ou o ballet da morte
“Eu sou a tua morte e vim te impressionar mais uma vez:
Sou a dor em teu peito, sou o horror da tua memória
E vim namorar contigo
Mas não tenho certeza da recíproca
Não sei o que pensas de mim
Mas eu te quero, te quero e persigo: hei de abraçar-te um dia
mesmo sabendo que nada, absolutamente nada
tem a onipresença do definitivo.”
A torcida fez o que tinha que fazer: apoiou a todo instante, xingou quem tinha que ter xingado – principalmente Euzébio, que perdeu-se no caminho quando trocou a humildade pelo peito-de-pombo da soberba – e, encerrado o desastre contra o Vitória, protestou quem quis.
A situação é grave. Muito grave. Os mesmos velhos idiotas sorriem e dizem: “Pague a série B”.
É gravíssima.
Pela enésima vez, as coisas não iam mal até que o adversário teve o primeiro êxito de seu ataque – o único até então – e fez seu gol. Teoricamente tinha um a menos, quando o rapaz do Vitória acertou uma botinada em Diguinho. Na prática já jogávamos com dez: Bruno em campo, como tem sido desde 2012. Nada contra o rapaz: simplesmente não deu certo em um ano e meio. Logo depois, Biro-Biro empatou numa sinuca maluca na direita da área. Marcos Junio em campo.
Intervalo, a volta, o Flu com ímpeto, Felipe começa a linda jogada que terminou com o gol de Sobis no rebote. A virada prometendo esperanças aos corações. Ledo engano. Os nervos à flor da pele, a defesa batendo cabeça, o ataque inoperante. Os baianos viraram num estalar de dedos e só não fizeram quatro devido a um show de incompetência na finalização na trave esquerda, depois um balão para cima. Desesperados, perdemos um, dois, três gols. A agonia persiste. As moscas varejeiras nos grotões do clube disseram amém: quanto pior melhor. Falar do jogo de ontem é pouco mesmo: dor, drama, desconforto.
Ainda estamos vivos, mesmo à beira do poço. Perdemos uma partida crucial. Restam sete. Urge o rol de três vitórias e um empate para a salvação. No próximo domingo haverá um Fla-Flu com caráter de decisão. Eis a hora de crescer. Mas não por talento e sim com uma garra infinita, essencial quando as coisas não vêm bem. A arquibancada, a mesma que vai passar a mandar no clube – em detrimento de fracassados tiozinhos das ciências curtas e apagadas – tem novamente à frente um dos maiores desafios de sua história: aterrisar o desgovernado avião do Fluminense num pouso sem tragédia.
O fim da noite deste domingo que feneceu encontra o céu em seu lado selvagem, o lado escuro da lua. Versos de Lou Reed trazem Jack Kerouac caminhando pelas ruas de Nova York como se fosse a praça da Cruz Vermelha. Há um cheiro pavoroso e indecifrável de morte nos arredores, como se tudo fosse o último dia. Mas acontece que não é. O peito pode doer, a morte pode rondar, mas ainda estamos vivos. Falidos, perdidos, desesperados, destroçados, mas vivos. Chorosos, à beira do abismo, mas vivos. Não é a primeira vez que nos acontece; desde muito tempo atrás, foi nosso costume desafiar o terror e vencê-lo. O que dizer do futuro à frente? Haverá um Fla-Flu, o Flamengo nunca foi tão favorito e, por isso mesmo, podemos sonhar com uma redenção de domingo. Estamos acostumados a constranger e humilhar a morte, por mais visível que ela pareça estar.
A esperança sempre existe, por mais que tenha sonho em vez de realidade. E se o improvável acontecer, ele será tudo – inclusive surpresa – exceto novidade.
Por ora? As ruas estão cheias de solidão. O lado selvagem.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: PRA/ Reuters
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216
Em memória de Lou Reed (1942-2013)
Continuando…
O mais importante agora é tentarmos levar o mínimo de gols possível. Isto já nos garantiria os pontos necessários para evitar a queda.
No final do ano, agradeceremos a Joel o serviço prestado e iniciaremos um planejamento de verdade para 2014.
De início, adeus a Bruno, Eusébio, Anderson, Wagner, Felipe, entre vários outros.[
Entretanto, é de suma importância protegermos os Moleques de Xerem, aconteça o que acontecer. A geração é muito boa.
ST, Luiz
*** Service…
Caro Andel,
Outra excelente análise da situação em que nos encontramos. O buraco está muito próximo.
Tenho certeza que se continuarmos com este “treinador” a barca vai afundar. A sua história mulambenta já nos sinaliza o abismo.
Ainda que não goste do cidadão, creio que neste momento, o mais indicado seria o eterno Papai Joel, pois, entre os disponíveis, é que melhor sabe armar um ferrolho, a fim de que não tomemos mais tantos gols, bem como consigamos ganhar alguns potinhos…
***…
Rods:
Just a perfect day
drink sangria in the park
And then later when it gets dark
we go home
Just a perfect day
feed animals in the zoo
Then later a movie too
and then home
Oh, it’s such a perfect day
I’m glad I spent it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
you just keep me hanging on
Just a perfect day
problems all left alone
Weekenders on our own
it’s such fun
Just a perfect day
you made me forget myself
I thought I was someone else
someone good
Oh, it’s such a perfect day
I’m glad I spent it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
you just keep me hanging on
You’re going to reap just what you sow
You’re going to reap just what you sow
You’re going to reap just what you sow
You’re going to reap just what you sow
A morte ronda, mas a vida ainda suspira!
Vamos que vamos!
Andel: A morte é sempre um sinal de que há vida por perto.