Tive o prazer de sobrevoar as terras quase inacabáveis da família Zanzibar na região do Pantanal, e desembarcar na sede de uma de suas várias fazendas, para um almoço com o Filho do Homem.
Evidente que antes do banquete não podia faltar o típico chimarrão sob a sombra da varanda. Pássaros de diversos tipos vinham louvar o anfitrião com assobios e cantos.
No meio da conversa agradável, comentei que um conhecido em comum estava fazendo aniversário: Antônio Carlos Gonzalez.
Filho do Conde deu um sorriso e endireitou o corpo na sua cadeira, e então me narrou como acabou conhecendo Gonzalez.
Em uma festa nas dependências do Club. Filho do Conde estava ali decepcionado com a qualidade dos petiscos e da bebida. Além, claro do mal cheiro das colônias baratas (sic). O som estava horrível, e os ouvidos treinados de Filho do Conde para boa música estavam sendo maltratados.
Em determinado momento, ele tomou coragem de ir se aliviar no horrendo toilette oferecido aos convidados. Ao entrar ali, percebeu a presença de um dos ídolos do Club, um ex-jogador cujo nome lhe escapou. Não deu muita atenção, pois idolatria para ele, é um direito concedido aos súditos. Ele sempre esteve entre os que deveriam ser idolatrados.
Foi então que um gigante entrou no apertado local. Filho do Conde já estava saindo, pois havia se arrependido de entrar naquele espaço. O enorme homem caminhou calmamente até um dos horrendos lugares onde todos se aliviavam, independente de classes (motivo pelo qual Filho do Conde havia se arrependido, misturar urina? Jamais.)
Ainda esperando a fila de desconhecidos para sair, escutou então os vitupérios que saíram da boca do louvado ex-jogador. Eram direcionados ao gigantesco homem.
Tratava-se de ninguém menos que Antônio Carlos Gonzalez, que não se fez de covarde e partiu para cima do ídolo, que naquele momento se tornava de barro.
Não foi agressivo, nem violento. Não precisou. Apenas o olhar e as palavras que lhe escaparam dois lábios foram o suficiente para fazer encolher ainda mais o idolatrado ex-atleta.
Seguranças apinharam de todos lados, mas antes de colocarem as mãos em Gonzalez, outra voz silenciou o lugar.
– Tirem as mãos de Gonza.
Era o Conde Francisco da Zanzibar & Zanzibar Hernandes, em carne e osso e cores diversas.
Olhando para os seguranças e para o agora ex-ídolo, fez gesto de mão.
– Saiam.
Segurou o braço de Gonzalez, e saiu com ele.
– Vamos embora. Este lugar está insuportável.
Foram os três, para um restaurante chic da cidade. Conde Zanzibar contou todas as histórias de Gonzalez para o Filho. De toda sua trajetória e sua luta inclusive nos piores momentos do Club no fim dos anos 1990.
A partir dali, Filho do Conde passou a ter estimado carinho por aquele gigante careca.
Após o término desta narrativa uma das dezenas de empregadas da fazenda disse que o almoço estava servido.
Apesar de não beber, brindei com ele. A taça com a minha água com gás tocou a dele, cheia de um vinho caro. Brindávamos a Antônio Carlos Gonzalez.
Parabéns, Gonzalez, que esta data se repita por muitos e muitos anos.