Mãe & Flu (por Paulo-Roberto Andel)

A rigor, tirando a infância quando minha memória ainda não registrava, em 1974, minha mãe foi comigo ao Maracanã duas vezes. Uma contra a Internacional de Limeira, outra contra o CSA. Jogos que só a mãe ampara um filho. Ambos vazios. Eu achei legal ela ir comigo. Coitada, foi porque se preocupava comigo e porque meu pai não foi.

Ela dizia que era Flamengo, mas nem ligava. Acho que era mais para irritar o Helio. Um belo dia, lá pelos anos 1990, me disse que virou Fluminense porque sabia do meu amor e queria fazer parte daquilo. Mãe não tem igual.

Ela adorava aqueles flashs da TV antes do jogo, com a arquibancada tímida e o gramado ensolarado. Amava o verde, a grama.

Fez uma bonita bandeira do Flu pra mim, que eu queria achar. Costurou escudos do Flu em camisetas Hering brancas para que eu usasse e me sentisse em campo. Trabalhou muito, muito, e a cada pagamento suado, tirou um pedaço para me dar botões de presente, muitos do Flu. Corria para a cozinha e preparava o almoço mais cedo quando eu e meu pai íamos para o jogo.

Era visível que ficava contente quando eu estava contente com uma vitória do Flu. Por dez anos, tivemos nossa mini torcida organizada em casa: eu, ela, meu pai e meu irmão, todos tricolores. Era muito bom aos domingos e quartas. O tempo passou, meus pais morreram, meu irmão foi embora e eu fiquei sozinho para caminhar pela história.

É o ciclo natural da vida e, às vezes, há filhos que não podem conviver muito tempo com os pais, mas é muito difícil ser órfão em qualquer momento da vida. Eu convivi por quase 40 anos, mas não há um dia que eu não não sinta a dor da ausência. E foi a dor pela morte dos meus pais que me fez escrever loucamente sobre o Fluminense. Era para aliviar a dor, a tristeza, mas quinze anos depois não aliviou nada. Bom, pelo menos os livros estão na Biblioteca Nacional e no Museu do Futebol, pouco me importando se os dirigentes e seus capachos desprezam minha obra, porque eu os desprezo da mesma maneira. O que me importa é que tudo foi escrito – e bem escrito – com amor.

Este Dia das Mães vai ser diferente. O Fluminense enfrenta o Palmeiras, era o jogo preferido da minha mãe. Torcia pelo Flu e gostava do verde palmeirense. Fico pensando em como estaria aqui perto das quatro da tarde. E se estivesse a turma toda? Que felicidade seria. Depois a gente pedia uma pizza e todo mundo ficava contente.

Não espero muito do jogo, exceto dignidade. Quando jogava, o Diniz foi importante naquele 6 a 2 histórico no Parque Antártica. Tudo passou rápido demais.

Penso na minha mãe, no escudo e na bandeira. Nos botões, nas camisas costuradas. No sorriso dela há 40 anos, quando nem 40 anos tinha e me chamava de pequenininho. Naqueles jogos contra Inter de Limeira e CSA. Num lindo time de botão de presente. Mesmo que seja o momento mais difícil da minha vida, com tudo a perder, vai ter um jogo e vou pensar na minha mãe. Isso é mais importante do que embustes empresariais e lances de patifaria envolvendo contratações e escalações. É mais importante do que patetas com melancias na cabeça em troca de likes, ou verborragias ocas para querer igualar a Sul-americana com a Libertadores.

A minha mãe virou Fluminense para me fazer feliz. Eu fui. Muito.

Ela dizia “Agora sou Nense!”

A todas as mães, tricolores ou não, meu apreço e consideração. Que tenham um dia de paz e felicidade. O mundo precisa disso. Precisamos ser pessoas melhores, mesmo em nosso caminho inevitável para a morte. O mundo só muda para melhor se as pessoas fizerem o bem. Discurso só não basta.

Onde quer que esteja, minha mãe está em mim. Ela é meu escudo do Fluzão.