O Fluminense adora o imponderável e o improvável. Muito, inclusive, já se escreveu sobre isso.
Incontáveis vitórias improváveis fazem parte da coleção tricolor. Quem não lembra daquele Fluminense X Boca Juniors, na semifinal da histórica Libertadores de 2008? A classificação que não era considerada fácil, virou épica em noite mágica, num Maracanã transbordando de emoção. O Flu não apenas buscou a virada, mas jogou com beleza estonteante. Vimos o céu naquela noite de um 3 x 2 tricolor, com direito a Coração Valente.
O improvável e o imponderável também estiveram juntos em 2009. Enquanto os matemáticos do Brasil cravavam 99% de possibilidade de o Fluminense cair para a segunda divisão, Cuca e seus comandados faziam mágica e revertiam a situação. Afinal, o que foi aquele Cruzeiro 2 x 3 Fluminense? Comemoramos 2009 como se fosse um título.
No já distante 1995, o mais famoso gol tricolor, o gol de barriga de Renato Gaúcho, na final do Carioca daquele ano. Era improvável ganharmos de um time estrelado, que comemorava seu centenário sob o comando do genial Romário e jogava aquela partida com a vantagem do empate. Com jogadores a menos em campo, o Flu buscou o gol da vitória aos 42 minutos do segundo tempo. Era o gol do título e da fama, mostrando que ganhar Fla x Flu é normal e que mais uma vez o imponderável esteve conosco.
Tem sido assim nossa história. O imponderável sempre presente.
Ouso dizer, então, que tem sido assim nos últimos jogos tricolores sob o comando Roger. Com algumas exceções em que o Fluminense entrou em campo para ganhar, o time tem vivido do gol imponderável. Aquele que a torcida bem nominou de outra coisa.
Foi assim contra o Cuiabá e contra o Santos, pela segunda e quarta rodadas do Brasileirão, respectivamente. Nas duas ocasiões o gol veio.
Foi assim também contra o Atlético Goianiense, pela sexta rodada do Brasileiro. A diferença: o gol não veio. Com apenas duas chances de gols em todos os 90 minutos, ambas com Fred, o imponderável não aconteceu.
A questão agora é outra e preciso fazer todas as ressalvas possíveis. O que os exemplos citados acima tem em comum? A semifinal da histórica Libertadores de 2008, o “milagre” de 2009 e o gol de barriga de 1995 só foram possíveis porque as equipes jogaram bola e buscaram o gol.
Não foi por acaso a incrível sequência de jogos de 2009 que tiraram o Fluminense da zona de rebaixamento e nos manteve na elite do futebol nacional só foi possível porque o time passou a jogar muita bola. Sob a batuta do Cuca, que encontrou um time desolado, na lanterna do Brasileiro, a equipe tricolor renasceu, renovou o espírito, encaminhou uma incrível sequência de vitórias o que resultou, inclusive, na alcunha de Time de Guerreiros ao nosso elenco.
O que mais havia em comum nos exemplos citados? A presença da torcida tricolor! Poucas vezes se viu uma torcida colocar seu time no colo como a torcida do Fluminense fez com seu clube em 2009. De um time idolatrado pela campanha da Libertadores de 2008 à tragédia que se anunciava em 2009, além das mudanças internas, da presença marcante do craque Conca e da chegada ao time de Fred, a torcida foi o divisor de águas.
E agora? Vamos novamente esperar o imponderável ou mudar a postura com um time mais ofensivo, um meio de campo organizado, rápido e ousado, com laterais de ofício cumprindo suas funções?
Gravatinha não está à nossa disposição todos os dias. Não dá para viver de gol imponderável, mesmo sendo o Fluminense! Não dá para abdicar da ofensividade. Esse time, em que pese ser reconhecido como um bom elenco, não consegue agredir quase nenhum adversário.
Em tempos de pandemia, sem a presença física da torcida, com um esquema de jogo imutável e com Fred isolado, com pouquíssimas chances gol, o Fluminense não encanta e, ao contrário, amedronta a todos nós.
Contra o Corinthians, pela sétima rodada do Brasileirão, mais do mesmo. E agora o Athletico nesta quarta-feira, num jogo praticamente sem som nem imagem. O que será de nós?
Obs: no mês do orgulho LGBTQ+, que nada mais é do que uma campanha pelo respeito à diversidade humana, o Fluminense usou números e braçadeira de capitão nas cores do movimento, ao enfrentar o Corinthians. Assim, meu clube me representou mais uma vez. Queria tanto uma camisa dessas de presente, de preferência a usada por Fred! Sonhar não custa, só alegra a gente, né?
#TimeDeTodos