O silencioso centenário da sede tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

Num tempo em que torcedores são estimulados por militantes da política tricolor a comemorar notícias de quitação de salários, patrocinadores de calção e outras questiúnculas, é surpreendente a esquálida celebração dos 100 anos da sede definitiva do Fluminense – ao menos enquanto não acontece a Terceira Guerra Mundial.

A data magna passou quase em branco, salvo por uma matéria institucional no site do clube, mais a notícia da (nova) reinauguração do antigo Bar dos Guerreiros, agora com o nome de Restaurante Dom Hélio, nesta quinta-feira.

Guardadas as devidas proporções em tempos de possível segunda onda de Covid19, é difícil entender por que uma efeméride tão gratificante não abrigou uma programação à altura, mesmo que fosse numa transmissão pelo Facebook tricolor, por exemplo.

Um lugar que abrigou políticos, empresários, intelectuais, artistas e toda sorte de grandes nomes da vida brasileira. A sede social do clube que ditou os paradigmas esportivos do país.

Parece estranho demais.

Para quem conhece as armadilhas da baixeza política das Laranjeiras, não é surpresa haver certa campanha subliminar no sentido de se deixar o passado de lado. Vem de tempos, não é de agora. Mas será que isso tem alguma argumentação sustentável?

Faz sentido desprezarmos a nossa história? A troco de quê?

A notícia da volta do restaurante é um alento, sem dúvida, porém pequeno diante do que já podia ter sido feito no Fluminense, bem antes da pandemia. Casa de cinema, teatro, literatura, artes, debates, troca de experiências.

É claro que passamos por um momento difícil, é impossível desprezar a grave situação da pandemia. Mas uma pergunta é inevitável: se não estivéssemos diante do drama mundial, alguém acredita que haveria uma celebração de gala, à altura de uma sede que é das mais especiais em todo o mundo?

Sinceramente, não.

Que o Fluminense, através de seus dirigentes, desdenhe de um sem número de atos espontâneos de seus torcedores para valorizar o clube – e este PANORAMA é um deles, dentre tantos e tantos -, não é de bom tom mas até se compreende. Afinal, nem sempre os maiores talentos respondem pelos atos oficiais, sejam eles quais forem. Muitas vezes, o medo e a inveja são capazes de impedir gestos até simples, mas que seriam muito úteis para o Tricolor.

Noutras situações, a inveja pode até se tornar cólera e surgir em ameaças a todos os que, de alguma forma, não se intimidam e questionam verdadeiras barbaridades que causam dúvidas na imensa torcida do Flu.

Agora, um centenário é coisa séria demais. Muito séria. Ainda mais no clube que, reitero, ditou os paradigmas do esporte brasileiro tal como ele é.

Discurso do presidente ao vivo, de dirigentes, de grandes personagens, homenagem a personalidades, vídeos dos torcedores celebrando a causa – torcedores mesmo, não bajuladores de presidentes -, tudo isso poderia ser feito sem confrontar os protocolos necessários e com recursos modestos.

O principal o Fluminense tem: uma grande audiência. Só falta vontade de fazer.

Ok, não precisa tocar no assunto do estádio, vizinho ao lindo prédio, e que é tratado como nada por aqueles que enchem a boca para falar de arena, de Barra da Tijuca, mas que nunca mostraram uma única linha de concretização sobre o assunto.

Se não valorizarmos o que é nosso, quem o fará?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

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