Amigos, amigas, eu acredito que a felicidade não é uma condição, mas um estado de espírito que devemos experimentar sempre, se possível, a maior parte do tempo. Mas a gente sabe que o mundo não nos ajuda, pelo menos a nós, que temos consciência coletiva, diante de um momento que nos flagela com a ameaça da guerra, em pleno século XXI, quando já deveríamos ter superado a ganância em favor da fraternidade.
O que o Fluminense fez sábado foi nos fazer felizes. Rumava eu para Copacabana, para um encontro entre amigos, quando o jogo começou e o que me restava para assisti-lo era a transmissão da Flu TV pelo celular. Mesmo com a dificuldade de um sinal que travava a cada passe, foi possível perceber o abismo entre as duas equipes e vibrar, silenciosamente, com o gol de Germán Cano, um atacante que nasceu para ser uma estrela no Olimpo Tricolor.
O que se viu no primeiro tempo foi um massacre técnico, algo que, honestamente, eu só vira na época da Máquina de Francisco Horta. Chegando ao bar, já com 20 minutos de jogo, lá estavam tricolores e dissidentes reunidos. Curiosamente, o assunto era Paulo Henrique Ganso, do qual eu era o único defensor. O que, obviamente, me fez tirar uma onda das dimensões daquelas que encontramos em Teahupoo.
Em determinado momento, com o show de bola em curso, discutíamos, os tricolores, sobre ser o time reserva melhor que o titular, o que fez com que um dos dissidentes esbugalhasse os olhos – literalmente esbugalhasse os olhos – perguntando atônito: “esse time é o reserva?”
Bom, essa é a pergunta que todo mundo anda fazendo por aí, inclusive o próprio Abel, que já acenou com a entrada de algumas peças desse time reserva de luxo, que é melhor que o titular, na partida de terça contra o Milionários. Mas isso já não é novidade e a partida contra o Volta Redonda já fora um indicador claro, ainda que difícil de convencer os incautos. “Ah, mas era o Volta Redonda”.
E agora? Qual será o argumento? “Ah, mas era o Vasco”. Talvez tenham perdido o bonde da história e a noção do que é o Vasco da Gama, adversário que nos flagelou por décadas, com times melhores ou piores. Sim, o time atual é horroroso, quase sem precedentes, mas ainda é o Vasco, uma das maiores grifes do futebol mundial. Coloque lá onze cabos de vassoura jogando com aquela camisa, ainda assim teremos sempre que respeitá-los.
Quando o Fluminense dá um passeio no Volta Redonda, podemos dizer que é um sinal de que cumprimos nossa obrigação. Quando fazemos a mesma coisa com o Vasco, temos que reconhecer que algo muito grande está acontecendo.
Abel, pela primeira vez na temporada, levou a campo um time com foco no meio de campo. Nada de três zagueiros, nada de três atacantes. Atuamos no 4-4-2, com John Árias e Cano fazendo a dupla ofensiva, embora possamos até imaginar que tínhamos um 4-5-1, já que o surpreendente Árias é um construtor de jogadas altamente qualificado. Mais que isso, é o jogador mais versátil de que sem notícia no Ocidente. A cada jogo aparece fazendo uma função diferente, e sempre com incrível qualidade.
A gente olha o colombiano jogando com o babador do lado. Eu espero que isso não seja só uma fase, como foi a do Caio Paulista ano passado, porque essa criatura, atuando desse jeito, joga como titular em qualquer time do mundo. E não vai nisso qualquer exagero.
O meio, formado por Wellington, Nonato, Martinelli e Ganso, fez a gente voltar a reconhecer que o futebol pode nos fazer felizes. O Fluminense do primeiro tempo foi algo que não se vê por aí. Foi um time divinal. Não houve quem não jogasse bem, não houve quem não estivesse embebido do bálsamo do futebol arte. E muito disso se deve à presença de Ganso e Martinelli no meio de campo, que mostraram que fazer a bola rolar macia no gramado não exclui a transpiração. Tanto é assim, que Marcos Felipe só apareceu em uma cobrança de falta magistral de Nenê, fazendo uma defesa típica de Marcos Felipe, no meu entendimento, o melhor goleiro do Brasil.
O Fluminense esbanjou fundamentos táticos, com compactação, transição ofensiva e defensiva perfeitas, aproximação das peças, controle de jogo, posse de bola produtiva e movimentação ofensiva inteligente. É bem verdade que colocamos um salto plataforma nos primeiros 15 minutos do segundo tempo, dando ao adversário até mesmo a impressão de que poderia mudar o rumo do placar, mas Abel fez algumas substituições bem pensadas e nos devolveu o controle da partida.
As lições da partida de ontem não são diferentes daquelas proferidas pelas anteriores. Temos um Fluminense mutante, capaz de atuar com modelos táticos diferentes e com um elenco que surpreendentemente nos coloca na mais alta prateleira do futebol nacional. O único senão no trabalho de Abel é a escolha equivocada de seu time titular, algo recorrente nos últimos anos, que até nos privou do título brasileiro de 2020.
Não obstante, amigas, amigos, temos que reconhecer um trabalho extraordinário no sentido de conceber e treinar variações táticas. Quem olha o Fluminense em campo, mesmo nos maus momentos, vê um time treinado, que sabe o que veio fazer em campo, o que me surpreende muito e positivamente. Eu confesso que não esperava isso do Abel, mas, por outro lado, acredito que não tem idade para a gente se transformar.
O Fluminense não tem um time titular. Tem uns 20 titulares. Mesmo assim, é preciso encontrar a melhor formação, e o jogo de ontem foi mais uma informação valiosa.
Manoel cada vez mais me encanta. Pineida vai cada vez mais apresentando suas credenciais. Lucas Claro, não raro, briga com a bola, mas é peça vital para o elenco. Nonato começa a surpreender e Samuel Xavier, como lateral, e não como ala, é um bom jogador.
O Fluminense tem elenco para ganhar tudo esse ano.
Saudações Tricolores!