O Flu sem Fred (por Felipe Fleury)

felipe fleury green 2016

Muito já se falou sobre a sua saída, sobre a sua importância ou desimportância para o Fluminense, sobre ser ídolo ou não, sobre ter sido o maior ídolo da história tricolor, ou não.

Essa discussão não vem ao caso para uma personagem relevante no universo da torcida Tricolor: a criança.

Muito menos criteriosa que o adulto, uma criança forja a imagem de seu ídolo como a de um super-herói, aquele ser que está acima do bem e do mal, capaz de salvar o mundo da maldade humana, defender os oprimidos e punir os vilões.

O ídolo infantil é necessariamente bom, puro em sua essência, porque são os olhos da pureza que o enxergam despido dos vícios e dos pecados do adulto.

É por isso que Fred adquiriu o status de supra-humano ao tornar-se um ídolo dessa imensa legião de fãs mirins. Não importa o que se diga, aquele mineiro carismático, carinhoso e amigo das crianças, sempre será inviolável na sua condição de ídolo, ou de super-herói.

Se há algo que o Fluminense perderá indiscutivelmente com a sua saída será essa farra saudável da criançada gritando o seu nome em casa, na escola ou nos campos de futebol: “O Fred vai te pegar!”.

E há dor. E haverá saudade no coração do pequeno Fernando, de apenas 11 anos de idade, tricolorzinho apaixonado, para quem a partida de Fred foi como se o artilheiro tivesse morrido.

Esta foi a resposta que recebi de uma amiga tricolor, Gabriella, a uma postagem que publiquei sobre a saída de Fred do Fluminense:

“Um dia alcanço essa tranquilidade dos que aceitaram bem a saída do Fred. Por enquanto ainda me dói ouvir meu filho falar que “é tipo quando alguém morre e você fica com muita saudade” pra depois, mais conformado, dizer que vai torcer pro Fred quando não jogar contra o Fluminense. Mas vai passar.”

Respondi-lhe:

“Minha filha ainda não sabe, Gabriella, e nem sei quando contarei. Ela também é fã de Fred, mas acho que isso fará parte de seu amadurecimento, saber que um jogador profissional, assim como qualquer outro profissional, um dia deve seguir seu destino, e procurar o que é melhor para si. Sem mágoas, sem ressentimentos, porque é isso o que importa. O nome de Fred estará indissociavelmente ligado ao do Fluminense como um de seus grandes ídolos, e isso ninguém mudará.”.

Foi uma resposta calculada e que considerou somente a visão que nós, adultos, temos sobre a situação. Talvez eu tenha querido apaziguar o coração de uma mãe sofrida com a decepção de seu filho, mas desmistificar um ídolo, mostrando a uma criança o seu lado “humano” e desapaixonado, certamente não foi o melhor caminho.

Cada criança deverá, dentro de seu coraçãozinho, imaginar o melhor destino para o seu super-herói. Tolher esse espirito, cercear a saudade que o pequeno Fernando sentirá, destruir a sua fantasia infantil é, sem dúvida, uma violação da sua meninice. Descolori-la com a realidade nua e crua da vida adulta provocará na alma pura e imaculada de uma criança amargura ainda maior.

Deixemos que as crianças sejam crianças, que vivam suas fantasias, que cultuem seus ídolos e que se permitam imaginar que, com suas asas – ou capas – voem para um mundo mágico qualquer, um paraíso dos super-heróis e que fique a saudade, porque a saudade sentida por uma criança significa muito mais do que tristeza: é amor.

Com o tempo, com o inexorável amadurecimento, elas descobrirão a verdade. Por enquanto, deixemo-las sonhar.

Fred, agora, fará a felicidade de outros pequenos, em Minas Gerais, sua terra natal. Mas quem fará a felicidade dos nossos?

Nossas crianças estão órfãs. Até quando?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: f2

4 Comments

  1. Excelente crônica! Parabéns!
    Foi muito triste a torcida do Galo cantando “o Fred vai te pegar”.
    Eu fui um dos muitos críticos do Fred, não negando a sua condição de titular absoluto, mas sim porque achava, que tanto ele quanto o Cícero deveriam serem substituídos no segundo tempo,por já serem veteranos e poderiam serem mais produtivos jogando só um tempo, sem nenhum demérito, prática muito comum na Europa. Mas estou triste com sua saida, pela sua identificação com o Fluminense. ST!

  2. Crianças deveriam naturalmente apreender seus familiares como modelo.

    Somos responsáveis pela idolatria ao Fred porque organizamos e sustentamos uma máquina de marketing e merchandising em torno dele. O investimento na idolatria marcou uma geração.

    Perguntar “até quando” é insistirmos o mesmo erro, mas com outro personagem.

    Enquanto isso, a próxima geração cria-se acostumada com figuras ideais que enfim não são diferentes, não são sobrehumanas, e esquecem-se obliteradas de si mesmas.

  3. Bonitas palavras cheias de sentimentoos bons. Só pessoas sensíveis como vc entenderão seu texto. Eu sounuma delas. Concordo com vc. As crianças sentirão,mas a vida segue,o Fluminense é maior e nao podemos parar de exigir melhores cintratos e escolhas.

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