Comecei o ano tentando cumprir um voto de réveillon: falar menos de bastidores e organização do clube, política incluída, e mais de futebol. Já na pré-temporada, com a preservação de Eduardo Baptista no comando do time, o passeio na Disney e a participação de ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho, foi difícil manter a promessa. Segui em frente.
No estadual, o time, que havia sido preparado para apagar a péssima impressão do primeiro ano sem Unimed, mostrou ao que não veio: o Fluminense jamais deu mostras de ser capaz de vencer a competição. O alento veio na Primeira Liga, em que avançávamos sem muito brilho, mas dando a impressão de que nem tudo estaria perdido. A troca de todo o departamento de futebol, com a contratação de um técnico gabaritado, o título da Primeira Liga, tudo isso junto deu a entender que teríamos um Brasileirão razoável, honesto, ainda que distante do que se espera de um gigante como o Fluminense.
No meio do caminho, saiu Diego Souza, numa negociação até agora mal explicada. Depois a briga com Fred. Em seguida, a constatação de que alguns “reforços”, contratados a peso de ouro, sobretudo Richarlison e Henrique, não vingariam nem este ano, nem em um século. Não quero estender a lista, mas só vamos ladeira abaixo, sendo a chave de ouro os contratados da tal “janela”. Não jogaram ainda, é verdade, mas realmente alguém leva fé em Rojas, Aquino e o velho novo Wellington Silva? E em Dourado? Sinceramente, estão mais para Dudu e Maranhão do que para reforços. Reforço mesmo, com boa vontade, podemos considerar o operário Marquinho, mais pelo respeito ao passado no clube e pela vontade em campo do que por sua capacidade de jogar futebol.
Eu juro que tento, mas dá para focar no futebol? Que futebol? O Fluminense vem jogando há muito tempo uma coisa assemelhada com futebol. Uma vez a cada oitocentos jogos, sai alguma coisa que preste, em geral explicada por uma atuação individual destacada ou pela pressão da torcida. Mas essa “alguma coisa que preste” não se repete jamais nas partidas seguintes, por um motivo muito simples: o elenco que a atual diretoria montou para 2016, na base da tentativa e erro, é uma lástima, horroroso, fraco em todos os setores (defesa, meio e ataque) e muito aquém do que se espera para o Fluminense.
O mais incrível é que a debilidade do atual elenco não é explicada pela falta de grana. Isso talvez pudesse explicar o elenco do ano passado, que, diga-se de passagem, era superior ao que temos agora (pelo menos tinha Fred). Esse ano, o Fluminense torrou dinheiro para cacete, sem qualquer critério razoavelmente defensável, para montar um arremedo de elenco e de time. Trata-se de uma caricatura do grande Fluminense, que ninguém esperava ver novamente rascunhada desde 1999.
Que isso fique claro: o Fluminense tem o pior elenco desde que conquistou a série C. Considerando que a montagem desse elenco consumiu algumas dezenas de milhões de reais, pergunto eu: quem vai ser responsabilizado? Quem vai ser responsabilizado por ter pago 10 milhões de reais para comprar metade dos direitos econômicos de Richarlison? Quem vai ser responsabilizado por ter pago cerca de 10 milhões de reais para contratar Henrique? Quem vai ser responsabilizado pela saída de Fred, ainda não suprida? Quem vai ser responsabilizado pela venda prematura de Marlon? Quem vai ser responsabilizado pela contratação de Dudu, pela renovação com Giovanni e Pierre, pela manutenção de Osvaldo? Não se trata de um filho feio sem dono, mas de uma família inteira de monstruosidades abandonadas na roda dos enjeitados.
Quando pressionados, aqueles que respondem pelo clube sempre falam da austeridade, da responsabilidade com as contas, da necessidade de cumprir as imposições do Profut. Eu sempre achei e continuo achando essa uma conversa pra boi dormir. Há duas maneiras de administrar um clube: uma é contratar por baixo, ter baixa receita e cortar custos; outra é investir alto e bem, fazer subir as receitas e aumentar a capacidade de investimento. A atual direção do Fluminense optou por tanto tempo pela primeira linha de administração que simplesmente não sabe mais seguir a segunda. Com grana na mão, parecem boêmios que recebem o salário e torram no primeiro botequim.
Para quem tem com o Fluminense uma relação de amor puro, incondicional, quem vive de torcer pelo que acontece nas quatro linhas, o tempo é de martírio. Os torcedores estão sendo torturados pela direção do clube há pelo menos três anos. Estamos todos no pau de arara, levando surra de Osvaldo e Dudu. Eu tenho certeza que, na cabeça de quem está ligado no time, no jogo, só um número passa na cabeça: 46. Os 46 pontos são a única coisa que podemos esperar desse time. Espero que estejam logo ali.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: jole
46 não garantem… vide 2013. FIco mais seguro com 47.
Aloísio, querido, eu ia colocar 47, mas não quis nem lembrar de 2013. Você está certo.
ST,
João