Acabou o campeonato carioca.
E mais uma vez o Fluminense fez papel de convidado para a festa, de figurante. Na hora H, limitou-se a servir a bola passivamente para que seu o adversário o amassasse feito paçoca.
Há quem não se importe com isso. Que acha que o campeonato não serve para nada, que é inútil, inclusive amigos que gosto e muito respeito intelectualmente, mas sinceramente não concordo em nada nesse tema.
A grande verdade é que, nesse momento, nessa terça-feira, há milhares de pequenos tricolores com a cara no chão por conta da situação ridícula que o Fluminense apresentou na final, o que pode piorar ainda mais caso não venha a classificação na Libertadores logo mais.
Para mim, onde o Fluminense pisa é lugar de decisão e de conquista. Não pode existir brincadeira, descaso ou deboche, não interessa o adversário nem a competição. Entendo que muitos tenham como foco único a Libertadores ou a Sul-americana, que é a sua segunda divisão, sejamos honestos, mas isso não pode servir de justificativa para uma situação tão ridícula, tão constrangedora, tão sem vontade de vencer, de disputar, caso do último sábado.
Essa mistura de incompetência aliada a certo desprezo pela decisão local é um caso único no país. Os atleticanos, campeões da Libertadores em 2013, estão comemorando a valer o título mineiro em cima do América. Em Pernambuco, o Náutico sorri à toa porque derrotou o grande rival Sport depois de onze fracassos em 50 anos. No Sul, o Grêmio é tetra e vibra muito porque, por mais títulos que tenha nos cenários continental e nacional, sabe que o seu maior rival no mundo se chama Internacional. O São Paulo, tricampeão mundial, da Libertadores, hexacampeão brasileiro, fez um carnaval depois de 15 anos sem ganhar o Campeonato Paulista – quem não comemoraria uma conquista sobre o campeão da Libertadores? E o Fluminense, que há quase dez anos, não tem conquistas relevantes e, em metade deste período limitou-se a escapar de rebaixamentos, muitas vezes vê em parte sua torcida a comemoração por pagamento de folha salarial ou pela “boa” negociação de algum jovem jogador, ou ainda pelo quinto lugar de um campeonato onde jamais lutou pelo título em quase 40 jogos. Queiram me desculpar, mas isso é RIDÍCULO com caixa alta.
O Carioca acabou, o campeonato é fraco, a transmissão foi esdrúxula, o pagamento está frouxo, mas o grande saldo deste início de temporada é ver Gabigol, um artilheiro em campo e uma figura grotesca fora dele, debochando do Fluminense em rede nacional com propriedade.
Os rivais são bicampeões brasileiros e campeões da Libertadores nos últimos três anos, mas estão comemorando pacas. O que justifica que nós esnobemos o cenário local para se vangloriar do que não temos no cenário continental?
Em tempo: para “revolucionar” o futebol brasileiro e ignorar estaduais falidos, veio a Primeira Liga. O Fluminense comemorou merecidamente a conquista. Porém, a competição se perdeu e virou uma lembrança legal. Só. A revolução que o Fluminense deveria liderar é a da retomada do seu próprio caminho, se impondo no cenário continental mas também sendo o grande rival do time mais rico e com mídia a seu favor. O grande rival, o grande adversário a ser batido, e não uma paçoquinha que, depois se ser amassada, sai e diz “Isso não vale nada, tem que acabar”. Com essa receita, quem vai acabar é o Fluminense…
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Enfim, o Carioca acabou da pior forma possível, mas a vergonha continua e logo mais temos um momento dificílimo na Libertadores, onde até aqui o Fluminense só não garantiu a classificação porque sabotou a si mesmo.
Poderia ter vencido o Junior Barranquilla na Colômbia, mas preferiu tocar bolinha durante 30 minutos no segundo tempo satisfeito com o empate. Atitude de time pequeno, sem ambição. Mas o problema não era o Carioquinha? Depois pagou o preço se enrolando contra o próprio Junior dentro do Maracanã, inaugurando um novo sistema de jogo: a retranca arrombada, que recua o time inteiro para tomar gols de fora da área.
É bom que se diga: as derrotas já eram para ter acontecido há muito tempo. É só olhar a sequência de atuações pavorosas do Fluminense, especialmente na Era Roger. Não que no Brasileiro do ano passado fosse grande coisa porque o Fluminense também teve atuações horrendas, mas conseguiu os pontos e então, para a mentalidade simplista, se tem resultado está bom. O problema é que esse chamado futebol de resultados tem prazo de validade, e quando esse prazo acaba só restam fracasso e decepção.
Escrevi aqui muitas vezes nas últimas semanas sobre o fato do Fluminense ter que se definir se seria um protagonista ou um figurante na temporada. Vamos ver o que acontece logo mais.
Torcerei como sempre, por mais que a lógica ridicularize minha fé de torcedor.
Esperarei o melhor possível como sempre.
Porém, à essa altura do campeonato não estou aqui para ficar enganando nenhum leitor, de tanta gente que me prestigia há 15 anos. Não entrei no ônibus agora, nem comprei likes ou fiz michetagem de opinião para bajular dirigente.
Acho as probabilidade do Fluminense muito escassas, embora existam. E mesmo que venha a sonhada classificação, jogando desse jeito, com essa mentalidade ridícula de time inexpressivo, pequeno, inseguro, é impossível ganhar qualquer título jogando do jeito que joga. Para ganhar a Libertadores o Flu vai ter que mudar muita, mas muita coisa mesmo, isso caso se classifique hoje à noite.
Como o tempo não espera, independentemente do que aconteça logo mais, no próximo final de semana temos que encarar o São Paulo numa nova fase: campeão paulista com muita comemoração um hexacampeão brasileiro um tricampeão mundial, tri da Libertadores, muito feliz e satisfeito por ter voltado a reinar no seu cenário local, porque é assim que todo time grande tem que fazer. Time grande prevalece em todos os lugares. A gente não tem prevalecido em lugar nenhum há quase dez anos. Talvez seja a hora de refletir sobre essa mentalidade.
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Marcos Felipe foi muito mal na final, mas tem crédito. Se não fosse ele, o Fluminense sequer estaria disputando uma vaga logo mais, nem teria chegado à final do Carioca.
Fez grandes jogos antes da última semana. Foi o principal responsável pelo Flu não ter perdido o jogo contra o modestíssimo Santa Fé, lá, e garantiu o empate contra a Portuguesa no primeiro jogo das semifinais do Carioca.
Virou “pereba” ou está nervoso por ser bombardeado em função de um esquema de jogo ridículo?
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O maior problema é a mentalidade.
Não basta ter tradição, camisa, história, conquistas passadas e uma grande torcida se tudo isso para no tempo.
Não basta ter sido grande, é preciso SER grande.
E para SER grande, não cabem covardia, pequenez, mediocridade, empáfia e descaso.
Time grande é grande em todas as frentes de batalha.
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Que tudo dê certo logo mais. Acho muito difícil, mas neste momento meu único trunfo é me apegar aos êxitos que vi e vivi. Só que está difícil.
Infelizmente ele tem toda razão. Gostaria de ter lido um texto diferente, mas não é a nossa realidade.