SEIS MINUTOS
Ao longo dos tempos, o Fluminense se especializou em derrubar paradigmas e, mais uma vez, repetiu a tarefa nesta quarta-feira, quando se classificou para a segunda final da Copa Libertadores em sua história. Sem ser brilhante, mas com muita raça, venceu o Internacional por 2 a 1 e apimentou mais um capítulo da liturgia do clássico, marcado por grandes embates entre os dois clubes.
Raras vezes pareceu tão difícil para o Tricolor. Primeiro, sofreu um gol inusitado no começo da partida, com o tropeço do goleiro Fábio. Depois, não conseguia ameaçar o Inter, sofria ataques perigosos e saiu aliviado com a derrota mínima no primeiro tempo, que exigiu substituições no intervalo. E pode-se dizer que uma delas decidiu os caminhos do jogo: a entrada de John Kennedy no lugar de Felipe Melo. A outra também foi importante, com Martinelli no lugar de Alexsander. Contudo, ambas demorariam para dar o resultado esperado.
Precisando pelo menos do empate, o Fluminense se lançou ao ataque, o que ofereceu espaços generosos para o Inter. O Colorado poderia ter liquidado a partida e perdeu pelo menos três gols, todos em finalizações de Valencia, mas a eterna Leiteria Tricolor mandou as conclusões para longe. E aí entrou em campo a mais sincera das máximas do futebol: quem não faz, leva. Em noite de técnica rasa, o Fluminense ressuscitou um componente fundamental: a raça. Então, com um leve toque depois da infiltração pela esquerda, John Kennedy empatou o jogo depois de belo passe de Cano e impôs um silêncio de cemitério no Beira Rio aos 37 minutos. O Inter sentiu o golpe como nunca e, aos 43, com o improvável protagonismo de Yony Gonzalez e o toque para JK, este serviu o demolidor Cano. Bola no canto direito, tiro de fuzil, virada tricolor e, quinze anos depois, o Fluminense está de volta ao topo da América: decidirá o título no começo de novembro contra o vencedor de Palmeiras x Boca Juniors nesta quinta-feira.
A noite ainda não acabou. São muitos os rincões do Brasil onde o Fluminense provocou risos, lágrimas e descompassos cardíacos. Há um misto de alegria e alívio com a classificação heróica e histórica. Numa noite em que a garra falou mais alto do que tudo, não é possível deixar de aplaudir John Kennedy e Martinelli, garotos contestados de Xerém que, em uma das horas mais difíceis da história do Fluminense no século XXI, disseram a que vieram. E o que dizer do artilheiro Germán Cano, matador implacável que já figura na lista de aríetes tricolores? Agora, é hora de parabéns gerais. Esta é uma conquista de todos os tricolores, todos sem exceção.
É preciso dizer que não estamos diante do maior Fluminense de todos os tempos, nem da sua maior campanha em 121 anos. Tampouco é necessário desvalorizar o passado para aplaudir o presente. Contudo, aí está o time que pode restabelecer a justiça que foi subtraída do Tricolor em 2008, plenamente capaz de levar para Laranjeiras o único troféu que lhe falta, o que não é pouca coisa – e, se confirmado, um feito gigantesco. Temos à frente quase um mês de preparação para a batalha final. Só se espera o melhor de jogadores, comissão técnica, dirigentes, funcionários e torcida.
Sigamos juntos porque, depois do que aconteceu nesta quarta-feira, o sonho da Libertadores tem chances expressivas de se transformar em doce realidade. Agora é tudo ou nada. Vencer ou vencer.
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Eu queria que minha família estivesse aqui.
O João Carlos. O Alberto. A Fernanda. O Tato.
Eu queria muita gente aqui agora, mas só há silêncio. Um enorme e definitivo silêncio que contém paz, reverência, memória, saudade.
Talvez todos estejam, mas não sou capaz de escutar ou ver. O que resta é sonhar.
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Nesta quinta-feira, o Fluminense celebra 35 anos de uma das suas histórias mais inesperadas. A famosa tarde dos pênaltis em 1988.
A TARDE DOS PÊNALTIS EM 1988: CLIQUE AQUI.
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Em memória amorosa de Gigio Ferreira e Jésus Meira Junior.