I
Digam o que disserem, haja o que houver, o fato é que o craque prevalece.
Milhões de brasileiros desde o começo do século XX fizeram do futebol a sua expressão máxima por causa do craque.
Gerações de torcedores são formadas, às vezes até mesmo sem títulos: basta que haja um craque. Um ídolo de raro quilate. Raçudos também podem ser ídolos, mas o craque prevalece. Mesmo que para a reserva de um time como é o caso do Fluminense de hoje.
Esta coluna foi fechada ontem, sem que eu soubesse o andamento definitivo de alguma negociação do Flu com algum outro craque.
Nos últimos dias, parte da torcida tricolor dedicou tempo a questionamentos sobre o futebol de Felipe e Riquelme, craques que vivem o final de suas carreiras (quem tem dúvidas sobe a qualidade técnica de ambos, basta se esbaldar em horas no YouTube), ambos talvez mirados pelo Flu tendo em vista que Deco, nosso senhor craque que alguns queriam ver fora do time desde 2011, não conseguirá jogar todas as partidas de uma temporada cheia e competições. Em tempo: quem quer ganhar muitos títulos tem que ter dois times, não apenas um.
Deco, quando chegou em 2010, praticamente não jogava pelo Chelsea há seis meses. Custou a engrenar, readaptar-se, mas disse ao que veio: quem esteve em Barueri nos 4 x 1 contra o São Paulo viu ao vivo o partidaço que ele fez, jogando praticamente como segundo volante. Com alguns problemas físicos, ainda assim fez uma boa temporada em 2011 e estraçalhou ano passado.
Imaginem se a impaciência tivesse rifado dos torcedores mais jovens a chance de ver um craque como Deco em campo? Como mensurar o hipotético prejuízo?
O Luso é mais um representante de uma longa linhagem de grandes craques tricolores que, ao chegarem em Álvaro Chaves, foram contestados por causa da idade e do suposto pré-fim de carreira – e que, felizmente, foram salvos de um pré-julgamento desastroso. Isso aconteceu com nomes estelares como Gerson em 1972 (quase implorando para vestir a camisa de seu time de coração), Carlos Alberto Torres em 1975 (de volta) e Claudio Adão em 1980 (então com 25 anos (!!), mas já tido como um “fim de linha”, dispensado pela Gávea e se tornando o artilheiro do Fluminense campeão daquele ano, além de um dos jogadores mais técnicos da história do ataque tricolor).
Ah, é bom que se diga: hoje todos tratam Assis com a reverência que lhe é devida e justa (felizmente!), mas ele não era uma unanimidade ao chegar ao clube em 1983 e sua contratação foi bastante dificultada por ele ser um “veterano” aos 30 anos de idade – na verdade, um “contrapeso” na contratação do querido centroavante Washington. Em tempo: até chegar ao Fluminense, tendo passado por times como a paulista Francana, o São Paulo e o Internacional, Assis jamais tinha sido unanimidade em nenhum destes clubes – sua chancela para chegar ao Fluminense baseou-se em seis meses de boa campanha do Atlético Paranaense naquele mesmo 1983, tendo chegado às semifinais da competição. Tudo mudou com o gol no último minuto em cima de Raul.
Imaginem se os preconceitos tivessem alijado da nossa história nomes como Gerson, Carlos Alberto Torres e Claudio Adão? Imaginem se não tivéssemos o Casal 20 em nossa história de glórias porque Assis era “velho”? OBS: aos jovens de hoje, convém explicar que, no futebol até os anos 80, quem chegava aos 30 anos de idade era tido como “acabado”.
Verão de 1995, janeiro especificamente. Praia, sol e todas as manchetes abertas às nações amigas da FlaPress. Nunca houve um pré-campeão tão antecipado na história do futebol carioca como o Flamengo daquele ano. Reconheçamos: em vez das bobagens hiperbólicas atuais, tinham trazido Romário, então o melhor jogador do mundo, craque incontestável aos 29. E mais Branco e Sávio. O Botafogo tinha Túlio no auge. O Vasco, tricampeão com Carlos Germano, Ricardo Rocha, Yan e Valdir. O Fluminense não tinha ninguém. A quase 200 quilômetros de distância, em Búzios, aquele que seria marcado pelo maior gol de todos os tempos curtia sua praia e, quem sabe?, a aposentadoria precoce: aos 32 anos de idade, recém-expulso do Atlético Mineiro, sem perspectivas de jogar em lugar algum, Renato Portaluppi vivia o pior – e talvez último –momento de sua carreira. Mas foi só um talvez; chegou ao clube, fez embaixadinhas de sapato e calça comprida, impregnou cada centímetro das Laranjeiras com garra e escreveu seu nome na história.
Eu jamais me perdoaria se o Fluminense não tivesse sido o campeão do Centenário com o gol de barriga de Renato porque ele era “velho e acabado”.
Sejamos claros: o Fluminense hoje tem um timaço e vai brigar por todos os títulos que disputar em 2013. Isso não significa que não possamos nos reforçar e nem que estejamos muito precisados disso. É claro que os outros times tinham que contratar mais, o campeão é o Fluminense, ora!
Felipe e Riquelme são grandes jogadores, têm qualidades e defeitos, são como todo mundo. O que mais se pensa hoje é que Deco precisará de um substituto em alguns jogos. Alguém disse que Felipe era um velho em fim de carreira no Vasco, sem levar em conta que, em 2012, jogou quase 30 partidas e teve um aproveitamento de pontos de 60%. Alguém disse que Riquelme era um velho em fim de carreira que nunca ganhou nada, naturalmente sem ler: um Mundial de Clubes, três Copas Libertadores, uma Recopa, cinco campeonatos argentinos. Riquelme não joga há sete meses? Deco também não jogava antes de chegar.
O Fluminense é o campeão brasileiro. Tem um time com garra, dedicação e talento. Até aqui não falei de Fred. E precisava? Craque dos craques num tetracampeonato inesquecível.
Caso venha um Felipe, um Riquelme, um Carlos Eduardo, um meia de ligação, não é para “resolver grandes problemas de um time em crise”, mas sim para reforçar e compor o elenco do tetracampeão brasileiro, coisa que muitos ainda não entenderam. Peças de reposição, não soluções mágicas de um problema que inexiste.
Caso venha, caso venham; não vindo, seguimos a vida felizes do mesmo jeito. Muito felizes.
Sou favorável ao craque. Sempre serei favorável. Quando comecei a entender o que era futebol, o Fluminense vestia com sua camisa uma seleção brasileira inteira. Mesmo que seja por poucos jogos, poucos instantes, meia-dúzia de lances genais, o craque já vale. Aliás, com um único lance genial, Riquelme nos tirou da Libertadores em 2012 – e já era “velho”.
Caso me coubesse a decisão de contratar um destes jogadores, eu simplesmente olharia para o passado. Lembraria de Alaércio, Chiquinho, Ribamar, Itaberá, João Carlos, Hélio, Rinaldo, Edvaldo Negão, Rau, Souza Shortão, Marcelo Gomes, Marcelo Sander, Aílton Cruz, Toninho El Bíblico, Luiz Marcelo, Mazola, Rau, Cícero 1992 (“o novo Falcão”), Jerry, Carlão 1999, Joel Cavalo 1999, Betinho 1999, Arinélson, Vanin, Sidney, David, Jean Carlo, Thiago O Lombriga, Josafá, Donizete Amorim, Wellington Monteiro, Fabinho, Fernando Bob, Rissut, Evando, Angelo, Ygor mais cem outros nomes.
E refletiria.
II
Fico realmente impressionado com o tempo que alguns (poucos) torcedores do Fluminense gastaram nos últimos dias desancando os possíveis reforços que viriam para o time – isso como se já não tivéssemos um senhor onze em campo. Quem os lê – desatentamente – no auge de seus quinze minutos mofados pode pensar por um instante que o Fluminense está voltando da segunda divisão ou está há dez anos sem conquistas – o que sabemos ser completamente diferente da realidade.
Mais ainda: todos queremos ganhar tudo, mas o futebol é disputado em competições e há outros adversários também querendo ganhar tudo.
Seja um eterno entediado que acha tudo ruim e tem sempre uma solução mágica para o time via internet. Seja um “categorizado” analista de sentenças com 140 caracteres. Seja um dono da razão e da verdade absolutas, supremas, em caixa alta e baixa educação. Seja um perene insatisfeito: “Ah, falta muita coisa!”. O quê, afinal? A receita da chatice está pronta.
Bons são sempre os outros. “O Fluminense está fraco e não vai ser campeão”.
Ainda bem que não tinham nenhum poder de decisão nos tempos do Canhotinha de Ouro, do Capita do Tri e do Carrasco indomável.
Menos ainda sobre o herói do centenário.
Ufa.
Tomara que em 2013 tenham dias melhores, sem fel nas almas e sem importunar os outros com a verborragia que parece fumaça de cigarro.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Contato: Vitor Franklin
A tua coluna deveria ser publicada no blog da Flusócio. Para fazer zarpar a dúzia de chatos que só sabe desancar a contratação de craques. V. está correto. Sds Tricolores….
Paulo responde: Fernando Bastos, todo o agradecimento. Braxxx.
Aê Andel! Esqueceu em sua relação de “inolvidáveis” nomes tricolores o de Fernando Henrique, o goleiro de pebolim. 😛
Paulo responde: querido Marcio, não falei deste craque do gol porque já fui “muito injusto” com ele, ehehehe.
Grande Andel,
Uma vez mais, outra brilhante análise dos recentes fatos que tanto tem levado ao desespero parte de nossa torcida.
Todo mundo ansioso, também não sei porque, pois, quem deveria estar assim são os mulambos, que não possuem um único time e, ainda estão contratando jogadores de qualidade duvidosa.
Nós não. Estamos APENAS qualificando ainda mais nosso já poderoso elenco. Não estamos desesperados atrás de um salvador da pátria, mas de gente que venha SOMAR.
É aí meu caro Andel que ousarei discordar (uma das raras vezes) de sua opinião.
Não creio que o Felipe venha para acrescentar nada, pois, em seus últimos anos tem se tornado um verdadeiro encrenqueiro e egoísta. Em minha modesta opinião, acredito que teríamos mais problemas do que benefícios ao contratarmos este jogador. Um elenco bem fechado, unido, não acho que seja uma boa opção corrermos este risco.
Porém, também acredito que o craque sempre valha a pena. Por isso, tenho a impressão que a investida no “velho” Riquelme seja positiva, pois, o argentino acrescentaria muita qualidade, experiência em ganhar Libertadores, Mundiais, etc, além da velha catimba argentina, tâo importante para este tipo de competição.
É isto aí meu caro.
Entretanto, se pudesse escolher, ficaria com o Kaká. Mas, se for para optar entre Felipe e Riquelme, não exitaria em escolher o gringo.
Plagiando você, um grande braxx.
Luiz.
Paulo responde: Caro Luiz, pode discordar sempre. A discordância respeitosa é sempre bem-vinda, bem diferente dos chatos de plantão que querem impor suas verdades pessoais. Braxxx.
Esqueci o Ronaldo Alfredo.
Paulo responde: Breno, e teve gente que, quando o Ronaldo Alfredo foi jogar no Bragantino, “lamentou a grande perda”…
Até concordo em alguns pontos!
Mas Felipe só foi craque no império do mal em 2004, e SERIA no FFC em 2005!
Riquelme é craque, Felipe é um bom jogador!
Nem nos bons tempos do Vasco ele era craque, smp foi um bom jogador, que virou “craque” lá no Fra, graças a mídia, a msm mídia que considerou Fellype Gabriel o novo Zico e Diego Mauricio o novo Careca!
Paulo responde: Caro Rogério, como foi possível ler na coluna, discordo em relação a Felipe. ST.
Jorge Rauli, Paulo Afonso, Dacroce, Fanta, Tulica, Sérgio Alves, Claudinho (ponte), Yenai, Dico Maradona, Édson Cimento, Valtair, Osnir, Jason, Cândido, Neinha, Ronaldão da fiel, Zetti, Nélio, Carlos Alberto Dias, Deda, Télvio, Barata, Odvan, Alê…
Paulo responde: “Timasso”. Literalmente.