Mais do mesmo (por Pedro Machado)

fred supersportes flu x tupi

O assunto da nossa conversa da semana infelizmente não poderia deixar de ser outro.

A confusão Fred x Organizadas é um assunto polêmico, chato e repetitivo, que traz à tona velhos problemas da nossa torcida e da sociedade como um todo.

O que se viu no último dia 10 de Abril no Maracanã não foi um fato isolado; já aconteceu diversas vezes na arquibancada tricolor.  E quando eu digo diversas vezes, não estou me referindo a casos recentes como o Fluminense x São Paulo em 2008 e a alguns jogos do ano passado.  Este é um problema muito antigo, muito antes mesmo até do surgimento da Legião Tricolor, no final de 2006.  Lembro muito bem de um jogo contra o Corinthians em 2004, onde o Romário discutiu com um membro da TO Young Flu durante a semana, e foi vaiado e perseguido o jogo toda pela Organizada.  Já aos 42 do segundo tempo, a bola sobra para o Baixinho e… caixa! Toda a arquibancada se virou para xingar a Young.

Não é segredo para ninguém, que as Torcidas Organizadas – não só as do Fluminense – abrigam alguns sujeitos das piores espécies. Bandidos travestidos de torcedores, que mamam nas tetas do clube e fazem disso o seu meio de sobrevivência. Quem tem um mínimo conhecimento de arquibancada sabe disso; seria hipocrisia dizer que não. Muitos desses não estão nem aí para o clube, querem é faturar e brigar.  Já ouvi de um amigo meu, ex-integrante da Raça Rubro Negra, que em dia de clássico ele ia para o jogo só para brigar. Ia, brigava, roubava e voltava pra casa, nem entrava no estádio. Sinceramente, se você acha isso normal pode parar de ler este texto aqui mesmo e vá se tratar.

O “modelo” atual das torcidas organizadas no Brasil, é ultrapassado e fadado ao fracasso. Perdeu totalmente a sua essência, que era torcer e cantar pelo seu clube. Só querem saber dos seus próprios interesses e tentam “destruir” quem estiver pelo seu caminho, mesmo que para isso tenham que não comemorar um gol do seu próprio clube, que nada mais é que do que a razão da sua existência. Gostam de gritar aos quatro cantos, “acompanhamos sempre o Fluminense, viajamos para todo lugar, blá blá blá…” Amigo, com avião, estadia e ingresso, até minha avó. Este “modelo” afasta cada vez mais o torcedor comum, o vulgo “povão”. E é este “povão” que acompanha o time desde 1902. Sem ele, a torcida organizada não é nada.

Todo cidadão que vai ao estádio tem direito de vaiar e criticar quem ele quiser. Como diria o grande Nelson Rodrigues, “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”, e na minha opinião acho que às vezes uma bela vaia cai bem para muitos jogadores. No caso do Fred em particular, acho que ele merece sim ser mais cobrado que os outros, por tudo que ele representa e tudo que nós sabemos que ele pode render. No ano em que ele mais se dedicou (2012), foi artilheiro e melhor jogador do campeonato nos levando ao título – e é este jogador que nós queremos. Porém isso não dá direito a ninguém, de impor sua vontade perante do outro, muito menos de agredir alguém. O seu direito termina quando começa o meu.

Falando em Fred, todos nós sabemos que ele é meio fanfarrão, já fez muita cagada e não é nenhum santo. Aliás, que jogador que é?  Porém, a sua atitude foi pra lá de corajosa e admirável. Pôs o dedo na ferida, e propôs a toda imprensa brasileira um debate amplo sobre o assunto. Seria muito mais fácil pra ele tentar “fazer” as pazes com a torcida indo lá comemorar um gol fazendo um daqueles ridículos gestos destas facções, ou até mesmo agindo na surdina patrocinando festinhas e churrascos em troca de apoio, como já fizeram e ainda fazem muitos “ídolos” espalhados por aí. Foi um gol de placa.

Tenho certeza que muitos dos que apoiaram o Fred nesta polêmica também têm muitas restrições ao atacante. Entendo a atitude da maioria esmagadora da torcida como um “basta”. Chega de repressão, chega de violência, chega de marginas dizendo como eu tenho que me comportar na arquibancada. Pago o meu ingresso, faço o que eu quiser.

Vejo este momento como uma excelente e talvez única oportunidade da diretoria do clube intervir e mudar totalmente este modelo atual. A mídia está toda em cima e nos apoiando. Porém, será que esta mesma diretoria que foi totalmente omissa quando nosso Fluminense foi massacrado e achincalhado por toda imprensa de forma covarde no caso “Lusagate”, vai se movimentar agora.  Pago pra ver.

E se seu porteiro demorasse a abrir o portão da garagem, você bateria nele?

E se o gari que limpa a sua rua não varresse direito a sua calçada, você o ameaçaria?

E se seu funcionário não lhe entregasse o relatório a tempo, juntaria uns amigos e cercaria o carro dele?

Pense bem. Nada justifica a violência.

Viva o povão, viva a verdadeira torcida do Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

NOTA: Atendendo os critérios de democracia, liberdade de expressão e pluralidade que sempre pautaram esta casa, bem como o trabalho dos cronistas e colaboradores, o PANORAMA TRICOLOR oferece pleno espaço para o contraditório que se faça justo e necessário publicar em relação aos pontos de vista livre e individualmente expressos por nosso colunista Pedro Machado, bem como as demais, bastando tão somente o respeito às regras básicas de urbanidade. Esta é uma casa de todos os tricolores, incluindo as centenas e centenas de membros de torcidas organizadas que fazem jus ao respeito como pais, estudantes, profisssionais e pessoas que não estão de forma alguma alinhadas com práticas criminosas. O mesmo vale para o jogador Frederico Chaves Guedes, o Fred. 

Paulo-Roberto Andel – Editor

3 Comments

  1. Como mesmo disse meu amigo Pedro ” até os que tem muitas restrições quanto ao Fred”. Sustentar torcida organizada a troco de quê? Essa pergunta eu me fiz, me faço, e tomara que eu pare de fazer breve. Com ingresso, avião e hotel financiado por terceiros é fácil. ST.

  2. As TOs tem todo o direito de se manifestarem como quiserem. Tanto na hora de comemorar o gol, quanto na hora de cobrar os jogadores que bem entendem. Transparecer o seu pensamento, seja ele a favor ou contra de jogador X, Y ou Z é totalmente válido e TODOS dentro do estádio podem e tem o direito de fazê-lo. No entanto, o mesmo deve ser feito respeitando-se a opinião do próximo, SEM VIOLÊNCIA, SEM COAÇÃO, SEM AMEAÇA. Afinal, isso é Fluminense ou não é??? ST.

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