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O apoio ao Fluminense sempre permanecerá em minhas linhas, é um fato. Todavia, apoiar não significa tecer loas ao ridículo, são coisas distintas. O cronista tem a obrigação da isenção, por mais amor que empenhe em suas letras. Então, é claro que fiquei insatisfeitíssimo com o empate contra o humílimo Duque de Caxias em Volta Redonda, numa rodada que quase foi de completo pavor para os times grandes do Rio: em quatro confrontos contra os times de menor investimento, em três não marcaram sequer um gol!
E nós, que viemos de um grande tetracampeonato brasileiro e uma temporada expressiva em 2012, parecemos um satélite fora de órbita: perdido, sem prumo nem direção. Mesmo com ótimos momentos em outras partidas deste 2013, que se reconheça.
Fazer mudanças não é pecado. Ninguém desaprendeu a jogar. Seja por má fase ou mesmo abomináveis problemas extra-campo, aconteceu que o time do Fluminense não fez jus ao apoio de sua torcida sábado passado – muitos torcedores da Baixada Fluminense, com dinheiro controlado, longe do elitismo que só os yuppies deslumbrados acreditam piamente.
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O começo foi o de muitas outras vezes: time no ataque, tentativas a gol, penúltimo ou último toque deficientes. Wagner foi a exceção honrosa: lutou o que pôde, correu, acertou bolas na trave. Entendam: não é o caso da cornetagem barata que beira infantilidades. O que falo é que precisamos mudar de atitude dentro de campo. O grande é o Fluminense, o grande é que tem que se impor e agredir, não viver a eterna pasmaceira das segundas etapas, como tem sido uma constante neste ano. Improvisar. Buscar soluções criativas sem cair no óbvio: bola no meio, Deco lança, Nem tenta disparar. Mas não quero falar de nomes em especial: a pasmaceira, tirando Wagner, foi geral.
Não é questão de esperar que Diguinho ou Edinho finalizem como Fred ou Romário, nem que Wellington Nem seja mesmo um Zezé. Com certeza Walace não será Aldo, Edevaldo e tantos outros. Todo adversário merece respeito e o Duque de Caxias não está isento disso. Entretanto, beirou o patético não conseguirmos vencer um adversário que se esfalfava chutando bolas de canela pelas laterais ou contra o próprio gol, gerando escanteios.
O auxiliar do ataque no segundo tempo foi um desastre, mas nada justifica nossa péssima jornada. Em campo, pouquíssimo movimento; nas arquibancadas, nenhum, exceto os das torcidas organizadas que, claro, não falham e ainda encaram duzentos quilômetros de estrada com um jogo que mudou de data e horário duas vezes. Fiéis de um lado, a garra do gordinho em outro, um espaço enorme de um bom estádio a ser ocupado. Porém, como vencer o principal adversário das arquibancadas cheias? É ele quem financia o jogo. Ela, melhor dizendo.
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Gum e Euzébio se enrolaram às vezes, Carlinhos continua desperdiçando sua técnica num torpor inútil, Deco está longe da forma e mais ainda dos parajornalistas que o condenam. Mesmo quando está cansado, o que não é raro, ou ausente por convocação ou outros motivos, Fred faz uma enorme falta ao ataque. É o toque de classe e inteligência no ataque.
Quando as coisas não vão bem, é hora de mexer. Não apoio medidas drásticas, mudar departamentos, demitir treinador, bobagens que raramente funcionam. Agora, com o Fluminense tendo uma das mais sólidas divisões de base no país, é de se esperar que os jovens valores sejam mais bem-aproveitados. Ao menos teríamos velocidade, força e, em palavras diretas, mais vontade.
Quem ganha trezentos, quinhentos ou setecentos mil reais por mês não pode reclamar ao ser barrado por deficiência física ou técnica.
O segundo tempo padrão do Fluminense em 2013 tem sido a modorra. Tudo o que o ímpeto dos mais jovens pode mudar. E para já.
Depois de amanhã já temos um novo confronto e a atitude do time precisa mudar para ontem.
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Caso se confirme os rumores de que as atuações do Fluminense têm minguado tecnicamente por conta do atraso no pagamento do prêmio do tetracampeonato, será uma decepção enorme para toda a torcida.
Os guerreiros em campo precisam voltar. Não pisaram no gramado em 2013.
Os guerreiros das arquibancadas estavam no Raulino. Pagaram seus ingressos e não promoveram a discórdia pelo computador. Eles não estão em busca de notoriedade, mas sim apoiando in loco como poucos fazem (é até compreensível a ausência de alguns, claro).
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Espero sinceramente que isso tenha sido um momento, um mau momento que, dentro de meses, seja completamente esquecido diante de uma nova temporada de qualidade tricolor. E se isso acontecer, é porque nosso futuro terá sido bem diferente deste sábado.
Aí será engraçado reler estas linhas.
Por enquanto, não.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Andel,
É visível e louvável a sua preocupação (e de vários cronistas do blog) em não criar um ambiente de total desequilíbrio e falta de harmonia para o clube, sem a famosa incitação dos torcedores no melhor estilo “vamos quebrar tudo!!”. Essa ponderação nos comentários os diferencia de muitos “torcedores” que vivem uma relação de amor e ódio com seus clubes.
Entretanto, não podemos mais continuar achando que o time do Fluminense é um esquadrão adormecido, que pode ganhar na hora que quiser, contra tudo e todos. O time é bom, porém, possui falhas antigas no sistema defensivo (citado por você) e precisa inovar no jeito de jogar.
Utilizo o jargão da moda (inovação) pois acredito que fomos amplamente estudados pelos adversários. Não é mais novidade a forma de jogar do Fluminense. Nossos adversários sabem muito bem nossos pontos fracos e, para piorar, o pontos fortes não estão mais “tão fortes como no ano passado”.
Também não acredito em “deixar de saber jogar futebol”. Fomos campeões, como você narrou muito bem em seu livro, mas, como diz o Bernardinho “o difícil não é ser campeão. Difícil mesmo é se manter no topo…”.
Tínhamos que fortalecer setores críticos e pensar em possíveis lesões (velhas conhecidas) de Deco e Fred. Resultado: contratamos mal, sem nenhum critério técnico (o que é o Rhayner?!?!), e mesmo os que foram “chancelados” pela torcida (como Monzon e W. Silva), não jogam.
O problema com o pagamento da premiação deve até existir, mas é ináceitável que jogadores milhonários arrisquem a imagem esse tipo de coisa (pior, arrisquem ficar sem o treinador amigo…). Não creio que Abel seja conivente com isso!
No mais, temos alguns problemas pontuais, dos quais me arrisco a listar, que poderiam ser tratados imediatamente:
– substituição pontual de alguns jogadores (citados por você);
– melhor aproveitamento dos jogadores das divisões de base;
– mudança do esquema tático (será que não dá para inovar e parar de jogar somente no erro do adversário?!?!?).
Comento pouco, leio sempre!
ST!
Andel,
Com equilíbrio e elegância vc definiu o momento pelo qual passa o nosso Fluminense. Sem faniquitos e sentenças catastróficas dos “parajornalistas” que desde sempre apostam no fracasso.
Abs e ST.
Show de lucidez em belas linhas, como sempre!
SSTT4!!!!