O outro gol do Marco Antônio (por Paulo-Roberto Andel)

Se você tem 60 anos de idade ou menos, cresceu ouvindo a história de Marco Antônio ter empurrado o goleiro Ubirajara Mota, para que Lula fizesse o gol do título tricolor de 197l1. No livro “Fluminense Cotidiano” essa história é muito bem contada por Oldemário Touguinhó, monstro da imprensa, botafoguense, que explica por que, em sua opinião, o Fluminense mereceu o título. Vida que segue.

Chegamos a 1983, momentos decisivos da Taça Guanabara.

Chovia leve, mas era um grande domingo. Depois de uma longa má fase e com muitos protestos da torcida, o Fluminense voltava a respirar ares de título.

Fui sozinho. Meu pai não queria ir, eu já tinha autonomia. Quando ele não vinha comigo, eu era um jovem tricolor solitário – vi muitos e muitos jogos sozinho. Hoje já não consigo, sempre tem um conhecido por perto.

Peguei o 435, cedo ainda, uma e meia da tarde. Sentei no último banco. Quando o ônibus passava pelo Catumbi, um pivete tentou roubar um passageiro da frente do veículo, fracassou, desceu correndo e sumiu para sempre.

Entrei de graça, direito dos escoteiros. Fui para as cadeiras. Fiquei um longo tempo em silêncio por lá. Aos poucos, o velho Maracanã começou a encher. Encher mesmo, quase o dobro de hoje em dia.

O Fluminense jogou bem e foi superior, mas o primeiro tempo ficou zerado. No segundo, marcamos com Washington e poderíamos ter feito mais, só que desperdiçamos. O clássico estava eletrizante. Então o Botafogo fez um ataque, Nunes – ele mesmo, brevemente em General Severiano – acertou um balaço no travessão e adivinhem quem cabeceou para empatar o jogo? Marco Antônio Feliciano, craque eternamente ligado ao Fluminense 1969/1975, então alvinegro.

Foi um jogão. Não vencemos mas o título estava na mão. Apesar do gosto amargo do empate, a gente sentia que o Fluminense estava engrenado e iria decolar. Uma semana depois, venceríamos o America por 2 a 0 e o então camisa 10 tricolor começaria a ser louvado pela torcida: Benedito de Assis.

Era o começo de uma linda história do Fluminense que atravessaria a década de 1980, mas a gente ainda não sabia direto o que estava por vir. E olhe que seriam anos incríveis. Agora, Fluminense e Botafogo para mais de 110 mil pessoas, nunca mais.

Nunca mais.

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FLUMINENSE 1 X 1 BOTAFO­GO
Taça Guanabara 1983
04/09/1983

Local: Maracanã (Rio de Janeiro);
Árbitro: Arnaldo César Coelho:
Renda: Cr$ 114.561.600,00;
Público: 114.575;
Gols: Washington 12 e Mar­co Antônio 35 do 2.º;
Cartão amarelo: Branco, Jandir. Tato e Geraldo

Fluminense: Paulo Vítor, Aldo. Duílio, Ricardo e Branco; Jandir. Delei e Assis; Leomir, Washington e Ta­to. Técnico: Cláudio Garcia

Botafogo: Paulo Sérgio, Josimar. Abel, Osvaldo e Marco Antônio; Alemão, Ataíde e Berg; Geraldo, Nunes e Jérson (Lupercínio). Técnico: Sebas­tião Leônidas