Pais e filhos em 1978 (por Paulo-Roberto Andel)

Almoço, risos, presentes.

Em alguns casos, lembranças doces e tristes. Ou saudade.

Hoje é o dia dos pais.

Ainda me lembro de quando meu pai me puxava pela mão para os jogos no Maracanã. Às vezes, saltávamos do trem ou ônibus nas imediações da Praça da Bandeira e caminhávamos até o estádio. Entre 1978 e 1980 isso deve ter sido quase todo domingo.

Nos arredores do Maraca, havia bancos de praça onde podia-se sentar e conversar. Vendedores de laranja descascada fresquinha. Os jogos eram às cinco da tarde, chegávamos quatro horas antes só para ver o ambiente, o clima preliminar antes mesmo da preliminar em si – esta, às três da tarde, temperada por jogadores como Braulino, Delano, Delei, Zezé (depois conhecido como Zezé Gomes) e Gilcimar. Tempos do Faria.

Nas arquibancadas, cachorro-quente Geneal e os vendedores vestidos de astronautas, todos de branco, com o tanque de Coca-Cola nas costas. No copo, basicamente espuma – mas era uma delícia. Na volta para casa, muitas vezes o jantar era a suculenta pizza para viagem da Bella Blu, na rua Siqueira Campos.

Quando falo de 1978 a 1980, recordo tempos raros até então: os do Fluminense dois anos sem um título, um turno, uma taça. Mas não deixaram todo brilhantismo de lado, vide o golaço de Cristóvão no Fla-Flu após deixar Manguito sentado. Paulo Goulart pegando pênalti de Zico, desnecessário comentar.

Um dia, seríamos campeões de novo. E fomos. Edinho bateu firme na bola, acertou a falta e vencemos 1980 quando Cartola disse adeus. Pouco tempo depois, o genial Nelson Rodrigues.

Já em 1981 eu tinha certa autonomia para ir aos jogos sozinho. Ia a todos que podia, economizava cada centavo para os ingressos.

Em 1987, estive pela última vez com meu pai no Maracanã. São Paulo 2 x 1 Fluminense, jogamos mal, ele resmungou maravilhosamente: “Eu vi Didi, vi Telê, vi Rivelino, não suporto estes caras!”. Fazia sentido.

Hoje é dia dos pais e devo estar sozinho no Engenhão logo mais.

De 1987 para cá, tudo mudou no mundo. E meu pai não reclama mais quando o Fluminense vence por apenas 3 x 0.

Não sei ao certo se estarei sozinho. Algo me diz que meus pais estão sempre perto de mim de alguma forma.

E toda vez que pego a condução para ir ao jogo, lembro dos velhos bancos de praça ao redor do Maracanã.

O nunca mais e a eternidade andam de mãos dadas, nem que seja somente na memória.

Paulo-Roberto Andel

@pauloandel

Panorama Tricolor/ FluNews

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Em memória de Helio Andel

3 Comments

  1. Paulo,

    mais uma vez vc me enche de honra em tê-lo conhecido e dividir este espaço contigo. Poucas vezes pude ler texto tão belo.

    Tenho certeza que você nunca estará sozinho no estádio. Além dos seus pais que de alguma forma estarão com vc, como bem colocou, estará sempre acompanhado de milhares de tricolores.

    Um abraço!

  2. Belo texto e boas lembranças de uma época em que assistíamos os nossos futuros jogadores nas preliminares,e me fez também lembrar das vezes que fui com meu pai ao Maraca.
    E hoje infelizmente sem o Maraca sento com meu filho na engenhoca,mas em breve voltaremos ao Maraca.
    Abraço e Saudações Tricolores!

  3. Parabéns pelo texto. Belas lembranças. Rumo a vitória logo mais, em homenagem a nossos pais, onde quer quer estejam. ST.

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