Tricolores de sangue grená, acreditem em mim quando digo que o que eu mais queria nesse momento era estar feliz com uma classificação tranquila e convincente do Fluminense sobre o Criciúma, time da segunda divisão catarinense e da terceira divisão nacional, mas é impossível me sentir assim. E digo isso porque a derrota vexaminosa na terça-feira, num jogo em que poderíamos ter perdido até de mais, não conseguiu ser apagada pela vitória por 3 a 0 que, analisando-se apenas o placar elástico, seria uma boa recuperação, mas quando notamos o contexto e o desenrolar da partida, percebe-se que a sorte nos bafejou mais uma vez. O primeiro gol saiu bem cedo, numa desatenção da defesa deles, e isso mudou o panorama da partida, nos deixando mais confortáveis para tentar arrematar uma vitória mais elástica. Mas isso esteve longe de acontecer no primeiro tempo. Com uma atuação tenebrosa do Fluminense, o Criciúma chegou mais, incomodou mais, mas esbarrou, é claro, em suas limitações. Já no segundo tempo, conseguimos finalmente algum desafogo, com dois gols em jogadas isoladas, com os jogadores fora das posições que Roger insiste em colocá-los.
Assim, a classificação foi cimentada, ainda que voltássemos a passar sufoco após a expulsão exagerada de Manoel. Perdi um parágrafo inteiro para falar do confronto, que não mereceria mais que duas linhas, por conta da coletiva de Roger Machado após a classificação, que era obrigatória, para as quartas de final da Copa do Brasil. Vou me ater a uma fala dele, que transcreverei a seguir: “Nós não vamos fazer um futebol brilhante, como se imagina que talvez o torcedor mereça ver dentro de campo e viu nos seus melhores momentos”. Para bom entendedor, pingo é letra. Querem nos empurrar a pecha de time de operários, sendo que os caras são milionários. Roger treina o Fluminense Football Club, uma das potências do continente, um time gigante, enorme. Mas parece-me que ele pensa treinar o Goiás, a Ponte Preta ou o América-MG. Não teremos um time brilhante, que apresente um futebol brilhante, porque ele é incompetente e não conseguirá nos proporcionar isso. A declaração é desastrosa por dois viés diferentes: ou ele assume que é incompetente, como já atestei, ou assume que o elenco é fraco e que os jogadores são incapazes de nos proporcionar isso. Imagino a reação dos jogadores ouvindo sua coletiva.
Esse discurso de Roger pode parecer absurdo a algum desavisado, mas coaduna com o que a diretoria tem pregado: que estamos em reconstrução, que décimo lugar no Brasileiro tá bom, que somos a zebra em todos os mata-matas e só podemos mesmo exigir chegar à final do estadual. Logo, torcedor, você precisa aceitar, segundo eles, que o Fluminense hoje tem ambições de um time médio. Boas campanhas devem ser comemoradas e, caso voltemos a jogar a Libertadores, é pra soltar fogos. E, ao mesmo tempo, seja sócio. Para que Cazares, Nenê, Ganso, Wellington, Hudson, Egídio, Danilo Barcelos, David Braz, Matheus Ferraz, Lucca, Abel, Bobadilla – e, agora, Nonato – continuem com seus gordos salários em dia. Mas entenda que eles só ganham muito mesmo pra levar o Fluminense a “boas campanhas”. Não espere título não, tá? Título é só pra quem tem muito mais dinheiro e muito mais competência do que a gente tem. Afinal, imagina o Fullham pensar em título? Coisa mais absurda. Há os que são protagonistas e há os que são coadjuvantes, e sem os coadjuvantes, não tem campeonato, ora bolas.
Nessa terça é muito provável que o Fluminense consiga se classificar também às quartas de final da Libertadores, mesmo jogando mal, posto que já tem uma boa vantagem. Mas e aí? Barcelona de Guayaquil está longe de ser água de salsicha, muito pelo contrário. É um adversário duríssimo no momento, principalmente considerando o que não temos jogado. Já na Copa do Brasil, o nível definitivamente subiu. Provavelmente, nosso adversário será São Paulo, Grêmio, Fortaleza, Flamengo, Athletico-PR, Atlético-MG ou Santos. Todos time de primeira divisão. Talvez o Grêmio e o Santos sejam os que estão num pior momento, mas não vejo nenhum desses times jogando menos que o Fluminense hoje. Já mostramos, em momentos efêmeros, potencial para brigarmos por título, mas isso parece ter se perdido em algum momento no meio do caminho. Hoje, somos a zebra. Eu só espero que a torcida não se contente com o nosso status de azarão e continue cobrando. Mas que a próxima cobrança das organizadas seja direcionada também ao técnico Roger, ao Paulo Angioni e ao Mário Bittencourt. Afinal, eles são os principais responsáveis por nossa falta de ambição.
Curtas:
– Foco na Libertadores, mas também no Brasileiro… como não jogaremos no meio de semana, ficaremos com um jogo a menos, e no domingo tem o América-MG no Independência. Depois, tem Inter no Beira-Rio. Galo e Bahia em casa e Chape fora fecham o turno, sendo que o Juventude só enfrentaremos bem depois no Maracanã. Vários dos nossos próximos adversários são fracos ou estão em um mau momento. Hora de subir na tabela e recuperar os pontos perdidos.
– Por outro lado, as quartas de final da Liberta serão em agosto, não nos dando tempo para respirar. Nos dias 12 e 19 de agosto teremos os confrontos contra o Barcelona de Quayaquil. Sem tempo para fazer muito, caberá a Roger tentar recuperar o bom futebol que já conseguimos jogar em alguns momentos. Rever os jogos contra o River Plate, Bragantino e Cerro pode dar um bom direcionamento ao treinador.
– Nonato chegou, e me pergunto a razão. Qual o critério para a contratação dele? Está meio óbvio que é para evitar a renovação automática de Wellington, mas se temos Wallace e Alexsander no sub-23, não seria a escolha mais óbvia integrá-los aos profissionais? Roger disse que já queria contar com Nonato, mas ao mesmo tempo fala que o elenco, que ele ajudou a compor, não é o suficiente. Será que ele é competente para indicar jogadores para fortalecê-lo?
– Palpite para o próximo jogo: Fluminense 2 x 1 Cerro Porteño.
Roger uma hora fala uma coisa, na outra hora, fala a mesma coisa. Ou seja, nem o discurso ele muda.