O elenco do Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, vamos direto ao assunto. Depois da tenebrosa noite de quinta-feira no Maracanã e da sequência de cinco jogos sem balançar as redes dos adversários não cabem rodeios.

Meu time titular do Fluminense é: Fábio, Samuel Xavier, Nino, Manuel e Marcelo; André, Martinelli, Ganso e Alexsander; Jhon Árias e Germán Cano. Acrescento um décimo segundo titular, que é Keno, para termos a possibilidade de gerar variações táticas.
Em outras palavras, temos um timaço. Um time que dificilmente perderá jogos. Um time que dará espetáculos mesmo contra os mais qualificados adversários. Não sou eu que o digo, mas os fatos.

A partir daí, todavia, começam os problemas. Quais são os reservas, atualmente, capazes de entrar em campo desde o início da partida e não afetar a qualidade do nosso jogo? Temos Guga na lateral direita e Lima no meio. E é só.

Por que, então, Felipe Melo vem fazendo boas exibições e é titular na zaga? Porque Felipe Melo tem muita qualidade, é um jogador que propicia fluidez ao jogo com a bola no pé. O problema é que Felipe Melo vai muito mal quando as situações de jogo requerem explosão física. Porque é lento e destrambelhado. É só ver a falta desnecessária feita em Gabriel no primeiro Fla-Flu da Copa do Brasil, que originou a expulsão que nos fez jogar quase o segundo tempo inteiro com menos um. E esse é só um de muitos exemplos que eu poderia citar.

Tudo bem, mas e o JK e o Lelê? São dois excelentes jogadores, com qualidades para até serem titulares do Fluminense, mas não se enquadram nos desenhos táticos de Diniz. Os Fluminenses que deram certo nos últimos tempos atuam com quatro meias ou com um ponteiro, Keno, aberto em um dos lados do campo. Como foi com Luiz Henrique, mas não funcionou com Matheus Martins, que, apesar da qualidade, não é esse homem de lado de campo.
Tanto JK, quanto Lelê, são centroavantes. Para atuarem ao lado de Cano, como vêm atuando, é preciso que o time se adapte taticamente. Vocês devem lembrar da dupla Roni e Magno Alves, que foi muito produtiva no início do século XXI. Eram dois atacantes de centro, que dividiam os mesmos espaços, mas tinham uma dinâmica de movimentação inteligente, em que nunca competiam pelo mesmo espaço.

Se vocês quiserem um outro exemplo, é só lembrar da dupla feita por Romário e Bebeto na Copa de 1994. Ou da dupla Miller e Careca, no São Paulo, naquele mesmo período. É um 4-4-2 típico, em que outros jogadores ocupavam os lados do campo para dar amplitude. Meias, laterais e os próprios atacantes, dentro de sua dinâmica de movimentação. E o Fluminense, embora tenha os recursos, parece não treinar para ter essa alternativa tática.

Razão pela qual esses dois jogadores vêm sendo mal aproveitados, tornando o elenco ainda mais disfuncional. Se Diniz pensar e treinar essa alternativa tática, eu acredito que esses jogadores possam se tornar reservas e até titulares funcionais.

Mas é impressionante como o Fluminense foi desconstruindo seu elenco, sorrateiramente, com péssimas decisões. Eu mesmo dizia, não faz muito tempo, que o Fluminense tinha elenco para brigar por todas as competições de 2023. Uma ilusão produzida pelo próprio Fluminense, que perdeu Manuel e Martinelli, ainda no Campeonato Estadual, e conseguiu manter o nível das apresentações. Chegou a perder Keno, contra o River, e, ainda assim, não deixou a peteca cair. Vide a vitória sobre o Cruzeiro. Superamos, em alguns momentos, até mesmo a ausência de Samuel Xavier, com Guga mantendo o padrão de exibições atuando na lateral-direita.
Mal percebia eu e os outros 100% da crônica esportiva que o nosso banco de reservas estava esvaziado. O que acontecia era que os desfalques eram administráveis. Mas veio a perda de Alexsander e Marcelo. Desde então, o Fluminense começou a sucumbir. E vieram os cinco jogos sem balançar as redes adversárias, com um empate e quatro derrotas. Melhoramos com o retorno de Martinelli, fizemos um ótimo primeiro tempo contra o Corinthians, até dominamos o primeiro tempo do Fla-Flu, mas não foi suficiente. Porque o nosso lado esquerdo não mais funciona ofensivamente sem Marcelo, Alexsander e Keno, o que torna nosso jogo previsível e mais fácil de se marcar.

Ora, quando você tem um elenco em que só três reservas conseguem manter o nível das exibições, não podemos dizer que o Fluminense pode disputar três competições com chances de título. A eliminação na Copa do Brasil está aí para comprovar. O elenco do Fluminense é disfuncional e cheio de lacunas, que se tornam evidentes quando os desfalques se multiplicam. O que nos faz voltar às péssimas decisões tomadas pela direção do nosso futebol.

Dispensamos Yago Felipe, jogador de meio-campo com grande intensidade, que marcava muito, explorava os lados do campo, batia bem na bola e ainda entrava na área para marcar gols. Yago foi a peça que fez com que o Fluminense superasse uma má fase e terminasse a temporada passada dando show e ganhando de todo mundo. Seria mais um reserva capaz de manter o nível da equipe, mesmo tendo algumas deficiências técnicas, superadas pelas suas qualidades. Ou será que não cabe Yago num time que se dispôs a contratar Thiago Santos?

Emprestamos Calegari para o futebol estadunidense. O mesmo Calegari que foi, mesmo improvisado, o nosso melhor lateral-esquerdo em 2022, já no final da temporada. E hoje não temos um mísero lateral-esquerdo para substituir Marcelo, que precisa – e muito! – de um reserva. Sem contar que Calegari joga na direita e no meio, um verdadeiro coringa. Mas, para piorar, o Fluminense também emprestou Marcos Pedro, um promissor lateral-esquerdo, sem lhe ter dado uma única oportunidade no time profissional.

Emprestamos, também, Michel Araújo, um jogador que já mostrou suas qualidades no Fluminense. Que atuou em algumas partidas no ano passado e, se não me engano, marcou três gols. Um jogador versátil, que é meia, mas atua como atacante e ponteiro. Vão fazendo a conta. Já são três jogadores que poderiam ser reservas de confiança nesse elenco atual de banco estéril.

Para completar a lista, o Fluminense vendeu Gabriel Teixeira para o Bahia. É impossível não pensar nele, que vem dando assistências e fazendo gols pelo clube baiano, quando olhamos para a esterilidade do lado esquerdo do nosso ataque. Seria mais um reserva de confiança, mesmo não tendo, exatamente, as mesmas características de Keno.

Eu não tenho dúvidas de que com esses jogadores teríamos um banco muito mais confiável e de que não estaríamos vivendo esse momento terrível. Que, para piorar, ainda tem, graças ao imbróglio das apostas esportivas, a perda do Vitor Mendes, um zagueiro com características que se enquadram perfeitamente no modelo de jogo de Fernando Diniz.

Diante de tudo isso, vemo-nos perante um cenário desanimador, frustrante e quase devastador. Com o elenco atual, o máximo que podemos fazer é focar na Libertadores e administrar o Brasileiro. Porque ninguém, em sã consciência, pode acreditar que o Fluminense, com sua política de contratações, vai endireitar esse estrago na janela de transferências do meio do ano. E isso se não piorar as coisas com alguma venda desvairada de um dos nossos doze titulares.

A menos que Diniz consiga encontrar, entre os muitos pontos de interrogação, soluções para encorpar esse elenco. Falo de Isaac, para ser o substituto de Keno, de Lelê e JK, com soluções táticas em que possam desenvolver seu potencial, Esquerdinha e Jefté, para termos um lateral-esquerdo reserva, Luan Freitas, para a zaga, já que foi relacionado para o Fla-Flu, e Arthur, que tem talento de sobra, mas precisa amadurecer para ser o grande meia que promete ser.

Temos outras promessas da base para essa lista, mas é primordial que a política do futebol mude e se volte para incorporar, de forma efetiva, esses talentos ao time principal, mas não de forma aleatória ou superficial. É preciso que tal decisão seja respaldada por um projeto verdadeiro, como tem feito o Palmeiras com suas revelações, colhendo excelentes resultados.

Durante os anos em que vivemos disputando Campeonatos Brasileiros com a única ambição de nos mantermos na Série A, foram os meninos da base, jogados dentro de barcos afundando, que nos salvaram. Por que não, agora, usá-los para evitar que afunde pateticamente o barco das nossas ambições, num ano que já prometeu muito, mas ameaça terminar de forma frustrante?

Saudações Tricolores!

3 Comments

  1. Caro Savíoli, faço minhas as tuas palavras. Como comentarista exclusivamente do futebol tricolor, na minha opinião, você é o melhor colunista deste Panorama Tricolor. Agora, quantas promessas não foram queimadas ou desperdiçada nos últimos anos? Nosso descuido com as chamadas jóias de Xerem é quase criminoso.

  2. Saviola, enquanto Marcos Pedro nem recebeu qualquer chance, Orinho, Moldávia, Marrony e outros perebas jogaram mais do que desejou a torcida. Milagres dos rmpresarios??

  3. Meu time titular é idêntico ao seu. As outras variações que você fala, Fernando Diniz é quem terá de conseguir fazer o time produzir.
    Ou ficaremos na boa e velha história do louvado sétimo ligar no Brasileirão…

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