A expectativa aumenta. Vai começar o mais charmoso campeonato do país! Corta! Parem a cena, suspendam o filme. Este está velho, não é um produto Cinédia. Menos ainda Hollywood. Mas é pura ficção em forma de campeonato.
Materialmente, o campeonato ainda existe, ou melhor, sobrevive. Filosoficamente, o Carioca está morto. Sem charme, sem comando, sem atrativo… Um simples período de treinamentos de luxo para o Brasileirão que se aproxima.
Aceitar a morte, contudo, é algo difícil. Especialmente para as múmias. Estas, só vivem no passado, no retrocesso, enroladas em suas faixas carregadas de mofo. De dentro de seus esquifes, volta e meia aparecem para assustar no mundo dos vivos.
E eis que uma dessas múmias, o Bolsonaro do futebol carioca, consegue seu retorno à capitânia e, aliado a seus saudosos parceiros, prepara “uma noite no museu” para o futebol fluminense. Todos os males do passado, desmandos, perseguições e aquela nostalgia ditatorial volta com força aos salões da federação. O futebol é tão somente um detalhe na mão daqueles que buscam o espaço para mostrar seus pequenos poderes.
Não é só o medo de o futuro bater-lhes à porta. É a incapacidade de lidar com a modernidade. O que dizer para a própria torcida quando não se pode prometer mais que uma luta por uma posição intermediária no campeonato nacional? O que dizer quando falta-lhe a preocupação com uma gestão minimamente comprometida com a pauta que os novos tempos impõem?
Sobram, assim, a empáfia, a bravata e a demagogia. É isso que consentirá ao barco furado no estaleiro a empatia de seus admiradores mesmo diante do naufrágio. Clubes que se apequenam no cenário nacional e agarram-se às suas tumbas regionais como forma de se fingirem ainda grandes. Triste para a grandiosidade verdadeira que detêm.
O Campeonato Carioca sofre com a falta de público há mais de uma década. E a organização do Brasileirão decretou-lhe um final ainda menos glorioso. São inúmeras as causas para isso, sem dúvidas. Entre elas, é claro, está mesmo o preço das entradas.
O ingresso é caro. Infelizmente, achar que a universalização da meia entrada (uma evidente afronta ao próprio direito à meia entrada) vai resolver os problemas do futebol carioca é o ouro de tolo. Vou além da demagogia: cinco reais pela entrada nos jogos do carioquinha ainda está muito caro.
Um campeonato inchado, com esporádicas intervenções de times “do interior”, patrocinados por prefeituras que servem apenas ao jogo político das regiões. Resultado do sufocamento mortal dos “charmosos” do Rio, clubes como Olaria, Bonsucesso, Campo Grande, São Cristóvão e América (apenas para citar alguns). Todos esmagados ao longo do tempo pelos interesses políticos e pelas influências mesquinhas que há décadas tomam conta do futebol do estado.
Um certame de baixíssimo nível técnico, com times formados pela juntada de ocasião de jovens despreparados a ex-jogadores em atividade. Alie-se a isto o pouco tempo para uma pré-temporada dos grandes, preocupados – salvo exceção – com o campeonato nacional vindouro.
A própria tevê joga contra o espetáculo, transmitindo jogos para a praça onde são realizados. Cada vez mais há fuga de espectadores para campeonatos europeus – até mesmo fora dos grandes centros – apenas porque o espetáculo é melhor.
O interesse só chega quando há confronto entre os grandes. E, ainda assim, por conta da rivalidade, nada mais. Perder pontos para os “pequenos” é vergonha, não mérito do adversário. Raras exceções feitas ao imponderável que cerca o futebol, nenhum desses jogos regionais é digno de ficar para a história.
Enfim, como um zumbi de cinema trash, o Carioquinha volta. Comendo cérebros – em especial dos dirigentes – e propagandeando seu funeral em forma de renascimento. E a disputa mais empolgante é sobre o lado que uma torcida ocupará no estádio que não será usado no campeonato. Um viva às múmias.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Foto: lancenet.com.br
#SejasóciodoFlu
Rods comenta:
O Carioca 2015 poderia ser um filme. “A Volta da Múmia” ou “A Maldição da Múmia”. Difícil é garantir o final feliz. Próxima vez que formos à Disney, proponho trazer algum dos seus roteiristas.
ST, sir Walace!