Sexta-feira de tarde. Numa sala gelada de um edifício no centro da cidade do Rio de Janeiro, pouco mais do que uma dúzia de interessados acompanha uma modorrenta sessão burocrática aparentemente sem qualquer conteúdo de grande interesse. Dentre os reunidos, alguns juízes auditores, advogados das partes, alguns réus, repórteres. Nada nas sessões do tribunal chamou a atenção dos últimos. Coisa regular, uns suspensos, outros não. Os repórteres limitaram-se a enviar o resultado para as respectivas redações, que publicaram em seus sites, de pronto, a suspensão do atleta da única equipe expressiva envolvida.    Assim    o    fez    o    diligente    funcionário    do Lancenet:

http://www.lancenet.com.br/minuto/Suspenso-Andre-Santos-Cruzeiro-Brasileirao_0_1042695943.html

Sábado de noite. Dois jogos que foram considerados, sabe-se lá por que, sem importância para o desfecho do Campeonato Brasileiro de 2013 iniciam quase sem público, embora envolvessem as duas maiores torcidas do país. Aparentemente, a ocorrência mais fora do comum apresentou-se no jogo do Corinthians, pois este conseguiu o feito de perder para o inacreditável time com que o Náutico disputou a série A do Brasileiro. Repórteres com sono, narradores enfastiados, comentaristas jogando Candy Crush. Talvez por isso, ninguém tenha percebido a ocorrência mais importante da noite e, talvez, do campeonato.

Ninguém não. Acesse de novo o link acima e veja o primeiro comentário. Kim Spomberg estava ligado. Kim Spomberg não deixa nada passar. Kim Spomberg tem memória de elefante e olhos de lince. E o que é que só você viu, Kim Spomberg? O suspenso André Santos flanando em campo. Não era o suspenso? O que ele estava fazendo em campo?

Domingo de manhã. O Flamengo cometeu uma tremenda irregularidade.  Kim Spomberg viu. Kim Spomberg avisou. Computadores da Nasa captaram o comentário de Kim Spomberg e mandaram diretamente para a sede do Mal. Desespero. Pílulas. Reuniões. Telefonemas. Quem foi o idiota que autorizou o cara entrar em campo? E agora, o que fazer?

Domingo de noite. Sejamos inocentes. Não fizeram nada, contando que Kim Spomberg não falaria para mais ninguém. Mas Kim Spomberg não ia deixar barato. Ele não tem trato com o Demo. Ele não dá mole. Ele seria implacável. Agora, era a sua honra em jogo. Se acontecesse algum dos inúmeros resultados que rebaixariam o Demo no caso da perda de pontos, ele ia ser o gatilho do rebaixamento. Escondeu-se em Monjolos, num casebre com poucas benfeitorias e fez a denúncia para o STJD.

Na sede do Mal, orações. Rezas, terços, mas também tambores que ninguém é de ferro. Todos acompanhando. Tudo certo, por enquanto. Vasco mal. Pancadaria. Deu-se mal. Menos um. Fluminense perdendo. Menos dois. Êpa, gol de Wagner. Não há de ser nada. Abre uma Itaipava. Gol de Samuel. Lascou. E agora, quem poderá nos defender?