Maracanã 2013 (por Ernesto Xavier)

maracana novo

Dois momentos:

1. Final do carioca de 1994. Fluminense x Vasco. Eu tão pequeno ao lado daqueles gigantes à espera do sinal para seguir em frente. Estava ao lado dos jogadores do Fluminense na saída do vestiário para entrar em campo. Era mais um dos mascotes que em tantos jogos seguem os jogadores, formando novos torcedores. Na saída do túnel ao vislumbrar aquele campo enorme, só pensei em correr, dar cambalhotas, gritar para a torcida. Sensação tão boa. Emoção de criança que jamais será alcançada na vida adulta. As coisas da infância tem potencial para a eternidade.

2. Fla-Flu em 1995. Não o tão famoso jogo do gol de barriga e sim um anterior, no mesmo campeonato, em que vencemos por 4 a 3. Caminhava ao lado de meu pai pelos corredores do Maracanã à procura da melhor entrada para a arquibancada. Não entendia o porquê de tanta dúvida. Eu queria ver o campo logo e pronto. Entramos e sentia aquele lugar com certa magia. Era enorme o campo! Era gigantesco o estádio. Era magnífica a torcida. Do jogo lembro que estivemos sempre atrás no placar, até que empatamos em 3 a 3… e depois viramos.

O Maracanã forjou minha vida de torcedor.

Estar distante dele sempre foi como me separar de um grande amigo que foi morar em outro estado. A torcida não era a mesma sem ele. O time muito menos. Eu me sentia diferente, estranho, com algo faltando.

Agora sinto que nada mais será como antes…

Não falo de um saudosismo tacanho, que se agarra ao obsoleto somente porque acha o passado sempre melhor. Não!

O Maraca está lá. Moderno, cheirando a novo, confortável.

Mas não é ele.

Nunca mais “trocar de lado” quando o jogo passa para o segundo tempo. Nunca mais a acústica perfeita para amedrontar os adversários com nossos cânticos. Nunca mais a geral e os geraldinos. Nunca mais aquele campo enorme, que dava ao craque mais espaço para a sua arte. Nunca mais assistir o jogo em pé em cima da cadeira. Nunca mais tantas coisas…

Outras histórias e dinâmicas se formarão nesse novo estádio, que tem o mesmo nome, mas não a mesma alma.

Ainda assim o amarei.

Ainda assim me sentirei em casa. As novas gerações terão outro sentimento, pois não guardam, como eu, as sensações do majestoso Maracanã de outrora a abraçar os tricolores em suas toneladas de concreto e metal.

Quem seremos daqui pra frente?

Maiores? Melhores?

A tecnologia e os avanços de todas as ordens vieram para nos padronizar? A arquitetura de nossos estádios de “padrão FIFA” dão uma sensação de “mais do mesmo” a todos eles. Se colocassem cadeiras vermelhas no Maracanã eu poderia dizer que era o Mané Garrincha ou qualquer outro Mineirão, Arena Pernambuco… A Copa vai passar e nós permaneceremos aqui, torcendo por nossos clubes em estádios sem alma brasileira. Dar conforto e segurança não quer dizer retirar a identidade. A diversidade é uma característica do nosso povo e de certa forma se expressava na arquitetura dos estádios.

Perguntem aos argentinos de La Boca se eles querem uma Bombonera “padrão FIFA”?

Não adianta estender minhas lamúrias, pois o que está feito não poderá mudar. Não muito. Este é apenas um desabafo de alguém que cresceu amando um lugar e tantas vezes o viu sendo mutilado.

É bom? É.

É bonito? É.

Confortável? Com certeza.

É o Maracanã que viu o milésimo de Pelé, o elástico de Rivelino, as pernas tortas de Garrincha, o voleio de Bebeto, os dois gols de Romário no Uruguai, a bicicleta de Marcão?

Não.

É outro ainda em busca de uma cara, uma identidade, uma alma.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: estadao.com.br

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1 Comments

  1. Perfeito,
    Por melhor que seja o estádio, o conforto e a beleza, sempre faltará o maracanã na arena…. só quem viveu e entrou por aqueles corredores estreitos que davam acesso as arquibancadas sabe a grande emoção que sentíamos ao ver o enorme estádio e campo!!

    ST

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