Dois pares de chinelos serviam de traves.
Bola era a “dente de Leite” (assim mesmo) oficial.
Dinheiro contado para o ônibus, o ingresso, um refrigerante ou leite de caixinha CCPL.
Perto dali, os policiais até riam: eram loucos para participar da pelada. Diante do futebol, quase todo homem brasileiro volta a ser criança por um minuto.
Era assim que os garotos de doze ou treze anos como eu viviam no Maracanã há pouco mais de trinta anos, durante a disputa do Torneio dos Campeões de 1982 – cujo merecido campeão, o América, já não era campeão há algum tempo mas tinha um timaço. Numa semana, teve jogos no Maracanã de domingo a domingo: hoje, “o gramado não aguentaria”.
No fim de 1982, nenhum de nós sequer sonhava que, meses depois, o Fluminense teria um dos times mais vitoriosos e encantadores de sua história, a tal ponto que teria um rodízio de técnicos e continuaria a vencer o que viesse pela frente.
As expectativas não eram lá muito boas. Antes de começar 1983, a esperança de gol estava nos pés do jovem centroavante Ferreira, então deprimido por conta de seu apelido e por saudades da Recife natal: ”Piranha”. Fanta. Paulo Lino. Paulo Roberto. Paulo Victor ora jogava, ora ficava no banco. Aldo, inconstante. Zezé Gomes não foi o craque que prometia ser. Tadeu tinha ido embora, Edinho também, Robertinho e Zezé também. Cristóvão não se firmara. Delei era moeda de troca, o Flu louco para se livrar. Mas tinha Jandir, o garoto Branco, um jovem ponta chamado Carlos Alberto que tinha o apelido de Tato, depois vieram Washington e o contrapeso Assis. Deu no que deu: máquina de vitórias.
De lá para cá, muito o que rir e as inevitáveis lágrimas de dor que todos conhecem.
Nos últimos sete anos, o Fluminense alternou grandes títulos com três escapadas do descenso, todas subvertendo a certeza geral vigente. Nos últimos três, alegrias a granel: a “dor” ficou em não ser campeão da Libertadores e não ter conseguido o tetra brasileiro em 2011 – em 2012 ele veio absoluto.
Nada pode ser melhor do que os tempos de criança de juventude. Tive a sorte de ter uma ótima família, amorosa. Outrora rica, depois muito pobre, as coisas não se alteraram do ponto de vista do amor e da criação.
Hoje tem um jogo contra o Volta Redonda, quarta-feira que vem contra o Grêmio. Fosse no passado, lá vinha meu pai com a mesadinha contada, tudo planejado para dar certo caso ele não fosse ao jogo comigo. Era pegar o 434 na Figueiredo Magalhães e atravessar a cidade de Copacabana até a porta da minha amada e inesquecível UERJ.
Agora é tudo bem diferente e, de certa forma, doloroso. As pessoas são rudes, a estupidez humana pipoca a cada esquina, não temos tempo nem para quem morre de sede à míngua na rua do centro de uma grande capital. O importante é agredir nos tempos de hoje.
Mas o Fluminense resiste, felizmente. E será eterno.
Saudades da infância, eu sempre terei. Do velho Maracanã, do futebol com os amigos na geral, da vida com todo o futuro à frente, sempre terei.
Agora, se você me perguntar se é melhor começar uma temporada com Fred, Deco, Felipe, Neves, Sobis, Cavalieri, Jean ou com “Piranha”, Fanta e Zezé Gomes, serei obrigado a dar uma inevitável gargalhada. A crueldade da comparação, as lembranças de antigamente, a mocidade distante, tudo junto faz um caldeirão de risos.
Ganhar dois brasileiros em três anos na força dos pontos corridos ou perder de três do Campo Grande de Luizinho das Arábias, dois da Portuguesa da Ilha com o tricolor Rico no ataque, dois do CSA de Alagoas e seu potente Marciano, tudo no mesmo velho Maracanã. Eu lá, com minha bandeirinha na geral. Um ano depois, tudo mudou para eternamente melhor com Benedito de Assis imortal.
Há quem reclame de hoje, no que reconheço todo direito, mesmo discordando: “O Abel é burro”, “O Neves é burro”, “O time não joga nada”, “Que porcaria!”.
No entanto, uma coisa é certa: nenhum clichê há de superar certa infalível miopia da memória comum.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Contato: Vitor Franklin
Só uma coisa: clap, clap, clap!
E viva á infância!
ST4!
Grande Andel,
Mais um show de bola! Me senti como no filme “De volta para o Futuro”. Quantas peladas na rua, com os gols marcados por nossas sandálias havaianas, com as saudosas bolas Dente de Leite, em plena Vila Isabel/Grajaú.
Também fazia uso do 434, só que no sentido contrário, para ir ao Maraca. Os leitinhos, em formato de pirâmide, da CCPL e o cachorro quente Geneal (salsicha e mostarda).
Tempos maravilhosos e vitoriosos para nós Tricolores (décadas 70/80).
Hoje, graças a Deus retomamos o rumo das grandes vitória e títulos fantásticos.
Acredito que estamos batendo na trave da Libertadores e, apesar de nossa zaga cardíaca e de Carlinhos, acho que em 2013 a possibilidade da bola finalmente “entrar” para o rol dos campeões da Liberta é enorme.
ST e grande braxx, Luiz.
Perfeito! Só quem viveu tudo isso, sabe dar valor ao que vivemos agora. Que esses bons momentos sejam eternos! S.T.
Caracoles: sensacional!
Grande Andel!
Vamos à Volta Redonda?
Heheehe