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Fim da tarde, o Paulinho me telefonou. Nós nos conhecemos no comecinho do PANORAMA, quando gravávamos os programas de TV na agência do Thiagão, que ficava ao lado do Bob’s da Senador Dantas. Paulinho guarda os carros ali até hoje. Tricolor fanático. Dei alguns livros meus pra ele. É sempre uma ótima conversa. E deu no que deu: primeiro, pela nossa dureza no cenário de Covid19. Depois, o de sempre: muito futebol.
Há tempos, eu sabia que Paulinho era amigo de infância do Luís Antônio, meia que jogou no Fluminense por um ano e meio, bom de bola e campeão do Centenário em 1995. Luís foi revelado bem jovem pelo tricolor Telê Santana quando este passou pela Gávea em 1989. Em 1994 veio para o Flu.
Esteve num dos jogos mais apoteóticos da história do Fluminense: o fabuloso 7 a 1 sobre o Botafogo pelo Carioca 1994, que quase ninguém viu ao vivo porque a peleja foi numa sexta-feira chuvosa. De toda forma a partida está eternizada, e foi Luís Antônio quem marcou o sexto gol tricolor.
Naquele mesmo campeonato, o Flu triturou o Flamengo por 4 a 2 em tarde de Super Ézio, e Luís Antônio deixou o dele com enorme categoria.
No título do Centenário, Luís jogou quase a metade das partidas da competição, ora como titular, ora entrando no decorrer dos jogos. Dois deles são marcantes: a vitória sobre o Bangu por 1 a 0 no Maracanã, o último gol de Ézio com a camisa tricolor, e a penúltima partida do campeonato, numa vitória sobre o Entrerriense por 3 a 0 em Três Rios. Foi a última vez que vestiu a camisa do Fluminense.
Em minutos de conversa viajei no tempo: vivi intensamente aqueles anos de 1991 a 1995, que podemos chamar de Era Ézio. O Flu tinha times modestos, mas conseguiu vários resultados expressivos e disputou títulos também. Tempos de muitos jogos no Maracanã e Laranjeiras, de proximidade com a torcida e camaradagem nas arquibancadas. Foi legal, mesmo com dificuldades.
Aí, foi inevitável falar do gol de barriga, do título imortal e da festa na Porcão, que o Paulinho acabou conseguindo entrar, por boa vontade do segurança, e se esbaldou. Uma noite de glórias, quando então veio a surpresa:
– Você sabia que eu era Flamengo? Virei a casaca pro Flu.
– Mas como assim?
– Eu era Flamengo, mas meu amigo Luis Antônio foi pro Fluminense, eu gosto muito dele, o cara sempre me fortaleceu, quando ele foi pro Fluminense eu virei tricolor também, e não larguei nunca mais.
Luis Antônio e Alfinete contra o vascaíno Dener em seu último jogo.
Entre risos e uma enorme surpresa – porque nunca imaginei que o Paulinho não tivesse um dia torcido para o Fluminense, por causa de sua dedicação -, fiquei a pensar na força que existe no futebol. Não se trata apenas de um jogo ou um título. Às vezes a amizade muda tudo. Minha mãe dizia ser Flamengo mas virou Fluminense só pra me deixar feliz. O Thiago Silva, menino ainda, se apaixonou pelo Fluminense no gol de barriga e largou o Vasco para trás.
O melhor guardador do Centro do Rio é tricolor à enésima potência, mas já foi rival um dia e virou a casaca pelo mais nobre de todos os sentimentos, que é a amizade, mais nobre ainda porque é para o nosso clube do coração.
Não tem jogo hoje, tudo é incerto mas me delicio com esse mar de histórias que cercam o futebol, esse maravilhoso chá de nostalgia que tranquiliza, resgata e propõe visões múltiplas do tal jogo de bola que nos cativou para sempre.
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Muito obrigado a todxs que me deram um abraço por conta de “Um botequim de Copacabana” concorrer ao Prêmio Oceanos de Língua Portuguesa. É uma honra.
O maior barato de tudo: ter chegado até aqui pelo caminho do bem.
Muitas vezes houve quem tentasse sabotar o meu nome e o meu trabalho.
Foi em vão.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
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