Tricolores de sangue grená, o empate contra o Coritiba na última quarta-feira mostrou que não dá pra promover as mudanças necessárias e óbvias só pela metade e, mesmo as mudanças corretas às vezes levam tempo para surtirem efeito. O posicionamento da dupla de volantes possibilitou algumas falhas das quais o Coritiba se aproveitou no primeiro tempo, mas não há dúvida de que é a melhor que possuímos no momento. Só que não há entrosamento entre eles. Quando Dodi foi afastado, Martinelli e Yago deveriam ter passado a compor a volância. No momento em que estamos, eles já teriam adquirido entrosamento e, portanto, não cometeriam os erros que vimos. A dupla antiga não evitou que tomássemos uma goleada histórica, mesmo já entrosada, então continuo achando que foi um acerto trocá-los. Todavia, há muitos outros erros graves que estão minando uma possível classificação para a Libertadores, e é sobre eles que vou falar em maior profundidade hoje.
Primeiramente, não sou especialista em futebol. Sou torcedor, professor e escritor. Mas nada do que vou expor aqui passa do óbvio. Qualquer um, com uma análise mínima, poderá perceber o mesmo, se é que já não o fez. Matheus Ferraz precisa ser barrado. A idade finalmente pesou, e não há condição de termos um zagueiro lento no mesmo lado de Danilo Barcelos ou Egídio. Já que não teremos outro lateral esquerdo por enquanto, o negócio é Luccas Claro voltar para esse setor (o lado esquerdo da zaga) e Nino ser escalado ao seu lado (no lado direito) novamente. Assim, readquirimos a melhor zaga que tivemos no ano passado e a segurança aumenta um pouco mais, já que também não adianta barrar imediatamente o Marcos Felipe, quando a opção a ele é o Muriel. O atual titular tem crédito, mas sabe que se continuar a falhar de forma grave (como no terceiro gol do Coxa) acabará barrado. Todavia, as falhas começaram quando a defesa começou a perder consistência, com Ferraz tirando o corpo de todas as bolas. Com as mudanças a serem promovidas, a tendência é que as falhas diminuam ou cessem.
Soarei repetitivo aqui, mas um dos problemas maiores que temos é estrutural. Escolhas ruins feitas lá atrás que hoje impactam no aproveitamento do time. Um exemplo é não terem subido e aproveitado Dani Bolt. Se ele fosse titular, a volância seria Martinelli e Calegari, que atuaram muito tempo juntos na base e já teriam um entrosamento natural, além de serem dois volantes leves, vigorosos, com boa marcação, com bom passe, capazes de dar dinâmica à saída de jogo, de fazer infiltrações para ajudar o ataque e de promover uma rápida recomposição. Mais ou menos como Allan e Daniel, os traíras, faziam em 2019. Lembram quem jogava com eles? Ganso. O mesmo Ganso que deu vários passes pra gol que foram desperdiçados ano retrasado, mas que não tinha jogadores com a qualidade de Fred e John Kennedy para dialogar na frente. Agora que tem, o esquema não o favorece, a escalação não o favorece, o resto do time não o favorece.
Marcão insiste nos três atacantes, mas não faz bom uso dos pontas (fora as escalações equivocadas de sempre). Ao jogar sem um armador, transforma a tarefa dos pontas em marcar os laterais numa mera formalidade. O meio de campo ideal hoje envolveria Ganso e Michel Araújo, principalmente porque o uruguaio pode virar ponta se for necessário, alternando o esquema de 4-4-2 para 4-3-3 sem precisar fazer qualquer alteração. É uma ferramenta tática valiosíssima que Marcão simplesmente está prescindindo. Fred e John Kennedy completariam o time. JK tem oportunismo, sabe jogar pelos lados do campo e já mostrou ser decisivo. Fred faz um excelente pivô, é matador e pode colocar tanto JK quanto Michel na cara do gol, como já fez algumas vezes. Não está difícil entender qual a melhor formação com as peças que temos, mas é muito necessário acertar nas substituições também. E, para isso, é necessário ter um pouco de visão.
Toda vez que precisar substituir um volante, o ideal é colocar o Dani Bolt em campo. Assim, Calegari pode ir pro meio e não se perde intensidade no setor. Yuri e Hudson são apenas para emergências. Se Ganso precisar sair, Miguel é o seu reserva, não Nenê. Nenê vai ser, no máximo, reserva de Michel Araújo quando o time jogar no 4-4-2, ou como falso 9 numa emergência no lugar de Fred. Pacheco e Luiz Henrique brigam por posição na reserva de John Kennedy, com Lucca podendo ter uma chance ou outra quando o time jogar no 4-3-3, ou quando Fred precisar muito de um reserva improvisado, como provavelmente vai acontecer no jogo contra o Botafogo, já que o negacionista Mulamboso contraiu COVID-19 e vai desfalcar o time alvinegro. E isso tudo porque deram férias pro Samuel Granada, que seria, em condições normais de temperatura e pressão, reserva imediato do Frederico. Aposto meu salário do ano inteiro que o time com essa formação melhoraria muito.
Apesar dos muitos erros cometidos, ainda dá pra tentar salvar a temporada. Mas pra isso os dirigentes precisarão abrir mão de seus egos e ouvir a torcida. Esse negócio de convicção não funciona pra sempre. Marcão, apesar de não ser o técnico que precisamos, parece entender isso e já começou a fazer mudanças, mas precisa continuá-las. O time não vai se acertar se só metade do que precisa ser feito for efetivamente realizado. Temos que continuar pressionando para que consigamos ver um Fluminense competitivo, sem que precisemos passar raiva jogo sim, outro também. Perder faz parte do futebol. Não competir, não. Ganhar do Botafogo é obrigação, pois nosso rival pela vaga, o Corinthians, fez o dever de casa e bateu o Sport. Temos que vencer o máximo possível e secá-los, pois não dependemos só da gente. E, caso consigamos a vaga para a principal competição da América, que não montemos um time só para fazer figuração, e sim para competir e, quem sabe, vencer. Afinal, essa é a nossa vocação eterna.
Curtas:
– Será que dá pra chamar o Samuel de volta das férias e negociar um capilé pra ele integrar a equipe principal, já dispensando o Mulamboso de vez? É algo a se pensar.
– Depois do clássico, Marcão terá semana cheia para trabalhar o time visando o jogo contra o Goiás, no outro domingo. A coluna tá aí, meu camarada. Leitura obrigatória.
– Marcos Paulo entrou em leilão finalmente – demorou pra cacete. A partir de agora, deveria ser afastado – se é que já não foi – até que aceite uma das ofertas por ele que não incluam o Fluminense sair de mãos abanando. Aceitar a maior oferta e ir pro clube europeu que a oferecer é o mínimo que ele pode fazer. Ou ele pode provar que tem caráter, renovar com o Fluminense como havia prometido e deixar que o clube o venda por um valor justo de mercado, sem depender da esmola que vão nos oferecer. Cabe a ele decidir como quer ser lembrado no futuro.
– Seguindo no mesmo assunto, já estão sondando Kayky e Matheus Martins. Um foi considerado o melhor jogador do mundo na categoria sub-17, enquanto o outro claramente é um jogador fora de série. É bom que pensem logo em orientá-los, conseguir que assinem um contrato mais longo com o clube e, principalmente, subam para o profissional em breve. Caso contrário, a chance de não termos qualquer retorno esportivo com eles – ainda que possamos ter retorno financeiro – é grande.
– Já dei o palpite pra esse jogo na última coluna, já que ele foi adiado, então vou dizer o seguinte: o Fluminense decide o que vai arrumar no campeonato nessa partida contra o Botafogo. Acabou o espaço para errar. Vitória, jogando um bom futebol, é o que exigimos. Não existe outra opção se quisermos realmente escapar da coadjuvância que parecem querer nos impor. O Fluminense não pode ser só isso.
NENHUM RETOQUE A MODIFICAR O TEXTO EM EXPOSIÇÃO ABSOLUTAMENTE CRISTALINA, DEIXANDO ÀS INCERTAS E EQUIVOCADAS AÇÕES DE UM MARCÃO CAMELÔ DA PRAÇA DESERTA, E, PIOR, AMANCEBADO E SERVIL AO MÁRIO CUJO PADRINHO DE CASAMENTO SÓ NÃO IRÁ ESCALAR O WELLERSON CARDOSO, FELIPE, PORQUANTO, O NOSSO GRAVATINHA, ATENTO, O 3° GOL AO FINAL CONTRA O CÔXA ESCANCARA ISSO, IMPUSERA O CONTÁGIO DO INIMIGO LETAL E INVISÍVEL DESSE CORONAVÍRUS DIABÓLICO AO ANTIARTILHEIRO. ACRESÇAMOS O CONTEXTO NUNCA DANTES EXPERIMENTADO POR ESSA ESTRELA MAIS SOLITÁRIA E COMBALIDA A FAZER DO CLÁSSICO VOVÔ DE PASSADO GLORIOSO E ARTÍSTICO…