Mais uma canelada do “craque” Neto (por Flavio Souza)

Em seu programa diário sobre futebol de grande audiência e transmitido em TV aberta, o apresentador, que se autodenomina craque, deu uma verdadeira canelada ao vivo. Com uma camisa tricolor em mãos, afirmou que o Fluminense é um clube racista, pois obrigava seus jogadores negros a fazer uso do pó de arroz de forma a esconder a cor de sua pele.

Infelizmente ainda encontramos essa mentira sendo espalhada nas redes sociais, principalmente repetida por torcedores dos nossos adversários locais. O que causa espécie é ver esse tipo de coisa sendo repetida em TV aberta.

Seja por desconhecimento ou com o objetivo de difamar o clube e seus torcedores, esse tema merece que não deixemos pedra sobre pedra no restabelecimento da verdade dos fatos.

No ano de 1914 o jogador negro Carlos Alberto do America transferiu-se para o Fluminense e no dia 13 de maio do mesmo ano enfrentou pela primeira vez seu ex-time. A torcida do America, ressentida da sua transferência e de forma a provocar seu ex-jogador, proferiu gritos de “pó de arroz” durante a partida. Era sabido que o jogador utilizava talco desde seu tempo no America.

Na década de 1910 ainda não haviam muitas opções de produtos dermatológicos para homens, e era muito comum que fosse utilizado o talco como uma forma de reduzir as irritações na pele do rosto após fazer a barba. Não há notícias de que talco ou pó de arroz um dia tenham sido utilizados algum dia para disfarçar a cor da pele.

A torcida do Fluminense levou tanto na esportiva essa provocação que adotou o pó de arroz como um símbolo que tem frequentado as arquibancadas há mais de 100 anos. Um grande, senão o maior, representante dessa tradição foi o Careca do Talco, que frequentava as arquibancadas do Maracanã vestido com a bandeira do Fluminense nas costas e coberto de talco jogando o produto por onde passasse. Quis o destino que Guilhermino dos Santos, seu verdadeiro nome, nos deixasse em 2002, ano de centenário do Fluminense, aos 68 anos de idade.

Carlos Alberto nem foi o primeiro negro a jogar do Fluminense. Em 1910 o jogador Alfredo Guimarães atuava como meio campo e participou de uma partida oficial, a vitória de 4 a 1 sobre o Rio Cricket pelo Campeonato Carioca.

É claro que havia muito racismo ainda na década de 1910 e infelizmente ainda não conseguimos nos livrar desta chaga até os dias de hoje. Precisamos nos manter combatendo incansavelmente este e outros preconceitos, mas não podemos aceitar que acusações infundadas e difamatórias sejam feitas impunemente.

O Fluminense enquanto instituição precisa buscar reparação, seja através de um direito de resposta a ser dado no mesmo programa, seja através da via judicial.

Depois da terrível fala houve alguma mobilização de protestos nas redes sociais e hoje o apresentador apresentou de forma muito tímida e pouco sincera seu pedido de desculpas. Disse que passaria um vídeo de um minuto contando a história mas acabou mostrando cerca de 10 segundos de parte de uma fala do grande atleta e ex-presidente do Fluminense Marcos Carneiro de Mendonça contando a história de como surgiu o pó de arroz.

Cabe agora aos gestores e à área jurídica do clube avaliar se retratação foi suficiente e buscar a reparação se julgar necessário.

O silêncio ou a falta de ações enérgicas inevitavelmente acabam servindo como combustível e incentivo para a propagação dessa mentira indefinidamente.

É preciso reagir.