocáveis.
Pegava tudo, defendia com garra e ainda vibrava com os gols do Fluminense como se ele tivesse marcado cada um deles. Ganhou tudo, mas principalmente o respeito eterno dos que o viram em ação. Se estivesse em campo pela Seleção Brasileira em 1986, com todo respeito a Carlos, Zico nenhum tiraria nossa classificação diante da França – e nenhum francês ia ter vida fácil depois nos penais. Às vezes parecia ter três metros de altura nas cobranças de falta. Quem o viu treinando nas Laranjeiras com vendas nos olhos há de entender.
Num dia infeliz de 1988, foi injustiçado e deixou o clube. Seis anos depois, lá estava São Paulo Victor no gol do Volta Redonda nos batendo em Laranjeiras, na final da Copa Rio, disputa de pênaltis à tarde. Os homens injustos passam, os heróis ficam, os clássicos são eternos.
No ataque, Assis, Washington, Romerito e Tato recebiam grandes passes de Deley e faziam gols inesquecíveis. O papel de craques que eram. A tarefa de Paulo Victor era mais pesada: desafiar definições a cada jogo, soprar as bolas possíveis para longe e defender as impossíveis como se nada tivesse acontecido. Com todo respeito aos gigantes do gol tricolor, naqueles cinco anos ele foi um pouco de Marcos Carneiro de Mendonça, de Batatais, do imortal Castilho e de Félix. Renato, Wendell e Paulo Goulart. E o principal: foi ele mesmo, voando com asa delta nos ângulos monumentais das traves do Maracanã.
João Saldanha disse que ele foi um monstro. O Caldeira acaba de batizar seu filho que vai nascer com o nome do arqueiro. De onde vocês acham que veio o nome do atual goleiro do Flamengo?
Os quarentões de hoje são os garotos que corriam na geral para trás do gol só para vê-lo defender uma cobrança de falta, um pênalti ou mesmo se juntar a ele na comemoração dos muitos feitos daqueles anos incríveis.
Tinha o apelido de “Jacaré”. Na verdade, era uma dessas águias do Atlântico, sempre prontas para o maior voo diante do infinito horizonte. Quem tiver dúvidas sobre o que foi escrito aqui, basta perguntar aos flamenguistas daquele tempo.
Desde que foi embora, numa única vez, numa única partida, se viu um goleiro do Flu jogar como ele: foi Ricardo Berna, contra o Inter no Beira-Rio em 2010, às vésperas do tricampeonato brasileiro. Fez trinta defesas impossíveis, do jeito que o craque da camisa 1 nos anos 80 fazia toda quarta e domingo. O grande Cavalieri já chegou perto em algumas oportunidades.
Na grande área do Fluminense, Paulo Victor foi foda, foda, foda demais. Imagine um Assis, um Romerito, um Ricardo fazendo com as mãos o habitual dos pés? Era isso.
@pauloandel