O maior cronista tricolor de todos os tempos faleceu há 42 anos. Um dos maiores atores brasileiros, hoje de manhã. Pedro Paulo Rangel foi embora no mesmo 21 de dezembro de Nelson Rodrigues.
Ambos tricolores, ambos depois de luta contra longas doenças.
Um dos maiores papéis de Pedro Paulo Rangel na TV foi justamente num clássico de Nelson Rodrigues, “Engraçadinha”, em 1995 – um ano tremendo. Fazia o papel de Zózimo, o marido traído da protagonista, interpretada por Claudia Raia. Em 2012, PP disse ao jornal Extra:
— Zózimo era o chamado corno manso. Do tipo condescendente, meio acovardado. Amava desesperadamente Engraçadinha e fazia tudo por aquela mulher — analisa Pedro Paulo Rangel, que se divertiu com uma particularidade de seu personagem: — Nelson Rodrigues era tricolor e Zózimo não vivia vestido com a camisa do Flamengo por acaso. Era uma forma de ele brincar com os rubro-negros, e eu como tricolor fiquei muito satisfeito.
Nelson Rodrigues morreu pouco mais de 20 dias após o título carioca de 1980, conquistado sobre o Vasco com um gol de Edinho em cobrança de falta. Uma belíssima equipe formada praticamente da base tricolor, que infelizmente durou pouco devido a trapalhadas de dirigentes, mas que deixou pelo menos uma semente para o grande tricampeão de 1983-85: Deley. Naquele 1980, o Fluminense espantava o tabu de não conquistar títulos desde 1976, quatro anos – ainda que tivesse ganho a Taça Teresa Herrera em 1977, um torneio. Três anos sem títulos eram uma crise para o Flu. Mas o cronista maior não tinha do que reclamar: só em seus doze anos finais de vida, Nelson viu o Fluminense campeão em 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1976 e o derradeiro em 1980.
Para Pedro Paulo, ator fantástico e pessoa do mais fino trato, os doze anos finais escapam pelos Brasileiros de 2010 e 2012. Depois, só o Carioca de 2022, importante sim mas muito menor do que no passado. E a Primeira Liga, sinceramente menor do que a Teresa Herrera. Vida que segue.
Depois de cinco anos sem fazer TV, Pedro Paulo Rangel voltou à labuta para o humorístico Viva o Gordo, e aqui cabe naturalmente outro grande tricolor, Jô Soares, protagonista da atração.
Mestre e pupilo, dramaturgo e autor, dois gigantes, Nelson e Pedro Paulo ficam ligados para sempre, não apenas pelo amor e competência no teatro, mas também pelo sentimento tricolor. A grande arte e o Fluminense têm andado de mãos dadas pela história do clube, e é uma pena que seus dirigentes sejam tão insensíveis a este processo, que só valoriza o Tricolor aos olhos do Brasil e do mundo. Muitas vezes os nomes de grande expressão são invisibilizados a favor de picocelebridades de interesse político ou mesmo na esfera profissional das Laranjeiras.
Nelson Rodrigues. Pedro Paulo Rangel. O Fluminense estampado em grandes nomes, de verdade.
PANORAMA VOX – AINDA SOBRE PEDRO PAULO RANGEL
Só um escritor com a sua criatividade e a sua prodigiosa memória, pra associar as datas das mortes desses dois importantes artistas brasileiros. Não deixa de ter uma atmosfera rodrigueana…
Andel: obrigado, mestre.
Só um criativo e atento escritor e homem multicultural para associar ,através dessa data que sua privilegiada memória registra, as mortes desses dois grandes artistas através de um belo texto e de um excelente áudio.
Maravilhoso !
Paulo Andel, vc também é craque.