Amigos, amigas, vocês já devem ter reparado que eu não sou muito de usar esse maravilhoso espaço, que é o Panorama, para dar pitacos em contratações.
Aliás, nunca foi esse o meu forte, ainda mais agora que não estou envolvido 24 horas com futebol como era antigamente, quando tocava o projeto do O Tricolor.com.
Eu prefiro analisar o que está sendo feito e deixar as especulações e palpites de lado. É que eu prefiro tentar entender qual é a política do clube.
Tenho acompanhado, com certa desconfiança, uma suposta movimentação envolvendo possíveis contratações de nomes como Willian Bigode, Roger Guedes e Sasha. São todos ótimos jogadores e seriam considerados reforços em qualquer equipe.
Também tenho lido muitos torcedores dizendo que precisamos de meias ofensivos e atacantes. Essa é a parte que me deixa um tanto quanto confuso, porque nós temos uma dificuldade para entender o que é meia ofensivo e o que é atacante.
Se pararmos para analisar o que vinha acontecendo no ano passado, jogamos com um único atacante, que é Fred. Meia ofensivo? Esse, pelo que entendo de Fluminense, é o Nenê.
Passamos toda a temporada passada com os treinadores construindo soluções para ter Fred como único atacante e Nenê como único meia ofensivo. Ambos terminaram o ano praticamente com vagas cativas, e não acredito que será diferente em 2020.
Tirando isso, jogamos com dois zagueiros, dois laterais, dois volantes e dois alas, sendo que esses últimos podem ser meias ou atacantes, contanto que cumpram funções defensivas como prioridade, de modo a não comprometer Nenê e Fred com a marcação, o que muitas vezes nos deixa lentos e previsíveis.
Por que, então, queremos mais um atacante, se só jogamos com um?
William seria reserva de Fred? Faria dupla de ataque, com a inserção de mais um meia para auxiliar Nenê na aproximação com os atacantes?
Porque se é para jogar no esquema no qual atuamos agora, nós temos para a zaga: Nino, Lucas Claro, Matheus Ferraz, Frazan e Luan.
Temos para as laterais: Calegari, Egidio de Bigode, Samuel Xavier, Igor Julião, Danilo Barcelos, Raí, Daniel e Jefté. Tem mais gente aí, mas esses já preenchem a conta.
Para volantes temos: André, Martinelli, Yuri, Hudson, Wellington, Nascimento, Yago, Ganso, Metinho e o próprio Calegari.
Para atuar como meias ofensivos temos: Nenê, Ganso, Miguel, Gabriel Teixeira, Wallace, Michel Araujo e agora Igor Julião. Reparem que essa gente toda, no esquema atual, seria para uma única vaga.
Para jogar como alas nós temos: Michel Araujo, Luis Henrique, Lucca, Caio Paulista, Pacheco e Matheus Martins.
Na posição de centroavante, temos, além de Fred: John Kenedy, Samuel e João Neto.
Caso, enfim, prefiramos um esquema com dois atacantes, ainda temos: Kayky e Matheus Martins somando-se a Luis Henrique, Pacheco, Caio Paulista, kenedy, Samuel e João Neto.
Eu repeti algumas peças em diferente posições, embora não o suficiente, porque temos peças em profusão para montar dois times, pelo menos, para a temporada.
Se estamos investindo pesado na retenção dos jovens talentos de Xerém, e isso é uma realidade noticiada, e que tenho elogiado muito, acho que o momento não é de pensar em contratações que não sabemos onde irão se encaixar.
Precisamos, outrossim, definir quais dessas abundantes peças farão parte do nosso plano para a disputar da temporada, porque hoje o nosso elenco é enorme. E não é só enorme, ele tem muitos excelentes valores. Ou alguém imagina que não daria liga um meio com Martinelli, Yago, Metinho e Miguel?
É só para dar um exemplo. Quem tem que definir esquema e peças é o técnico. Eu sou só o cara que dá palpite, mas eu não consigo compreender por que pensar em contratações se não estamos nem perto de definir uns 25 jogadores para iniciarem como força principal.
É preciso, primeiro, saber quem joga, qual o modelo de jogo, qual é nossa matriz e nossas alternativas táticas, para depois pensar em contratações.
Podemos ter uma alavancagem grande em receitas com a atual política. Com a eventual saída de jovens valores, por quantias dignas, é claro, podemos perseguir objetivos concomitantes, como a retenção de bons valores, redução da dívida, atração de investimentos (aí é que complica), ampliação das receitas e, aí sim, fazer investimentos significativos no elenco.
Não é invenção da minha cabeça. Quem me acompanha há seis ou oito anos sabe que eu não invento lógica. Eu aplico o que faz sentido às minhas análises e tento apoiar o clube com ideias. Nada além disso.
Eu leio declaração do Mário dizendo que não quer fazer loucuras e que o Fluminense pode brigar por títulos com o que tem. Eu concordo e bato palmas, mas sem esquecer de que já temos loucuras suficientes, do ponto de vista financeiro, como Ganso, Nenê, Fred e Hudson ganhando os maiores salários do elenco.
Lembrando, ainda, que deixamos de ir mais longe em 2020 por causa dessa política de apadrinhar jogador veterano para ser titular a qualquer preço no clube. Se isso se repetir em 2021, podem ter certeza de que o Fluminense não ganhará nada.
Isso é o que importa mais que contratações. O que importa é projeto para ser vencedor, é autonomia total para a comissão técnica e priorização dos resultados.
Só para lembrar, os melhores 30 minutos do Fluminense desde o início dessa temporada foram quando tivemos Miguel e Gabriel Teixeira atuando como meias ofensivos por trás de uma dupla de atacantes: Kenedy e Samuel.
É só para lembrar. E também de que o Miguel passou um ano e meio encostado desde o início dessa gestão e agora surge a preocupação de que o maior craque do elenco saia de graça porque o contrato vence em julho de 2022.
Eu não estou aqui para fazer crítica nem elogio. Eu estou aqui para analisar as coisas. Podemos ter uma grande temporada com o atual elenco. Não dá para querer cravar aqui que vai ser campeão disso ou daquilo, mas dá para afirmar que é preciso haver uma mudança de postura e de política em relação a 2020.
E eu acho que as amigas e amigos entendem bem o que eu estou dizendo.
Bota a molecada para jogar. Sempre com responsabilidade e com lógica, mas sempre tendo como foco a conquista de todos os títulos da temporada, porque é só isso que justifica a existência do futebol do Fluminense.
Saudações Tricolores!